Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 4 de maio de 2025
A Nova Advocacia Ética em Tempos de Inovação
A revolução tecnológica está, inegavelmente, remodelando a paisagem da advocacia contemporânea de forma a desafiar as normas tradicionais e a exigir uma reavaliação constante das práticas éticas. Em um cenário marcado pela vertiginosa velocidade das inovações, não basta que os advogados estejam apenas atualizados. É essencial que compreendam, em profundidade, como a tecnologia impacta tanto a rotina operacional quanto os fundamentos éticos que sustentam o exercício da profissão.
Tomemos como exemplo um escritório de advocacia que adota um sistema de gestão processual avançado ou um assistente baseado em inteligência artificial. Para o jovem advogado, essas ferramentas representam mais do que recursos tecnológicos — elas encarnam promessas de eficiência, precisão e controle. Contudo, à medida que se familiariza com essa nova realidade, uma inquietação ética começa a emergir: estamos realmente garantindo que a justiça seja promovida por meio de automatizações e algoritmos?
Esse questionamento não é retórico. Ele reverbera, com intensidade crescente, entre os profissionais do Direito. Pois, se é verdade que a tecnologia oferece melhorias tangíveis, também é verdade que ela introduz camadas adicionais de complexidade ética. Afinal, o Direito lida com conflitos humanos, com singularidades, com narrativas que não podem ser plenamente capturadas por códigos ou cálculos. E, nesse ponto, o papel do advogado se revela insubstituível: ser o elo entre a técnica e a sensibilidade, entre a norma e a realidade, entre a máquina e o ser humano.
Vivemos uma transformação profunda. A advocacia, tradicionalmente marcada por sua reflexão, prudência e análise criteriosa dos fatos, está sendo sacudida por uma onda de inovação tecnológica que desafia até mesmo os alicerces mais sólidos da profissão. Ferramentas baseadas em inteligência artificial prometem velocidade, precisão e eficiência — qualidades indispensáveis para o mundo contemporâneo. No entanto, a grande questão que se impõe é: o que acontece com a ética à medida que passamos a confiar mais em algoritmos do que nos julgamentos humanos?
Não podemos permitir que a busca por soluções rápidas ofusque os princípios que definem o papel social do advogado. A inteligência artificial pode até oferecer respostas, mas só o ser humano é capaz de compreender o contexto, o sofrimento e as nuances da justiça. A ética, nesse cenário, não é um acessório: é a bússola que deve guiar cada passo da inovação.
Esse novo panorama também lança um olhar crítico sobre a formação dos futuros profissionais. As faculdades de Direito não podem se eximir desse debate. Se ainda não se sentem desafiadas, precisam se sentir. É urgente uma reavaliação dos currículos, que contemplem não apenas o domínio técnico das novas ferramentas, mas, sobretudo, a formação ética e humanística que permitirá ao futuro advogado lidar com o impacto social da tecnologia.
Diante disso, surgem vozes cada vez mais fortes clamando por regulamentações claras. Precisamos de parâmetros que delimitem até onde vai a atuação ética do profissional que se vale da tecnologia, garantindo que a IA sirva à justiça — e não o contrário.
Ao final, a reflexão que deixo é simples, mas profunda: porte-se não apenas como um especialista em leis, mas como um ser humano. Na era digital, a integridade, a empatia e a ética devem continuar sendo os pilares da nossa atuação. Somos nós, advogados e advogadas, que moldamos o futuro da profissão. E esse futuro não pode sacrificar o humano pelo digital, mas sim, incorporar a tecnologia como uma aliada no aperfeiçoamento da nossa missão.
O desafio está posto: como equilibrar a eficiência da tecnologia com a essência da advocacia? A resposta talvez nunca seja definitiva, mas a jornada exige de nós algo que nenhuma máquina pode oferecer — consciência ética, sensibilidade humana e compromisso com a justiça.
![]() A autora é advogada militante, corregedora geral adjunta da OAB/RO e autora do livro “Ética da Advocacia o que ninguém te conta” |