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porto velho, sexta-feira 12 de setembro de 2025
Pelo menos dez membros do PT ligados ao presidente Lula (entre eles dois ministros do governo), além de entidades aliadas ao partido, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), já se posicionaram abertamento contra classificar o Hamas como um grupo terrorista. O grupo é o autor da onda de ataques extremistas contra Israel que já vitimou mais de 1,8 mil pessoas entre israelenses e palestinos.
Uma declaração do governo britânico em 2021, que contou com o apoio dos Estados Unidos e de países da União Europeia, levou o partido e entidades a publicarem um manifesto a favor do grupo extremista que deu origem à guerra contra Israel em 2023. Além do PT, a carta também foi assinada por deputados do PSOL, PCdoB e PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Na época da publicação do manifesto, os signatários criticaram a classificação do "Movimento de Resistência Islâmico - Hamas" pelo Reino Unido como uma “organização terrorista”.
A carta articulada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) afirmava que o posicionamento do Reino Unido “representa uma extensão da política colonial britânica, em desacordo com a posição da maioria do povo da Inglaterra, que se opõe à ocupação israelense e aos seus crimes”.
Para o partido e os movimentos, o “direito à resistência” é assegurado pelo Direito Internacional e Humanitário, pela Carta das Nações Unidas e por outras resoluções da ONU (veja o manifesto completo mais abaixo).
A assinatura da carta por políticos e movimentos de esquerda veio à tona em um momento em que o governo Lula resiste em classificar o Hamas como um grupo terrorista. Há apenas notas de repúdio contra a violência e a violação dos direitos humanos, como a tortura e a morte de civis inocentes, como o brasileiro Ranani Glazer, no sábado (7).
Dos dez partidários do PT que foram contra a classificação do Hamas como um grupo terrorista, seis mudaram parcialmente de opinião e passaram a condenar os métodos utilizados pela facção desde o início da guerra, no final de semana.
O principal deles, o ministro Alexandre Padilha (PT-SP), das Relações Institucionais, afirmou que o documento assinado em 2021 ocorreu em um contexto de pandemia, em que “aumentar o tensionamento com organizações da região tornaria ainda mais difícil garantir ações de cuidado pelos governos locais [do Oriente Médio] ou obter ajuda internacional para àquelas localidades, de modo a assegurar cuidados de saúde e água a milhões de inocentes que ali vivem”.
“Em nenhuma hipótese essa decisão pode ser confundida com apoio a qualquer tipo de violência. Já deixei claro meu absoluto repúdio aos atos terroristas praticados nessa semana”, escreveu em uma nota publicada nas redes sociais sem mencionar diretamente o Hamas. Padilha ainda chamou de “fake news” a notícia de que não se posicionou efetivamente contrário ao grupo.
A mesma opinião foi adotada por Paulo Pimenta (PT-RS), ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, um dia depois da publicação desta reportagem. Ele disse que o manifesto foi redigido em um momento de pandemia em que era preciso manter a ajuda humanitária a Gaza e que associar isso a um apoio ao Hamas na guerra é uma "desonestidade intelectual".
"Esse manifesto tem sido utilizado de forma absolutamente equivocada por pessoas que tentam transformar as coisas em disputa politica. Nossa preocupação hoje é a promoção da paz e garantir a vida dos brasileiros que estão em Jerusalém, Cisjordânia e Gaza", disse em entrevista à GloboNews evitando classificar o grupo especificamente como terrorista enquanto a ONU não muda de posicionamento.
A deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MT), que também assinou a carta, replicou em suas redes sociais a mesma explicação de Alexandre Padilha, que também repudiou os “atos terroristas praticados” nesta semana. Contudo, assim como o correligionário, a deputada não mencionou diretamente o grupo terrorista.
O deputado federal Paulão (PT-AL) adotou um posicionamento semelhante ao de Padilha, e disse que assinou o documento em 2021 por conta das circunstâncias da pandemia da Covid-19, mas que nunca foi "a favor de qualquer célula terrorista. Nem de lá e nem de cá".
"O oportunismo político na tragédia, a partir de Fake News, tem sido uma estratégia doentia de extremistas. Toda a minha solidariedade às vítimas da guerra em Israel e na Palestina. A cultura do ódio fica para quem não respeita a vida. Eu sou da cultura da paz. Nunca da guerra, nem da mentira", disse à Gazeta do Povo.