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    porto velho, domingo 21 de setembro de 2025

Ex-superintendente do Incra diz à Polícia Federal que recebeu oferta de propina de lobista

Denúncia foi encaminhada à Polícia Federal e ao órgão ligado ao Ministério da Agricultura


OGLOBO

Publicada em: 05/04/2022 10:31:22 - Atualizado

Um ex-superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Maranhão relatou em fevereiro à Polícia Federal que recebeu uma oferta de propina na porta da sede do órgão ligado ao Ministério da Agricultura, em Brasília. A proposta, segundo o denunciante, foi feita em novembro do ano passado por um lobista e envolve um suposto esquema , financiado com recursos públicos, de construção de casas populares.

O autor da denúncia feita à PF é o advogado Marconi Gonçalves, responsável por comandar o instituto no Maranhão entre novembro de 2021 e janeiro deste ano. Ele contou em um depoimento por escrito que, ao tomar posse do cargo, em 18 de novembro, foi recebido em Brasília pelo presidente do Incra, Geraldo Melo Filho. O encontro está registrado na agenda oficial do chefe da autarquia. Logo depois, o ex-superintendente participou de uma reunião com um diretor do órgão. Neste momento, segundo o relato, entrou na sala o lobista Pablo Said - que, apesar de não fazer parte dos quadros de funcionários, demonstrava ter acesso a integrantes da cúpula do Incra.

“Ele (Pablo Said) informou que era empresário responsável pela construção dessas casas (do Incra), que tinha trânsito livre na autarquia e era amigo do presidente Geraldo Filho. (...) Que caso eu permanecesse com a política adotada na instituição eu teria um futuro longo e próspero na superintendência”, relatou o ex-superintendente à PF. Procurado pelo GLOBO, Said confirma que esteve com Gonçalves no Incra, mas nega ter oferecido propina ao advogado.

Gonçalves confirmou ao GLOBO o teor da denúncia que fez à PF. Ele contou que o lobista o levou para fazer um tour pela sede do Incra e, ao sair do prédio, propôs uma parceria.

"Ele chegou e disse para mim: que muitas casas seriam construídas no Maranhão, e ele tinha interesse na construção dessas casas. E que se eu pudesse de alguma forma ajudá-lo, que não mexesse na equipe. Resumindo, ele disse: “Olha, rapaz, vamos fazer o seguinte: aqui todo mundo ganha o seu, e você não vai ficar do lado de fora. Eu te dou 10%" descreveu o ex-chefe do Incra no Maranhão.

Gonçalves ainda contou que, no dia seguinte à sua cerimônia de posse, em 19 de novembro, foi abordado de novo pelo lobista na área de embarque do aeroporto de Brasília.

"Ele me disse: “Rapaz, vamos trabalhar. Vão ser muitas casas construídas. Vai ser bom para todo mundo, todo mundo vai sair feliz. (...) Reveja a sua posição. É 10%. É muito bom”. Aí, eu não aceitei, e ele falou: “Quero só te pedir uma coisa, então. Não mexe na estrutura da instituição" relatou o advogado, que afirma ter recusado o suposto pedido.


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