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Crônica de fim semana- O Beron e as circunstâncias da dívida - Por Arimar Souza de Sá


Rondonoticias

Publicada em: 30/09/2018 10:52:54 - Atualizado


Inspirado para ser a agência de desenvolvimento de Rondônia, o BERON nascia forte em 1982, no bojo da administração dinâmica e consciente do coronel Jorge Teixeira.

Enquanto os tratores iam rasgando os pulmões das matas rondonienses, o migrante chegava e enchia de emoção o ventre da “hinterlândia”, com seu vigor, no trabalho duro, removendo o húmus da terra para dar lugar às plantações que iriam abastecer as mesas da urbe.

E a dinâmica era sempre a mesma. Formava-se a “corrutela”, fincava-se a cruz de Cristo, para, em seguida, erigir-se uma agência da marca BERON, na corrida vertiginosa do progresso.

Logo, o “nosso banco”, com sua agência pioneira em Costa Marques, seguida por mais treze agências implantadas em exíguos seis meses, transformou-se num patrimônio querido do povo de Rondônia, máxime dos rondonianos plantados nos confins das inóspitas florestas, lá para as bandas de Chupinguaia e Cabixi.

Instalado no imo, no sensível, no mais profundo sentimento do povo de Rondônia, o banco, no correr do tempo, teve que amargar administrações desastrosas, indo parar no fundo do poço por conta dos “$erviço$” prestados à politicagem, aos interesses mesquinhos dos sucessivos chefes do executivo e da maioria dos parlamentares.

No governo Piana parecia ter ressurgido das cinzas. Parecia, mas logo nos primeiros meses vitimou-se, como tantos outros bancos estaduais, ao confrontar-se com o Plano Real, ou, como desejam os estudiosos, com uma economia estável.

Imbricou-se com a sorte no governo Raupp – com banco não se brinca, ou se coloca nas mãos de pessoas experimentadas, ou se amarga o sabor da derrota, e foi o que aconteceu, com um ex-funcionário do banco do Brasil, seu então gestor.

Seu corpo funcional, seu estoque de valores humanos, do qual tive a honra de fazer parte, agarrado ao civismo e ao amor às coisas que aqui nascem, ainda tentou resguardar seu soberbo patrimônio, mas tudo foi em vão – o banco já estava em fase de desmonte.

Àquela altura do campeonato, mantê-lo vivo era imprescindível para o melhor desenvolvimento do estado, era traduzir saudáveis condições de vida ao povo de Rondônia, importavam pouco as mazelas do tempo, refletidas na falta de caráter de seus administradores.

Era, sobretudo, diante do acúmulo de desacertos, um imperativo de vida para as milhares de famílias que dele dependiam, principalmente com o crédito rural e os serviços bancários que levava a 100 diferentes localidades do Estado, com seus Postos de Atendimento, porque o Beron foi concebido para ser um símbolo de esperança, um marco de luz no espaço mitológico da imaginação do povo rondoniense.

A alavanca do progresso no mundo capitalista, todos sabem, é o capital, é a dinâmica das transações econômicas, e no Beron, enquanto seu corpo funcional o fez atuar e existir para os rondonienses, isto foi uma realidade, consubstanciada em seu slogan publicitário: “BERON - daqui pra frente, o nosso banco”.

Mais tarde, já “quebrado” sofreu intervenção do Banco Central, com a RAET- Regime de Administração Especial Temporária, mandando para cá, Francisco José Mendonça de Souza, na condição de presidente; diretor financeiro, Altino Almeida de Souza; diretor administrativo, Francisco de Assis Xavier, e Wagner Ormane, diretor de Operações.

Quando se pensou que esse quarteto iria operar grandes ajustes, tomando medidas duras e necessárias para atingir o ponto de nivelamento com as grandes estatais, o banco se transformou, com todas as letras e por mais incrível que isto possa parecer, “na casa da mãe Joana”.

Festas, bebidas, farras e mulheres, orgias de fazer inveja às bacanais de Nero, em Roma, compunham o quadro nefasto, e era o sentimento macabro que povoava a mente daqueles que para cá vieram com a missão de restaurá-lo. Resultado: contraíram novas e maiores dívidas, e o banco afundou de vez.

E como o tempo não perdoa o próprio tempo, passa, a dívida hoje acumulada chegou a casa dos sete bilhões de reais, e pode chegar a dezenove, o que tem sangrado os cofres do Estado que, para honrar seus compromissos, precisou fazer repactuação da dívida com a União, prolongando o tempo de pagamento por mais 240 meses, com parcelas mensais de R$ 11 milhões que já vêm, compulsoriamente, descontadas dos recursos repassados pelo FPE - Fundo de Participação dos Estados.

Certamente, esta sangria se reflete em péssimos serviços nas áreas da saúde, educação, segurança pública, infraestrutura e desenvolvimento regional.

Responsabilizar apenas o Estado pela farra dos agentes públicos do Banco Central, ou seja, pela ação deletéria perpetrada pelos agentes da União, é no mínimo um deboche, uma “tremenda sacanagem”, um elogio à incompetência desses mal intencionados gestores, um escárnio com a cara do povo de Rondônia e se constitui numa tragédia para o desenvolvimento do Estado.

Ora, Rondônia e seu povo não são meros asteróides da vida brasileira. Atos assim esterilizam a inteligência de nossa gente e cabe revide.

Diz o velho adágio popular, “quem pariu Mateus que o embale”. Se os próprios representantes do Banco Central, cujo órgão é o mentor da administração financeira do país, destruíram o que restava da instituição, que ele assuma seus erros, e não penalize o povo desta terra...

Para isso, faz-se mister que o governo do estado, as bancadas federal e estadual, eu, você e todos nós, cobremos energicamente essa conta do Banco Central.

Devemos acossar contra a parede seus maus agentes, que para cá vieram imaginando ser Rondônia o quintal dos estados brasileiros, desmontando, assim, essa selvageria imposta ao povo desta terra, pois o ciclo é de desespero, diante da situação econômica pela qual passa o Estado com esta sangria desatada.

Urge, portanto, uma “vingança” corajosa, para não deixar na impunidade os dirigentes do Banco Central que pilotaram os destinos do Beron, jogando-o no precipício. É necessário que se confisque, desde logo, dentro dos parâmetros legais, seus patrimônios, revertendo-os em favor do povo – hoje pagando uma dívida que definitivamente não é sua.

Estarrecedor, por fim, é um estado novo e estratificado assim como Rondônia, não poder decolar e alcançar uma melhor performance no “concerto” de desenvolvimento da nação, porque está assumindo o ônus que não lhe cabe, na execução da pena de um crime que não cometeu.

Quem teve tempo de rei e gestou em tolices, que vá pra guilhotina, salvemos o Estado.

Com a palavra, quem de direito.
Amém


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