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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
A Petrobras vai completar nesta quarta-feira (2) 50 dias sem reajustes nos combustíveis, enquanto a guerra na Ucrânia continua pressionando o mercado de petróleo. O barril do tipo Brent fechou a segunda-feira (28) em U$$ 97,97, depois de voltar a ultrapassar US$ 100, flutuação que pode provocar um aumento nos preços do Brasil em breve, segundo especialistas ouvidos pelo site. No entanto, eles apontam que o cenário de inflação alta e eleições presidenciais deve influenciar a Petrobras na ‘equação’ da paridade de valores com o mercado internacional.
Para o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, a Petrobras já não vem conseguindo cumprir a política de paridade. Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o mercado abriu nessa segunda-feira com uma média de defasagem de R$ 0,44 no litro da gasolina e R$ 0,43 no diesel.
“A gente está falando de um cenário em 2022 que começa a aumentar a inflação, a expectativa do mercado continua aumentando, e o cenário de eleição dificulta um possível desempenho do presidente para se reeleger”, pondera.
Em relação às ações da Petrobras, se o preço do óleo pode atrair investidores em um primeiro momento, Imaizumi acredita que o conflito no Leste Europeu pode trazer efeitos diversos se persistir. “Em um cenário de incerteza, os agentes econômicos começam a procurar por ativos considerados mais seguros, como moedas fortes, treasuries do Tesouro norte-americano e ouro”, indica.
Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, consultoria do mercado de energia, Adriano Pires avalia que a Petrobras pode se beneficiar da flutuação internacional, já que exporta óleo. No entanto, também questiona se o governo conseguirá manter a paridade.
“Eu espero que mantenha, mas se for para um preço estratosférico, o que é factível e vira uma excepcionalidade, eu acredito que o mundo inteiro não vai querer repassar o preço para o consumidor”.
Para Pires, o conflito no Leste Europeu deve acelerar, no Congresso, a tramitação de projetos para estabilizar o valor dos combustíveis. Um deles determina uma alíquota unificada e de valor fixo para o ICMS, já outro cria uma conta de financiamento para conter a volatilidade dos preços. O Senado adiou a votação de ambos para após o Carnaval.
O economista ainda sugere ações emergenciais se o conflito no Leste Europeu prosseguir, como um maior investimento da Petrobras em ações sociais, como auxílio para caminhoneiros e subsídio ao transporte coletivo urbano.
No entanto, Adriano Pires analisa que a proximidade das eleições no Brasil e a flutuação provocada pela guerra na Ucrânia prejudicam o debate por soluções. A mesma avaliação tem Luciano Losekann, professor e coordenador do Grupo de Energia e Regulação da Universidade Federal Fluminense.
“É uma discussão que vem se arrastando há muito tempo. Desde a greve dos caminhoneiros, já se sabia que a paridade internacional era uma dificuldade política. A solução que deram naquele momento foi muito ruim, de um subsídio que não é sustentável, uma ideia de tabelamento, que hoje não podemos considerar como solução”, colocou.
O pesquisador lembra que o mercado de petróleo já vinha pressionado pela escassez de oferta durante a pandemia de Covid-19 e, agora, acumula o efeito da guerra na Ucrânia. Ele vê com bons olhos o projeto que tramita sobre o ICMS e destaca o ponto da tributação como central no debate.
“A estrutura de impostos brasileira acaba concentrando a volatilidade. As alíquotas que incidem aumentam a volatilidade quando chega ao consumidor, somando a variação do preço, do câmbio. Os impostos deveriam agir de forma contrária, para tentar amortecer esse impacto”, defende.
Ele ainda lembra que o ataque da Rússia à Ucrânia deve provocar efeitos semelhantes ao petróleo no mercado internacional de gás.
Apesar de apontar a defasagem nos preços dos combustíveis, o presidente executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, Sérgio Araújo, acredita que a Petrobras não conseguirá repassar todos os reajustes do mercado internacional, mas cobra uma política pública de normatização.
“Com a defasagem muito elevada e com a Petrobras atendendo o mercado nacional com preços baixos, as empresas privadas estão fora das operações, as importações estão totalmente inviáveis”, afirma.
A estatal divulgou que mantém a postura divulgada em coletiva na semana passada, quando o diretor de Comercialização e Logística da estatal, Claudio Mastella, disse que a empresa acompanha a movimentação e a flutuação dos valores para pontuar possíveis consequências.