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porto velho, quinta-feira 28 de novembro de 2024
Prof. MS Gilberto Cezar Cavalcante Teles
Este artigo propõe uma reflexão sobre o currículo enquanto espaço pedagógico e cultural considerando o princípio da multirreferencialidade e que a partir dessa reflexão possa surgir uma discussão sobre as questões que permeiam a educação escolar e os saberes da sociedade e que de forma isso poderá contribuir na formação acadêmica dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE:
Educação, Sociedade, saberes e multirreferencialidade.
O vocábulo currículo provém do latim currere, que significa caminho, jornada, trajetória, percurso, itinerário. Assim, apresenta duas ideias principais:
A sequência ordenada sugere a caminhada gradativa do grau de dificuldade que o aluno irá encontrar por ano escolar e por disciplina e a totalidade dos estudos representando o conglomerado de conteúdos necessários para cada ano escolar e de acordo com o nível de estudo.
“O currículo não possui um sentido unívoco, existindo na multiplicidade de funções e conceitos relativamente às perspectivas que se adaptam, traduzindo-se, por vezes, em alguma inexatidão acerca da natureza e âmbito do currículo” (RIBEIRO, 1989).
“O currículo é uma construção permanente de práticas, com um significado marcadamente cultural e social, é um instrumento obrigatório para a análise e melhoria das decisões educativas” (PACHECO, 1996).
Um currículo escolar é primeiramente, no vocabulário pedagógico anglo-saxão, um percurso educacional, um conjunto contínuo de situações de aprendizagem às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo de um dado período, no contexto de uma instituição de educação formal.
O currículo deve representar uma sequência de conhecimentos significativos para a vida presente, desenvolvendo habilidades, fornecendo princípios e diretrizes, que possam ser úteis à vida futura do indivíduo. Deve relacionar de forma gradual, todas as experiências que possam ser desencadeadas e promovidas no ambiente escolar fazendo o devido aproveitamento das experiências vivenciadas na família o no grupo de convivência social. Deve, sim, evidenciar todas as oportunidades de integração e correlação dos conhecimentos, para que o educando possa promover a aplicação do aprendido na vida prática. É através de aprendizagens significativas, que o aluno facilita o seu relacionamento culturalfamiliar e social e potencializa seu crescimento pessoal.
O Shorter Oxford Dictionary define que o currículo deva ser formatado “Por uma forma, uma estrutura ou uma ordenação que obedeça, ou seja, reduzível a alguma norma ou a algum princípio; caracterizado pela harmonia ou a adequada correspondência entre as diversas partes ou elementos; marcado pela constância ou uniformidade enquanto ação, procedimento ou forma; conforme alguma regra ou algum nível adotado”.
Se a interpretação destes atributos não for feita de forma demasiadamente mecanicista, cremos que representam, de modo geral, aquilo que podemos exigir de um currículo.
O currículo pode ser criticado nas seguintes situações:
Podendo ser alterado de acordo com as conveniências da comunidade onde está sendo aplicado bastando que as pessoas que o manipulem estejam tecnicamente preparadas para tal e que tenham um discernimento muito forte sobre limites. Sobre isso nos ensina Stenhouse:
“Um currículo é uma tentativa para comunicar os princípios e regras essenciais de um propósito educativo, de forma tal que permaneça aberto à discussão crítica e possa ser transladado efetivamente a prática”. (STENHOUSE, 2003. p 29).
Não há dúvida de que o currículo é uma tentativa para descrever o trabalho observado em sala de aula, e que esta deve ser adequadamente comunicada ao professor e a outros interessados.
“O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição reagrupa em torno dela uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a pratica pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos ensino. É uma pratica que se expressa em comportamentos práticos diversos”. (GIMENO SACRISTÁN, 2000. pp. 15, 16).
Assim, de acordo com GimenoSacristán, o currículo como projeto baseado num plano construído e ordenado, relaciona a conexão entre determinados princípios e a realização dos mesmos. É uma pratica na qual se estabelece um diálogo entre agentes sociais (família e sociedade), elementos técnicos (da escola e secretaria), alunos que reagem a ele e professores que o adequam. Desenvolver esta concepção do currículo como prática educativa tem o atrativo de poder ordenar em torno deste discurso as funções que cumpre e o modo como as realiza em favor da sociedade escolar.
Vejamos o que nos ensinam alguns curriculistas:
O currículo é um instrumento político que se vincula à ideologia, à estrutura social, à cultura e ao poder. A cultura é o conteúdo da educação, sua essência e sua defesa, e currículo é a opção realizada dentro dessa cultura. Muito embora as teorias críticas nos informam que a escola tem sido um lugar de subordinação e reprodução da cultura das elites, a pluralidade cultural e a multirreferencialidade envolvendo os saberes sociais vem mostrando que por trás das nossas diferenças, há a mesma humanidade.
CONCLUSÃO:
Então, currículo é um bom guia para os gestores da educação, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, um guia para o professor. Entretanto, o currículo, não deve e nem pode substituir a iniciativa e a responsabilidade do professor, convertendo-se em meros executores de um plano previamente estabelecido. Em seu conteúdo deve conter informações sobre o que, quando e como ensinar e avaliar. O currículo deve sempre levar em conta as condições reais nas quais o projeto de ensino e aprendizagem vai ser aplicado e deve definir as intenções, princípios e orientações gerais da prática pedagógica, voltadas para este projeto. O currículo por si só é um corpo inerte e quem lhe dá vida é o professor. O currículo é uma via de mão dupla onde professor e aluno trocam suas experiências nesse frenesi do vai e vem da cultura e dos saberes. O currículo é uma poesia onde cada leitor empresta-lhe um pouco da sua experiência e sensibilidade para torná-lo interessante para si e sua comunidade.
REFERÊNCIAS:
APARECIDA, Mariani, Vergínia.Currículo por Competências e Habilidades, INESUL - Instituto de Ensino Superior de Londrina.
CESAR, Coll Salvador. O Construtivismo na Sala de Aula, 1996. São Paulo: Editora Ática
GIMENO Sacristán , J. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000
GIMENO SACRISTAN, J. (1981): "Teorías de la enseñanza y desarrollo del currículum". Madrid. Anaya.
GIMENO, Sacristán J. Educar y convivir en la Cultura Global. Ediciones Morata – 2002, Madrid.
RIBEIRO, VictóriaMariaBraut. Currículo: Trabalho e Construção do Conhecimento. 1989 – Editora Seleccionar.
STENHOUSE Lawrence, La Investigación como Base de La Ensiñanza. Ediciones Morata. 1998 - Madrid.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
AUTORES:
Prof. MS Gilberto Cezar Cavalcante Teles
Prof.MS Manoel Celestino dos Santos
Prof. MS Manuel Pereira de Castro