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​Potencialidades para Rondônia são avaliadas por professores...Confira a entrevista da semana


Publicada em: 27/06/2018 12:02:07 - Atualizado


Com um trabalho iniciado nos anos 2000, os professores doutores Edson Aparecida de Araujo Querido Oliveira e Monica Franchi Carniello, responsável pela turma de mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (Unital) estão no Estado de Rondônia.

Fotos: Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Segundo os professores, com a dedicação aos estudos já é possível perceber a trajetória de desenvolvimento de Rondônia em vários aspectos, sobretudo por estar localizado numa região de novas oportunidades, fronteira de negócios, principalmente pelos países latino-americanos.

De acordo com Edson Oliveira, Rondônia é um dos estados que mais cresce na Federação. Entre outros segmentos, percebe-se que ele se desponta no agronegócio, mas que ainda pode abrir “os olhos” para outras áreas como, por exemplo, a energia, a inovação no agronegócio com a implantação de infraestrutura de máquinas pesadas. “Tudo isso é abre uma fronteira de estudos para a gente. Sem contar também, com as questões sociais, levando da premissa que a construção das Usinas [Jirau e Santo Antônio] gerou um desequilíbrio social significativo no Estado, sobretudo na Capital e região metropolitana. E, isso reflete nos nossos estudos e conhecer melhor a dinâmica destes desequilíbrios e entender melhor como a população tem se comportado e o que o Poder Público pode fazer”.

As contribuições dadas pelas pesquisas coordenadas através do Programa de Pós-Graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional da Unitau, a partir das pesquisas de seus mestrandos servem como orientativas para buscar as melhores práticas que poderiam ser aplicadas pelo Estado para acelerar e, principalmente, para amadurecer o desenvolvimento que ele tem apresentado nas duas últimas décadas. Segundo Edson Querido, há várias potencialidades, mas o próprio Estado já tem procurado incentivá-las. “As vias de comunicação e os meios de escoamento da produção ao Sudeste, por exemplo, e até mesmo à exportação é o ponto crítico e limitador, pois a grande oportunidade está atrelada a logística pesada (integrada com vários modais) operando em conjunto e dando sustentação à essas cadeias produtivas que não nasceram aqui como a da piscicultura, da carne, processamento de grãos, inclusive a parte do turismo”, comentou.

Rondônia está no Portal da Amazônia e, se bem explorado no que se refere à questão turística abre uma nova perspectiva ao desenvolvimento do Estado. A avaliação feita pela professora Monica Franchi é que ele “tem uma potencialidade que precisa ser melhor desenvolvida, dado os atrativos naturais e históricos”, detalhou levando em consideração que é recente, mas guarda uma série de particularidades que são marco da história do país.

O desenvolvimento é um conceito multidimensional, com estudos econômicos, social. “Os nossos estudos vêm mostrar como convergir os interesses de algo que aparecem muito forte como, por exemplo, os conflitos das escalas de desenvolvimento (…) com os reflexos positivos de emprego e renda, mas também nos reflexos transitórios como o fluxo migratório e deixou uma malha de expansão urbana com uma parte da cidade ociosa”, explicou a professora Monica.

“Quando se tem uma explosão demográfica como a que aconteceu aqui é natural que os problemas começam a acontecer, como no trânsito, saneamento básico, sobrecarga do sistema de saúde, educação. Esses são elementos que já começam a aparecer como fragilidade, vulnerabilidade”,complementou o professor Edson Querido.

“As cadeias produtivas em Rondônia não estão concatenadas, ou seja, não estão funcionando com sincronicidade e isso cria uns vazios. Muitas vezes têm como produzir isso aqui [local], trazer a manufatura leve, industrializar em alguns aspectos de uso e fica importando de outras regiões para cá sendo que é possível se desenvolver no Estado”, comentou Edson Querido. Segundo observou Querido, muitas vezes ela já existe, mas muitas das vezes, não tem incentivo com investimentos pelo Poder Público que não enxerga que ela existe e então fica anacrônica. “A nossa ideia é fazer um diagnóstico para levantar esses pontos e dar um startup para que alguém do Poder Público ou da iniciativa privada possa fazer disso uma nova oportunidade de negócios”.

De acordo com a professora Mônica Carniello, a sociedade vive um momento muito frágil da comunicação pública governamental como um todo pela fragilidade das instituições políticas dado ao cenário recente brasileiro. “A comunicação é por si só paradoxal, pois ela é necessária para o processo de desenvolvimento, mas pode ser apropriada como um instrumento de dominação. A grande questão é como utilizar e estabelecer uma estrutura de comunicação em todos os níveis desde a midiática, quanto dela entre os grupos sociais que seja favorável aos processos de desenvolvimento”, questionou. Ela defendeu as premissas conceituais desta “conversação” que passam, por exemplo, pela apropriação do uso da comunicação pela sociedade para que ela não seja unilateral.

