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porto velho, domingo 28 de dezembro de 2025

Pelo menos dez membros do PT ligados ao presidente Lula (entre eles dois ministros do governo), além de entidades aliadas ao partido, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), já se posicionaram abertamento contra classificar o Hamas como um grupo terrorista. O grupo é o autor da onda de ataques extremistas contra Israel que já vitimou mais de 1,8 mil pessoas entre israelenses e palestinos.
Uma declaração do governo britânico em 2021, que contou com o apoio dos Estados Unidos e de países da União Europeia, levou o partido e entidades a publicarem um manifesto a favor do grupo extremista que deu origem à guerra contra Israel em 2023. Além do PT, a carta também foi assinada por deputados do PSOL, PCdoB e PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Na época da publicação do manifesto, os signatários criticaram a classificação do "Movimento de Resistência Islâmico - Hamas" pelo Reino Unido como uma “organização terrorista”.
A carta articulada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) afirmava que o posicionamento do Reino Unido “representa uma extensão da política colonial britânica, em desacordo com a posição da maioria do povo da Inglaterra, que se opõe à ocupação israelense e aos seus crimes”.
Para o partido e os movimentos, o “direito à resistência” é assegurado pelo Direito Internacional e Humanitário, pela Carta das Nações Unidas e por outras resoluções da ONU (veja o manifesto completo mais abaixo).
A assinatura da carta por políticos e movimentos de esquerda veio à tona em um momento em que o governo Lula resiste em classificar o Hamas como um grupo terrorista. Há apenas notas de repúdio contra a violência e a violação dos direitos humanos, como a tortura e a morte de civis inocentes, como o brasileiro Ranani Glazer, no sábado (7).
Dos dez partidários do PT que foram contra a classificação do Hamas como um grupo terrorista, seis mudaram parcialmente de opinião e passaram a condenar os métodos utilizados pela facção desde o início da guerra, no final de semana.
O principal deles, o ministro Alexandre Padilha (PT-SP), das Relações Institucionais, afirmou que o documento assinado em 2021 ocorreu em um contexto de pandemia, em que “aumentar o tensionamento com organizações da região tornaria ainda mais difícil garantir ações de cuidado pelos governos locais [do Oriente Médio] ou obter ajuda internacional para àquelas localidades, de modo a assegurar cuidados de saúde e água a milhões de inocentes que ali vivem”.
“Em nenhuma hipótese essa decisão pode ser confundida com apoio a qualquer tipo de violência. Já deixei claro meu absoluto repúdio aos atos terroristas praticados nessa semana”, escreveu em uma nota publicada nas redes sociais sem mencionar diretamente o Hamas. Padilha ainda chamou de “fake news” a notícia de que não se posicionou efetivamente contrário ao grupo.
A mesma opinião foi adotada por Paulo Pimenta (PT-RS), ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, um dia depois da publicação desta reportagem. Ele disse que o manifesto foi redigido em um momento de pandemia em que era preciso manter a ajuda humanitária a Gaza e que associar isso a um apoio ao Hamas na guerra é uma "desonestidade intelectual".
"Esse manifesto tem sido utilizado de forma absolutamente equivocada por pessoas que tentam transformar as coisas em disputa politica. Nossa preocupação hoje é a promoção da paz e garantir a vida dos brasileiros que estão em Jerusalém, Cisjordânia e Gaza", disse em entrevista à GloboNews evitando classificar o grupo especificamente como terrorista enquanto a ONU não muda de posicionamento.
A deputada federal Professora Rosa Neide (PT-MT), que também assinou a carta, replicou em suas redes sociais a mesma explicação de Alexandre Padilha, que também repudiou os “atos terroristas praticados” nesta semana. Contudo, assim como o correligionário, a deputada não mencionou diretamente o grupo terrorista.
O deputado federal Paulão (PT-AL) adotou um posicionamento semelhante ao de Padilha, e disse que assinou o documento em 2021 por conta das circunstâncias da pandemia da Covid-19, mas que nunca foi "a favor de qualquer célula terrorista. Nem de lá e nem de cá".
"O oportunismo político na tragédia, a partir de Fake News, tem sido uma estratégia doentia de extremistas. Toda a minha solidariedade às vítimas da guerra em Israel e na Palestina. A cultura do ódio fica para quem não respeita a vida. Eu sou da cultura da paz. Nunca da guerra, nem da mentira", disse à Gazeta do Povo.