Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 13 de abril de 2025
BRASIL: A banda de rock Ira!, que teve quatro shows no Sul do Brasil cancelados por motivações políticas, já se envolveu em algumas polêmicas desde a sua criação, no início da década de 1980. O grupo e seus dois principais componentes, o vocalista Nasi e o guitarrista Edgard Scandurra já foram acusados de preconceito contra os nordestinos devido à música “Pobre Paulista”, um dos maiores sucessos da sua carreira.
Entre muitos desmentidos sobre o significado da letra, Nasi e Scandurra já admitiram em algumas oportunidades que a música teria um cunho preconceituoso, que só foi percebido posteriormente. Diante disso, o grupo parou de tocar a canção em seus shows há cerca de duas décadas. Outra polêmica que sempre acompanhou o Ira! é em relação ao apelido do vocalista, que seria uma alusão ao nazismo. Fato desmentido inclusive pelo posicionamento político de esquerda que sempre acompanhou a banda.
A música “Pobre Paulista”, de autoria de Scandurra, inicialmente fazia parte do repertório do grupo Subúrbio, em que o guitarrista tocava. A canção foi posteriormente gravada pelo Ira!, já em seu compacto de estreia, no início dos anos 1980.
E os versos polêmicos da primeira parte da música logo chamaram a atenção do público. A letra com a estrofe “não quero ver mais essa gente feia, não quero ver mais os ignorantes, eu quero ver gente da minha terra, eu quero ver gente do meu sangue” foi considerada por algumas pessoas como um verdadeiro hino contra uma suposta “invasão” nordestina da cidade de São Paulo.
No entanto, desde que o “hit” passou a ser tocado nas rádios e nos shows da banda, Scandurra sempre negou esse suposto cunho xenofóbico da música. O músico sempre afirmou que, quando escreveu a música, aos 17 anos, ele queria “atacar” os governantes que “oprimiam” a juventude paulistana. A gente feia, os ignorantes, seriam, portanto os políticos que dirigiam a cidade, o estado e o Brasil, no período final da ditadura.
Entretanto, anos depois o guitarrista admitiu que a letra pode ter outras interpretações. Além disso, ele chegou a afirmar que, na época em que compôs a música, sentia um descontentamento juvenil com a forte presença nordestina na cidade.
Diante dessa polêmica, o grupo decidiu, em meados de 2005, retirar a música de todas as suas apresentações a partir de então.
A outra grande polêmica que acompanha o Ira! há mais de quatro décadas é em relação ao apelido do seu vocalista. Batizado como Marcos Valadão Ridolfi, Nasi ganhou o apelido, que se tornou nome artístico, ainda na adolescência. Ele afirma que passou a ser chamado assim por seu comportamento de “valentão” no colégio em que estudava na época. Tudo por conta de uma série de TV de grande sucesso na época, final dos anos 1970, chamada “Holocausto”. Seus colegas então associaram a sua valentia aos violentos nazistas que apareciam no seriado e passaram a chamá-lo de Nazi.
A ironia do apelido deve-se ao fato de que Marcos era um adepto do movimento punk, nada tendo em comum com a ideologia de extrema direita de Hitler e seus aliados. Até por isso é que ele passou a adotar a grafia com “s”, adotando de vez o nome Nasi a partir do segundo disco do Ira!.
Apesar do apelido que remete ao nazismo, o vocalista sempre foi ligado à esquerda. Tanto que é filiado ao Partido Comunista do Brasil há mais de 20 anos.