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porto velho, terça-feira 23 de setembro de 2025
BRASIL-Nos últimos dez anos, ao menos 313 pessoas foram assassinadas na região da Amazônia por conflitos no campo, o que representa 77% do total de mortes (403) envolvendo disputas por terra ou água em zonas rurais do país entre 2012 e 2021. Os dados foram obtidos pela coluna na coleção de relatórios da CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que divulga anualmente um balanço de ocorrências de conflitos no campo no país desde 1985.
Segundo o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a Amazônia Legal concentra apenas 24% da população rural do país —ou seja, tem três vezes mais conflitos, proporcionalmente falando. No ano passado, o número foi o maior já registrado desde 2017: foram 29 mortes nos estados que compõem a Amazônia Legal (que são os sete estados do Norte mais Mato Grosso e Maranhão). É na região que estão desaparecidos, desde domingo (5), o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips. Uma das linhas investigadas pelas autoridades é homicídio, já que Pereira vinha sofrendo ameaças.
"Os conflitos por terra na Amazônia assumem proporções alarmantes, o que evidencia a fragilidade da condição humana sofrida pelos sujeitos sociais que lutam pela permanência em suas terras de trabalho, espaço de reprodução social", diz o relatório divulgado em abril. Segundo a publicação de 2021, a Amazônia registrou 52% das disputas registradas no ano passado, e 62% do número de famílias envolvidas nos conflitos. Ainda de acordo com a CPT, 97% das áreas de conflitos do ano passado localizam-se na Amazônia, com um total de 680 mil km² —equivalente à soma dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. As disputas na Amazônia, diz o relatório, alavancaram o desmatamento.
Quem foram os afetados pelos conflitos em 2021: Indígenas - 26% Quilombolas - 17% Posseiros - 17% Sem-terra - 14% Assentados - 8% Outros - 15% Quem foram os causadores das disputas: Fazendeiros - 21% Empresários - 20% Governos - 17% Grileiros - 13% Madeireiros - 6% Garimpeiros - 5% Outros - 10% Sem informação - 8%.
Em alta, diz coordenadora Segundo Andreia Silvério, coordenadora nacional da CPT, a violência na Amazônia tem crescido não só em mortes, mas também em relação ao número de pessoas ameaçada de morte e casos de invasão a territórios indígenas, unidades de conservação, quilombolas, comunidades tradicionais.