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Currículo - Espaço Cultural e de Saberes - Professor Gilberto Teles


Publicada em: 12/09/2018 15:22:40 - Atualizado


Prof. MS Gilberto Cezar Cavalcante Teles   

Este artigo propõe uma reflexão sobre o currículo enquanto espaço pedagógico e cultural considerando o princípio da multirreferencialidade e que a partir dessa reflexão possa surgir uma discussão sobre as questões que permeiam a educação escolar e os saberes da sociedade e que de forma isso poderá contribuir na formação acadêmica dos alunos.


PALAVRAS-CHAVE:

Educação, Sociedade, saberes e multirreferencialidade.

O vocábulo currículo provém do latim currere, que significa caminho, jornada, trajetória, percurso, itinerário. Assim, apresenta duas ideias principais:

  • Sequência ordenada de estudos;
  • Totalidade dos estudos.

A sequência ordenada sugere a caminhada gradativa do grau de dificuldade que o aluno irá encontrar por ano escolar e por disciplina e a totalidade dos estudos representando o conglomerado de conteúdos necessários para cada ano escolar e de acordo com o nível de estudo.

“O currículo não possui um sentido unívoco, existindo na multiplicidade de funções e conceitos relativamente às perspectivas que se adaptam, traduzindo-se, por vezes, em alguma inexatidão acerca da natureza e âmbito do currículo” (RIBEIRO, 1989).

“O currículo é uma construção permanente de práticas, com um significado marcadamente cultural e social, é um instrumento obrigatório para a análise e melhoria das decisões educativas” (PACHECO, 1996).

Um currículo escolar é primeiramente, no vocabulário pedagógico anglo-saxão, um percurso educacional, um conjunto contínuo de situações de aprendizagem às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo de um dado período, no contexto de uma instituição de educação formal. 

O currículo deve representar uma sequência de conhecimentos significativos para a vida presente, desenvolvendo habilidades, fornecendo princípios e diretrizes, que possam ser úteis à vida futura do indivíduo. Deve relacionar de forma gradual, todas as experiências que possam ser desencadeadas e promovidas no ambiente escolar fazendo o devido aproveitamento das experiências vivenciadas na família o no grupo de convivência social. Deve, sim, evidenciar todas as oportunidades de integração e correlação dos conhecimentos, para que o educando possa promover a aplicação do aprendido na vida prática. É através de aprendizagens significativas, que o aluno facilita o seu relacionamento culturalfamiliar e social e potencializa seu crescimento pessoal.

O Shorter Oxford Dictionary define que o currículo deva ser formatado “Por uma forma, uma estrutura ou uma ordenação que obedeça, ou seja, reduzível a alguma norma ou a algum princípio; caracterizado pela harmonia ou a adequada correspondência entre as diversas partes ou elementos; marcado pela constância ou uniformidade enquanto ação, procedimento ou forma; conforme alguma regra ou algum nível adotado”.

Se a interpretação destes atributos não for feita de forma demasiadamente mecanicista, cremos que representam, de modo geral, aquilo que podemos exigir de um currículo.

O currículo pode ser criticado nas seguintes situações:

  •  por motivos técnicos, procurando saber se representa bem os conteúdos necessários a determinado ano ou nível de ensino;
  •  por motivos metodológicos verificando se há uma sequência lógica na disposição dos conteúdos e estes se apresentam como pré-requisitos para estudos subsequentes;
  • por motivos práticos aferindo se os conteúdos relacionados no currículo têm importância na vida do aluno.

Podendo ser alterado de acordo com as conveniências da comunidade onde está sendo aplicado bastando que as pessoas que o manipulem estejam tecnicamente preparadas para tal e que tenham um discernimento muito forte sobre limites. Sobre isso nos ensina Stenhouse:

“Um currículo é uma tentativa para comunicar os princípios e regras essenciais de um propósito educativo, de forma tal que permaneça aberto à discussão crítica e possa ser transladado efetivamente a prática”. (STENHOUSE, 2003. p 29).

Não há dúvida de que o currículo é uma tentativa para descrever o trabalho observado em sala de aula, e que esta deve ser adequadamente comunicada ao professor e a outros interessados.

“O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição reagrupa em torno dela uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a pratica pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos ensino. É uma pratica que se expressa em comportamentos práticos diversos”. (GIMENO SACRISTÁN, 2000. pp. 15, 16).

Assim, de acordo com GimenoSacristán, o currículo como projeto baseado num plano construído e ordenado, relaciona a conexão entre determinados princípios e a realização dos mesmos. É uma pratica na qual se estabelece um diálogo entre agentes sociais (família e sociedade), elementos técnicos (da escola e secretaria), alunos que reagem a ele e professores que o adequam. Desenvolver esta concepção do currículo como prática educativa tem o atrativo de poder ordenar em torno deste discurso as funções que cumpre e o modo como as realiza em favor da sociedade escolar.


