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porto velho, segunda-feira 22 de setembro de 2025
Quem está protegido contra os casos da varíola dos macacos (monkeypox, em inglês)? Há necessidade de vacinação como já anunciam alguns países pelo mundo? No Brasil não existe previsão de nova campanha, mas e quem já tomou a vacina contra a varíola tradicional no passado? Consegue identificar pela cicatriz no braço
Quem não conhece a história ou já ouviu falar algo a respeito da Revolta da Vacina, a série de rebeliões populares que uma parte da população do Rio de Janeiro desencadeou no final de 1904?
Na época, o Rio vivia um aumento expressivo no número de internações ocasionadas pela varíola humana (que não deve ser confundida com a varíola dos macacos), mesmo assim, uma parte da população era contra a ideia de se imunizar com aquela que foi a primeira vacina bem-sucedida a ser desenvolvida na história da saúde pública.
A alegação à época pode soar parecida se transportada para os dias de hoje: boatos e informações falsas faziam a população acreditar que a campanha de imunização obrigatória, liderada pelo médico Oswaldo Cruz, iria provocar feições bovinas e outras deformidades do tipo porque o líquido da vacina era produzido a partir de vacas doentes.
Foi somente anos depois, em 1908, quando uma nova epidemia aumentou expressivamente o número de casos que a população correu voluntariamente para se imunizar.
E décadas mais tarde, depois de muitos avanços científicos, em 1971, com uma vacina mais moderna e graças a uma intensa campanha de imunização global encabeçada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a varíola humana - que chegava a apresentar um índice de 30% e mortalidade - foi declarada erradica no Brasil.
"Erradicar é diferente de controlar. Erradicar é tirar o germe do meio ambiente completamente. E isso só foi alcançado até hoje com a varíola", explica Tania Maria Fernandes, Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz.
No mundo todo, os últimos casos da doença foram registrados em 1979 e a varíola foi erradicada. No ano seguinte, a Assembleia Mundial da OMS recomendou que todos os países cessassem suas campanhas de vacinação.
A famosa marca da vacina BCG, um dos primeiros imunizantes aplicados em bebês e que protege contra a tuberculose, é resultado de uma reação imunológica à vacina.
E a vacina contra a varíola também causa uma reação semelhante. Mas dá para saber qual foi o imunizante aplicado só ao olhar para a marquinha no nosso braço?
John Ross, professor assistente de medicina em Harvard e especialista em doenças infecciosas, levantou essa dúvida em uma rede social. A postagem em que o médico afirmava que sim, era possível diferenciar a marca, teve repercussão no Twitter, mas logo ele se retratou e retirou do ar a informação.
As duas vacinas atuais são a ACAM2000, da Sanofi Pasteur, e a JYNNEOS (também conhecida como Imvamune ou Imvanex), da Bavarian Nordic. Nenhuma delas está amplamente disponível.
Depois dos atentados de 11 de setembro, temendo uma ameaça biológica de terrorismo, os Estados Unidos chegaram a lançar uma campanha de imunização de militares e trabalhadores de saúde com a ACAM200 (na época chamada de Dryvax), mas que foi logo encerrada devido a crescentes ceticismos sobre os riscos de tal ataque e a eficácia do programa.
Hoje, tanto a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês) como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) ressaltam que os dois imunizantes podem ser usados para controlar o surto de varíola dos macacos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que o atual surto pode ser controlado por meio de vacinas e outros procedimentos que já estão disponíveis. Além disso, segundo disse à agência Reuters Richard Pebody, especialista em patógenos de alta ameaça da OMS na Europa, a organização não acredita que o surto fora da África exija vacinações em massa, pois medidas como boa higiene e comportamento sexual seguro ajudarão a controlar sua propagação.
No Reino Unido, embora a agência de saúde britânica ressalte que sua prioridade é garantir o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), a UKHSA emitiu uma recomendação para que profissionais de saúde que tiveram contato com infectados possam ser vacinados com o imunizante da Bavarian Nordic.
Da mesma forma, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) ressaltou que a vacinação de contatos próximos de alto risco deve ser considerada.