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porto velho, sábado 28 de junho de 2025
Nos últimos dias, parte da imprensa protagonizou um verdadeiro vexame ao tentar defender o governo federal no caso da brasileira Juliana Martins, morta na Indonésia após cair de penhasco. Diante da comoção nacional e dos apelos da família para trazer o corpo de volta ao Brasil, certos jornalistas correram para justificar a inércia oficial, alegando a existência de uma “lei” que impediria o Estado de arcar com os custos do translado.
A narrativa, repetida com convicção em redes sociais, colunas e até em grandes portais, soou conveniente para isentar o Itamaraty e o presidente Lula de qualquer responsabilidade. Mas a versão durou pouco. Em um giro de 180 graus, o próprio Lula ordenou que o governo pagasse pelo transporte do corpo, desmentindo, por tabela, a tal “lei” que os defensores do Planalto juravam existir.
Com a decisão presidencial, os jornalistas que tentaram blindar o governo acabaram desmoralizados. A ânsia em proteger o poder falou mais alto que o dever de checar os fatos. Nenhum documento oficial foi apresentado, nenhum trecho legal citado com precisão – apenas suposições travestidas de informação para conter críticas e preservar a imagem do Executivo.
O caso expôs um problema recorrente no jornalismo militante: a substituição da apuração pelo ativismo. Quando o compromisso é com um projeto de poder e não com a verdade, o resultado é o descrédito. E quem mais perde é o público, que se vê refém de versões e não de fatos.
Se há algo que esse episódio escancarou é que a imprensa, para manter sua relevância, precisa de independência – inclusive (e principalmente) diante dos governos que admira. Caso contrário, torna-se apenas um departamento de propaganda disfarçado de jornalismo.