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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
BRASIL - Na entrada do anfiteatro do Museu do Futebol, no estádio do Pacaembu, um painel exibia na última terça-feira (22) capas de jornais da Espanha. Todas apresentavam fotos de página inteira do atacante Endrick, jogador da base do Palmeiras, acompanhadas de frases nas quais ele elogiava Real Madrid e Barcelona.
No interior do museu, profissionais de dez veículos de imprensa marcavam presença no evento em que o garoto de 15 anos apresentava seu novo patrocinador. Depois de responder a perguntas ao lado do pai e de um representante da marca, o atleta atendeu individualmente cada jornalista presente.
A maratona de entrevistas só era interrompida quando algum torcedor, especialmente se era criança, aproximava-se para pedir uma foto com o palmeirense, que prontamente atendia.
"Eu gosto disso. Tinha um menino aqui que estava muito feliz, saiu do carro e veio correndo pedir uma foto. Já me falaram que sou um garoto muito humilde, eu não acho. Tenho que melhorar isso cada vez mais", disse Endrick à reportagem. "Eles são crianças e me veem como ídolo. Eu também ainda sou uma criança, então é muito bom, fico muito feliz."
Um dos grandes nomes do Palmeiras na conquista do inédito título da Copa São Paulo, em janeiro, o jogador tem uma forte ligação com a garotada. Foi dele o gol que abriu o caminho para a goleada sobre o Santos, por 4 a 0, na decisão disputada no Allianz Parque.
Ele também já havia brilhado nas quartas de final, quando marcou de fora da área um gol de bicicleta diante do Oeste, na vitória alviverde por 5 a 2.
As atuações dele na Copinha levaram a torcida a fazer campanha para Abel Ferreira levá-lo junto com a delegação que disputaria o Mundial de Clubes nos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, porém, o técnico disse que não poderia queimar etapas e que era melhor o jovem ir à Disney após o título da Copinha.
Endrick não ficou chateado. Pelo contrário, ele entende que não deve apressar a sua evolução no futebol, sobretudo porque só poderá assinar seu primeiro contrato profissional com o Palmeiras em julho, quando completará 16 anos. Por enquanto, o time alviverde tem um documento de clube formador.
Apesar de ansioso para jogar na equipe principal, ele confia em um conselho que recebeu de Ronaldo. "Ele falou para eu manter sempre a humildade, mesmo com todo o assédio", lembrou. "Dentro de campo, também disse para eu sempre ter frieza na hora de finalizar."
Essa habilidade com a bola o jovem já carrega consigo. Assim como a potência no chute que o fez ser chamado de "força da natureza" pelo coordenador da base alviverde, João Paulo Sampaio.
Há uma enorme expectativa sobre ele no clube. Tanto que, segundo Sampaio, caso algum rival do Brasil queira tirá-lo do Palmeiras, terá de pagar R$ 20 milhões. Já na Europa, ele só poderá jogar com 18 anos.
Os elogios a Real Madrid e Barcelona estampados por jornais espanhóis não são por acaso. Os dois gigantes da Espanha estão entre os clubes que passaram a monitorá-lo.
Ele também tem despertado olhares de fora do mercado do futebol. Na terça, o atleta foi anunciado como o novo rosto da rede de clínicas odontológicas OdontoCompany. O acordo de três anos, que prevê bonificações por metas alcançadas, fez com que ele se tornasse o mais novo jogador de futebol no Brasil a assinar um acordo de patrocínio com uma marca que não é fornecedora de material esportivo.
Antes, o mais jovem era Neymar, em 2010, com 18 anos.
Um fator decisivo para Endrick ter sido procurado pela companhia foi a história de seu pai, Douglas Souza, 47. Na infância, Douglas sofreu uma queimadura na mão e, por conta dos muitos antibióticos que precisou tomar, acabou tendo uma reação que o fez perder parte da arcada dentária.
Quando seu filho entrou na base do Palmeiras, ele conseguiu um emprego de faxineiro no clube. Por não ter alguns dentes, ele só se alimentava com sopas e caldos no refeitório do clube. A situação comoveu o goleiro Jailson, que lhe pagou um tratamento.
"Meu sonho era poder comer uma maçã, como todo o mundo, poder dar uma boa mordida", afirma o pai do atleta. A história chamou a atenção da empresa do ramo odontológico, que também patrocina a skatista Rayssa Leal, a Fadinha, medalhista de prata nos Jogos de Tóquio-2020.
Douglas também gosta de exibir o sorriso quando fala do filho. Quando era mais jovem, ele tentou ser um jogador profissional, mas não conseguiu. Quando viu que seu filho poderia seguir o mesmo caminho, ele fez de tudo para ajudá-lo.
Antes de entrar para a base palmeirense, o garoto tentou a sorte no Corinthians, no São Paulo e no Santos, mas nenhum dos clubes se dispôs a dar uma ajuda de custo para a família vir morar na capital paulista -eles viviam em Valparaíso, no interior de Goiás. O São Paulo chegou a oferecer R$ 150 por mês, valor que não pôde ser aceito por Douglas.
O Palmeiras, porém, resolveu ajudar a família e ofereceu a Douglas o emprego de faxineiro. Além de fazer amizade com Jailson, pôde acompanhar o desenvolvimento de seu filho.
"Eu não realizei meu sonho, mas Deus nos deu essa possibilidade de realizar o sonho por meio do meu filho. A família está numa expectativa boa, mas a gente tem os pés no chão", disse.
Endrick, contudo, já sabe que vai mudar completamente a vida de sua família. Esse é o maior desejo dele, principalmente para o irmão, Noah, de três anos.
"Eu quero dar tudo para ele. Eu lembro que, às vezes, no mercado, eu pedia um salgadinho, um sorvete ou uma Coca-Cola para o meu pai, mas ele não tinha dinheiro. Eu quero dar tudo para o meu irmão. Uma casa boa, onde ele possa abrir o armário e ter tudo o que ele quiser, um biscoito, alguma coisa", afirmou.