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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
Considerada uma parlamentar promissora da bancada evangélica no início do mandato, a deputada Flordelis (PSD-RJ) voltou a atuar na Câmara de maneira discreta depois de submergir em meio às investigações da morte de seu marido, em junho.
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado a tiros na garagem de casa em Pendotiba, Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro.
Deputada de primeiro mandato, Flordelis era um dos novos nomes fortes da Frente Parlamentar Evangélica na 56ª Legislatura, afirmaram seus pares à reportagem.
Ela chegou a colocar sua candidatura para concorrer à presidência da bancada, uma das principais aliadas ideológicas de Jair Bolsonaro no Congresso, com 203 parlamentares.
Não subiu ao comando dos evangélicos -desistiu da candidatura em prol de Silas Câmara (Republicanos-AM)-, mas emplacou uma das vice-presidências.
Mãe de 55 filhos, sendo 51 adotivos e quatro biológicos, foi aclamada por colegas no plenário após discurso sobre adoção, em maio. O clima mudou depois do dia 16 de junho, quando seu marido, Anderson -que os colegas de bancada ouvidos afirmam em uníssono ter sido, até então, o comandante do mandato da mulher nos bastidores- foi morto.
Nos meses seguintes, a deputada submergiu. Voltou ao plenário da Casa em julho, quase um mês depois do crime, quando o desenrolar do caso já havia resvalado em sua história de conto de fadas.
Dois de seus filhos, um biológico e outro adotivo, confessaram envolvimento no assassinato e foram presos. Membros da família apontaram o dedo para a deputada.
Em agosto, a polícia afirmou não descartar a possibilidade de seu envolvimento no crime. Por meses, Flordelis passou a ser presença rara no plenário, dizem seus pares tanto da bancada evangélica como do Rio de Janeiro.
A reportagem presenciou sessões em que a congressista marcou presença e deixou o plenário apressada. Quando passava, deixava um burburinho entre os colegas, que especulavam sobre o caso e as implicações da deputada.
A agenda de adoção também perdeu espaço nas redes sociais da parlamentar, que passou a publicar com menos frequência.
"Como a nossa Flor está recebendo muitas mensagens negativas, nós, os filhos dela decidimos filtrar as mensagens e repassar apenas as positivas pois o que nossa mãe precisa nesse momento é de apoio e carinho. Obrigada pela mensagem e peço que continue orando por nós e por ela!", dizia uma publicação de julho.
A bancada evangélica chegou a discutir o afastamento da deputada da posição de vice-presidente, mas desistiu. Em novembro, Flordelis decidiu retomar o ritmo de atividade parlamentar, mas tem evitado holofotes.
Na sessão solene em homenagem ao Dia do Evangélico, cantou um louvor no plenário -durante a manhã, as sessões têm baixo quorum. As redes sociais também retomaram o ritmo de publicações.
Cantora gospel, a deputada chegou a Brasília com mais votos do que qualquer outra mulher no estado do Rio de Janeiro. Cerca de 196 mil eleitores foram às urnas em 2018 apoiar a também pastora, fundadora de uma igreja com seu nome.
O motivo apontado por colegas para a retomada é o arrefecimento do noticiário sobre as investigações do crime, e a aproximação de 2020, ano eleitoral. Procurada, a deputada afirmou por meio de sua assessoria que não descarta se candidatar a um posto no Executivo.
"Essa decisão caberá ao PSD, partido da deputada. Se ela for convocada, avaliará a questão no tempo apropriado", diz a nota.
A deputada aproximou no início do ano da ala ideológica do governo Bolsonaro. Ela apareceu ao lado da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) em vídeo sobre a "Cruzada da Adoção", seminário capitaneado por ela na Câmara dos Deputados.
Até junho, a conta de Flordelis no Instagram era preenchida com poses ao lado de membros do primeiro escalão: além de Damares (na agenda de quem consta duas vezes no primeiro semestre), figuraram o próprio Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, por exemplo.
Na sessão de 23 de maio, Flordelis subiu à tribuna da Câmara para fazer um discurso inflamado em defesa da adoção.
"Foi andando pelos becos da favela que eu me deparei com a dura realidade de crianças e adolescentes sendo apadrinhados pelo tráfico de drogas. Decidi descruzar os braços e fazer algo por essas crianças e adolescentes", afirmou ela, recebendo palmas dos colegas de plenário.
"Eu queria me dirigir à deputada e dizer estou rendendo homenagens a Vossa Excelência", afirmou Édio Lopes (PL-RR) ao microfone, quando Flordelis desceu ao plenário para receber cumprimentos de outros deputados.
A congressista afirmou ainda que aguarda a conclusão do caso e que não comenta as investigações em curso.