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    porto velho, domingo 6 de outubro de 2024

Seleção brasileira merece mais do que interino e convocação às pressas

A cada dia, o futuro da amarelinha é mais incerto. E não é por falta de tempo ou opção, é por uma mentalidade absurdamente atrasada


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Publicada em: 15/06/2023 10:38:43 - Atualizado


477 dias. É o período que separa o anúncio de que Tite não continuaria como treinador da seleção brasileira após a Copa do Mundo de 2022 do amistoso desde sábado, contra Guiné, às 16h30.

É um período tão grande de tempo que torna absurdamente injustificável o atual estado das coisas na seleção.

Dos males do futebol brasileiro, aquele que mais causa prejuízo financeiro e emocional aos clubes é um confiança injustificável na personalização dos processos. Há muitas e muitas décadas, o pensamento brasileiro é de que basta uma figura de poder, geralmente alguém com cabelos brancos e porte de paizão, para solucionar problemas que suplantam a esfera individual e vão do coletivo até a política.

O paternalismo sempre foi forte porque é vencedor. Simples assim.

Goste ou não, futebol é resultado. Toda vez que ele acontece, quem está no poder tenta copiar a fórmula. E o jeito mais vencedor no Brasil é o paternalismo.

A seleção venceu a Copa de 1958 e 1962 sendo paternalista. Tentou um modelo diferente com João Saldanha e teve que recorrer ao paternalismo (e ufanismo) de Zagallo, que teve três meses de trabalho antes de vencer o Tri. Tentou diferente novamente com Falcão em 1990, recorreu à Zagallo. Tentou muito diferente com Vanderlei Luxemburgo, colheu uma crise imensa e recorreu ao mais vitorioso treinador desde país, Luiz Felipe Scolari, para se tornar penta.

Vendo por esse ângulo, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, apenas tenta o que deu certo no passado ao esperar ad eternum pelo italiano Carlo Ancelotti. Vencedor de quatro Champions League e sétimo mais vitorioso da história, Ancelotti é o mais paterno dos treinadores europeus. Ele é uma certeza de sucesso e título por onde passa. A seleção quer título. Conecte os pontos…

A grande questão não é a busca por Ancelotti ou não, mas sim ainda apelar à essa velha tradição das coisas com pressa e na bagunça. Em pleno 2023. Não é sobre trabalho a longo prazo e demissão em massa, ou treinadores brasileiros contra estrangeiros - duas rivalidades criadas desde o 7 a 1 que não fazem sentido.

A questão é sobre o amadorismo, falta de norte, de planejamento e de uma visão para o futuro.

Porque a cada dia sem uma comissão técnica, a seleção brasileira joga fora uma oportunidade de oferecer aos seus torcedores uma luz sobre o tipo de futebol que quer jogar. Não fomenta as bases para formar o tipo de jogador que vestirá essa camisa no futuro. Joga fora qualquer tipo de construção e trabalho para a Copa de 2026 e as outras também.


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