Vejamos o que nos ensinam alguns curriculistas:

  •  “Currículo é o projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e proporciona guias de ação adequadas e úteis para os professores, que são diretamente responsáveis por sua execução”. (CESAR COLL, 1987)
  •  “O currículo define o que se considera o conhecimento válido, as formas pedagógicas, o que se pondera como a transmissão válida do mesmo, e a avaliação definem o que se considera como realização válida de tal conhecimento”. (BERNSTEIN, 1980. p.47)
  •  “Currículo é uma série estruturada de objetivos da aprendizagem que se aspira alcançar. O currículo prescreve (o ao menos antecipa) os resultados da instrução”. (JOHNSON, 1967. p.130).
  •  “O currículo é um conjunto de experiências planejadas e proporcionadas pela escola para ajudar aos alunos a conseguir, de forma mais agradável, os objetivos de aprendizagem projetados, segundo suas capacidades”. (NEAGLEY e EVANS, 1967. p. 2).
  •  “O currículo é um esforço conjunto e planejado de toda a escola, destinado a conduzir a aprendizagem dos alunos para resultados de aprendizagem predeterminados”. (INLOW, 1966. p. 7).
  •  " Modelo organizado do programa educacional da escola e descreve a matéria, o método e a ordem do ensino: o que, como e quando se ensina" (PHENIX, 1958. p.58)
  •  "Um currículo é uma tentativa de comunicar os princípios e características essenciais de um projeto educativo, de tal forma que permaneça aberto à discussão crítica e possa ser efetivamente transladado à prática". (CESAR COLL, 1987).
  •  “O currículo constitui na verdade um dos meios essenciais pelos quais se acham estabelecidos os traços dominantes do sistema cultural de uma sociedade, no mínimo pelo papel que ele desempenha na gestão do estoque de conhecimentos de que dispõe a sociedade, sua conservação, sua transmissão, distribuição, legitimação e sua avaliação”. (P. W. MISGRAVE, 1972. p.79).
  •  "Currículo são todos os esforços direcionados para dinamizar a ação educativa, num ambiente educativo. Esses esforços correspondem a todas as tentativas da sociedade, da família, da escola e dos alunos, para desencadear o desenvolvimento total e pleno da pessoa humana. São as disciplinas, os conhecimentos, os conteúdos, as experiências, os fatos sociais, políticos, religiosos, econômicos, as tradições, os valores que, planejados e sistematizados, o grupo social estrutura para promover a educação". (ILZA MARTINS SANT’ANNA)
  •  "O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forma nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade". (SILVA, 2003. p.150)

O currículo é um instrumento político que se vincula à ideologia, à estrutura social, à cultura e ao poder. A cultura é o conteúdo da educação, sua essência e sua defesa, e currículo é a opção realizada dentro dessa cultura. Muito embora as teorias críticas nos informam que a escola tem sido um lugar de subordinação e reprodução da cultura das elites, a pluralidade cultural e a multirreferencialidade envolvendo os saberes sociais vem mostrando que por trás das nossas diferenças, há a mesma humanidade.


CONCLUSÃO:

Então, currículo é um bom guia para os gestores da educação, um instrumento útil para orientar a prática pedagógica, um guia para o professor. Entretanto, o currículo, não deve e nem pode substituir a iniciativa e a responsabilidade do professor, convertendo-se em meros executores de um plano previamente estabelecido. Em seu conteúdo deve conter informações sobre o que, quando e como ensinar e avaliar. O currículo deve sempre levar em conta as condições reais nas quais o projeto de ensino e aprendizagem vai ser aplicado e deve definir as intenções, princípios e orientações gerais da prática pedagógica, voltadas para este projeto. O currículo por si só é um corpo inerte e quem lhe dá vida é o professor. O currículo é uma via de mão dupla onde professor e aluno trocam suas experiências nesse frenesi do vai e vem da cultura e dos saberes. O currículo é uma poesia onde cada leitor empresta-lhe um pouco da sua experiência e sensibilidade para torná-lo interessante para si e sua comunidade.


REFERÊNCIAS:

APARECIDA, Mariani, Vergínia.Currículo por Competências e Habilidades, INESUL - Instituto de Ensino Superior de Londrina.

CESAR, Coll Salvador. O Construtivismo na Sala de Aula, 1996. São Paulo: Editora Ática

GIMENO Sacristán , J. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000

GIMENO SACRISTAN, J. (1981): "Teorías de la enseñanza y desarrollo del currículum". Madrid. Anaya.

GIMENO, Sacristán J. Educar y convivir en la Cultura Global. Ediciones Morata – 2002, Madrid.

RIBEIRO, VictóriaMariaBraut. Currículo: Trabalho e Construção do Conhecimento. 1989 – Editora Seleccionar.

STENHOUSE Lawrence, La Investigación como Base de La Ensiñanza.  Ediciones Morata. 1998 - Madrid.

SILVA, Tomaz Tadeu da. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricular. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

AUTORES:

Prof. MS Gilberto Cezar Cavalcante Teles                                                    

Prof.MS Manoel Celestino dos Santos                                                           

Prof. MS Manuel Pereira de Castro


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