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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
BRASIL - Em 2021, a inflação voltou a pesar no bolso dos brasileiros — e na economia. O aumento generalizado de preços foi resultado de uma combinação de fatores negativos: alta do dólar, valorização global do petróleo e seca, que levou a uma quebra de safras no campo e ao aumento dos preços de energia.
Nos 12 meses até novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 10,74%. No mês, chegou a 0,95% — a maior taxa para novembro desde 2015. Para 2022, o mercado financeiro prevê uma inflação acima de 5% e o estouro da meta pelo segundo ano seguido.
"Se a gente somar a participação de todos os energéticos [elétrica e derivados], encontramos quase 50% do resultado geral do IPCA", analisou o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Na prática, a inflação implicou na queda do poder de compra da população, em reajustes salariais sem ganho real e no aumento da pobreza no país. Com isso, muitos brasileiros tiveram dificuldades para adquirir itens essenciais da cesta básica, como arroz, feijão e carne, o famoso prato feito.
Após ter disparado 14% em 2020, o preço dos alimentos continuou em alta este ano e subiu mais 7% entre janeiro e novembro, segundo o IBGE.
No campo, problemas climáticos contribuíram com a elevação dos preços, como a seca prolongada e as geadas, que prejudicaram colheitas importantes no país.
"O choque dos preços dos alimentos foi o mais emblemático deste ano. A Ana Maria Braga voltou a usar o colar de tomates [para discutir a alta de preços em fevereiro] e o país enfrentou uma disparada no valor das carnes", disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
Além disso, a menor oferta de bovinos pressionou os preços da carne — fazendo com que o alimento se tornasse uma especiaria no prato da maioria dos brasileiros e, em casos extremos, levassem pessoas a buscar ossos descartados por frigoríficos. Alguns supermercados chegaram a vender a proteína animal com alarme antifurto.
Alguns dos alimentos que tiveram mais alta de preço em 2021 foram frango, ovos, carne bovina, açúcar, café e tomate. O óleo de soja, por sua vez, que dobrou de preço em 2020, desacelerou a alta.
Em novembro, o grupo "Alimentação e bebidas" registrou deflação (-0,04%). Segundo o IBGE, o resultado se deve ao custo da alimentação fora do domicílio (-0,25%). As quedas mais relevantes foram nos preços do leite longa vida (-4,83%), do arroz (-3,58%) e das carnes (-1,38% no mês, mas com avanço de 6,98% no ano).
Por outro lado, houve aumentos em novembro nos preços da cebola (16,34%), café moído (6,87%), açúcar refinado (3,23%), frango em pedaços (2,24%) e queijo (1,39%).
Ossos e fragmentos de arroz e feijão entram no prato do brasileiro
A valorização do dólar frente ao real encareceu os produtos importados que chegaram ao Brasil, como combustíveis, bens duráveis e boa parte dos componentes fundamentais para a indústria, por exemplo.
As exportações também se tornaram mais lucrativas e atraíram os produtores nacionais, que preferiram exportar os alimentos produzidos aqui do que vender para o mercado interno. Neste caso, vale a lei da oferta e da procura: se faltam produtos e sobra demanda, o preço sobe.
É por este motivo que o Brasil vive um período de alta inflação e baixa atividade econômica ao mesmo tempo, explicou André Braz, da FGV: "A demanda aumentou fora do Brasil, fazendo com que os preços subissem por aqui também".
Até o último dia 21, a moeda norte-americana acumulava valorização de 10,63% frente ao real desde o início do ano.
Inflação e dólar em alta afetam produção de bens duráveis no Brasil
Um dos motivos para a disparada da inflação neste ano foi a crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, resultado de um baixo volume de chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia no país.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) foi obrigado a acionar as usinas termelétricas para garantir o fornecimento de energia neste ano. As térmicas, porém, são mais poluentes e caras, o que elevou o custo de geração de energia em 2021, repassado aos consumidores por meio das bandeiras tarifárias.
A última bandeira foi definida em agosto: a "tarifária escassez hídrica", que adiciona R$ 14,20 às faturas para cada 100 kW/h consumidos. Ela vale até hoje no Brasil, com exceção das famílias de baixa renda.
Em novembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que a conta de luz dos consumidores incluídos na Tarifa Social de Energia Elétrica passaria a ter bandeira tarifária verde — a mais barata.
No IPCA de novembro, custos com habitação foram novamente pressionados pela energia elétrica (1,24%). Os gastos das famílias neste segmento acumularam uma alta de 31,87% nos últimos 12 meses.
Alta na conta de luz provoca redução na iluminação de Natal
Os principais vilões da inflação de 2021 foram os combustíveis, por conta da alta do dólar e maior demanda global por petróleo. E se engana quem acredita que não foi afetado porque não tem carro: a alta da commodity afeta diretamente o setor de transportes e logística — influenciando os custos de praticamente todos os setores da economia.
O barril está supervalorizado, em grande parte, porque quando a pandemia começou, no início de 2020, os países que mais exportam petróleo reduziram a produção. Na época, diminuir a oferta foi uma forma de evitar que o preço do barril caísse muito. Este ano, com a retomada das atividades, a procura aumentou, mas a produção ainda não. O que tem para comprar ficou mais caro e em dólar, explicaram os economistas.
Em 12 meses até novembro, os combustíveis subiram, todos eles, mais de 40%. No caso do etanol, a alta acumulada chegou a quase 70%. Já a gasolina subiu 50% no período, segundo o IBGE.