Segundo a professora, a comunicação ocorre de maneira bem heterogênea quanto a eficácia dos veículos locais pela sua relevância. “Eles vão cobrir questões da realidade local que talvez não atingem os critérios de noticiabilidade para uma escala nacional pelos grandes grupos de rede. O fomento para os veículos de comunicação de local tanto comerciais quanto os comunitários/públicos são essenciais para que as pessoas tem o se espelhar da própria realidade”, comentou.

Mais de 1.550 milhões de pessoas vivem em Rondônia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE, 2010], sendo um estado relativamente grande, ainda assim, de segundo o Dr. Edson Querido, existe uma simetria de desenvolvimento, de informações. “Por exemplo, os municípios lá do Sul do Estado são bastantes desenvolvidos e atrelados à economia do Sudeste e do Centro-Oeste e os municípios do Norte do Estado, que são mais atrelados ao Acre, Amazonas e até a Bolívia. Enfim, existe um grande vazio entre o Norte e Sul de Rondônia, de informações, que chega aqui, na Capital”, avaliou.

“O Poder Público, às vezes, não vê a dimensão do próprio Estado, apesar da criação das regionais [que adiantou e melhorou a comunicação entre o Governo com os Municípios], mas ainda isso é incipiente se a gente pensar numa dimensão maior. Uma parte deste estado por ser uma classe mais carente, com mais dificuldade de informação é pouco esclarecida nas exigências daquilo que teria no mínimo às condições de vida, que seria habitação, saneamento, segurança alimentar, saúde”, elencou.

Deve-se levar em conta que, agora, estando na fase de ascensão do estado é o momento ideal para este planejamento tornando mais amplo no ponto de vista da gestão pública.

Na avaliação da professora Mônica Carniello, o senso comum costuma colocar os estados da região Norte como os piores. Porém, segundo ela existe muitos desafios a se superar. “Muitas das desigualdades sociais que se vê aqui, se reproduz na região sudeste. Mas, talvez elas são menos visíveis até pela própria mídia, por estarem sendo colocadas sobrepostas aos nichos que o senso comum associa: região altamente industrializada, mais os problemas não são diferente como, por exemplo, da territorialização urbana que reflete na desigualdade social. A gente não pode pensar num processo de desenvolvimento diferente para o Sudeste e para o Norte. O problema é do país! É uma falácia dizer que um lugar é desenvolvido e outro não”.

Com os estudados realizados no Estado, há um diagnóstico preciso de ações que podem ser feitas pontualmente e isso é reflexo de lacunas no processo de desenvolvimento da nação. “Devemos usar a nossa ferramental acadêmico com os instrumentos de pesquisa para fazer diagnóstico para entender as particularidades de cada região para fazer isso pelo país e fazer com que sejam direcionadas políticas públicas”, orientou a professora Mônica Carniello.

A concentração forçada de pessoas numa área menor em um espaço físico em torno de uma grande cidade, já leva para uma segunda fase: a favelização. Isso já começa a aparecer aqui em Rondônia. “Quando implanta um modelo de crescimento e aparece isso, significa que em alguma coisa deu errado”, alerta o Dr Edson Querido. “A mobilidade precisa acontecer, mas de forma de espontânea. A pessoa ao nascer precisa ter uma estrutura social como uma vida digna, emprego, renda, condições sociais”, complementa sua colega, Mônica Carniello.

De acordo com a Dra. Monica Carniello, o papel da Universidade é, no que se refere a um dos seus eixos, a pesquisa, é pensar a sociedade. “Nós não temos o poder de Legislar e nem de Executar, mas temos um instrumental e a liberdade de pensamento que é característica do meio universitário, de tencionar os dados, fazer um diagnóstico, com o compromisso social e sem o viés político. Com esse acervo, a gente disponibiliza à sociedade que vai se apropriar da maneira que convier como norteador de decisões ao setores público e privados com um conjunto de estudos sobre a região para dar segurança aos potenciais investidores”.

Segundo os doutores, a proposta é pensar a região e instrumentalizar os docentes para que eles sejam agente de pensamentos, reflexão e multiplicarem o instrumental através de métodos de pesquisa. “A gente veio para capacitar pessoas para andarem com as próprias pernas, quer dizer que nossa missão foi cumprida. A premissa do desenvolvimento é não ser assistencialista e sim numa troca de experiências”, complementa Monica Carniello.

“Estamos aqui para o olhar Rondônia com o olhar do rondoniense. Vamos ver o estado como deva-se ser olhado como por quem é nativo e mora aqui. Muitas vezes o cientista chega com o olhar de uma referência que não é essa do Estado. A gente pode balizar o que existe em termos de desenvolvimento e apresentar uma ferramenta. Aqui como lá tem pontos positivos que a gente pode evidenciar, negativos que podemos minimizar e oportunidades que podemos que se pode aproveitar no tempo e ameaças que a gente precisa eliminar”, finaliza o coordenador do mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté (Unitau), Dr. Edson Querido.


*Entrevista realizada pelo Diário da Amazônia*


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