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porto velho, domingo 22 de dezembro de 2024
WELLINGTON, NOVA ZELÂNDIA - Ao menos 49 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas durante ataques a duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, nesta sexta-feira, 15, no pior massacre a tiros da história do país, condenado pela primeira-ministra Jacinda Ardern como terrorismo. Segundo o jornal Washington Post, parte das ações foi transmitida ao vivo em uma rede social por um homem que escreveu na internet um manifesto de 74 páginas contra muçulmanos e imigrantes.
No texto, o principal suspeito - que alega ser autor dos ataques - diz que seguia o exemplo de extremistas como o supremacista branco Dylann Roof, que matou nove fiéis negros em uma igreja em Charleston, no Estado americano da Carolina do Sul, em 2015. O manifesto cita como motivação o "genocídio branco", termo geralmente utilizado por grupos racistas para se referir à imigração e ao crescimento de minorias.
Autoridades disseram que quatro suspeitos eram mantidos sob custódia - três homens e uma mulher -, mas depois esclareceram que apenas três deles tinham envolvimento nas ações e um foi solto. Um homem de cerca de 30 anos, cuja identidade não foi divulgada, foi preso acusado de assassinato e se apresentará ao tribunal no sábado.
O comissário Mike Bush afirmou que foram encontrados "dispositivos explosivos nos veículos utilizados pelos suspeitos" e que o Exército conseguiu desarmar as bombas. Ele detalhou que 41 pessoas morreram na mesquita de Masjid Al Noor, no centro da cidade, outras 7 na de Linwood, localizada a cerca de 5 km da primeira, e uma no hospital. O departamento de saúde local informou que 48 feridos, incluindo crianças, recebiam atendimento no Hospital de Christchurch.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, confirmou que entre os detidos há um cidadão australiano, mas as autoridades locais não informaram as identidades de cada um. De acordo com Jacinda Ardern, todos eles têm visão extremista, mas não eram vigiados pela polícia. Ela afirmou que o nível de ameaça à segurança nacional foi elevado para o segundo mais alto e que forças antiterrorismo foram ativadas em todo o país e na Austrália.
A polícia advertiu a população a evitar as mesquitas em todo o país e ressaltou que não procura mais suspeitos. Um enorme cordão policial foi formado para isolar parte de Christchurch, cidade da Ilha do Sul da Nova Zelândia. Mike Bush afirmou que todas as escolas da cidade estão fechadas e a polícia pediu "às pessoas no centro que evitem permanecer nas ruas e informem qualquer comportamento suspeito".
Policiais retiraram os moradores de uma propriedade perto da cidade de Dunedin, suspeitos de ligação com os ataques às duas mesquitas, o mais grave contra muçulmanos em um país ocidental.
Tragédia
Na mesquita Masjid Al Noor, um imigrante palestino que pediu para não ser identificado disse que viu um homem ser baleado na cabeça. "Escutei três tiros e após uns dez segundos tudo começou novamente. Devia ser uma arma automática porque ninguém consegue apertar o gatilho tão rapidamente", contou ele. Segundo testemunhas, "as pessoas saíram correndo" do local, "algumas cobertas de sangue".
Uma testemunha, Len Peneh, disse que viu um homem com roupas pretas entrar na mesquita e logo depois escutou dezenas de disparos. Ele contou também que viu o agressor enquanto fugia antes da chegada das equipes de emergência, e que entrou no local para tentar ajudar. "Vi mortos por todos os lados." Minutos depois, a imprensa local reportou disparos em outra mesquita.
No momento do atentado, a mesquita Masjid Al Noor estava repleta de fiéis, incluindo a equipe de cricket de Bangladesh. Segundo testemunhas, os jogadores conseguiram fugir para um parque ao lado do prédio, no centro da cidade.
Um porta-voz da equipe confirmou que todos os jogadores, que estão no país para uma partida, conseguiram escapar ilesos. "Estão em segurança, mas também em estado de choque. Dissemos para toda a equipe ficar confinada no hotel", informou o porta-voz. O jogo que estava marcada para este sábado contra a Nova Zelândia foi cancelado.
A companhia aérea Air New Zealand cancelou ao menos 17 voos que chegariam ou sairiam de Christchurch, sob o argumento de que os funcionários não poderiam rastrear passageiros e suas bagagens.
Ataque ao vivo na internet
Um vídeo de 17 minutos publicado em uma rede social mostra momentos do ataque. As imagens, feitas a partir de uma câmera instalada em um capacete utilizado pelo atirador, mostram o rosto do suspeito através do espelho retrovisor de um veículo. Ele aparece dirigindo pelas ruas de Christchurch antes de estacionar em frente à mesquita de Masjid Al Noor, entrar e efetuar os disparos.
É possível vê-lo deixar o local e disparar em várias direções na calçada antes de voltar ao carro para pegar outra arma. Ao retornar ao prédio, ele atira contra diversas pessoas próximas. Depois de alguns minutos, ele volta ao veículo e foge. "Não houve sequer tempo para mirar, havia tantos alvos", diz o homem do vídeo. A polícia fez um apelo para que as pessoas não compartilhem nas redes sociais "imagens extremamente insuportáveis".
Antes do ataque, um suspeito publicou links no Twitter e uma mensagem no fórum 8chan sobre o manifesto e para um perfil no Facebook no qual um indivíduo falava que transmitiria ao vivo o ataque. No texto, o autor se identifica como um homem branco de 28 anos nascido na Austrália. Ele descreve suas motivações, dentre as quais está a defesa de "nossas terras" de "invasores" e a garantia de "um futuro para as crianças brancas".
Além disso, o suspeito fala sobre o objetivo de "reduzir diretamente as taxas de imigração" e explica que escolheu a Nova Zelândia como alvo para mostrar que não há mais nenhum lugar no mundo "seguro e livre da imigração em massa". No documento, ele fala que "foi inspirado pelo Cavaleiro Justiceiro Breivik", em referência ao massacre cometido pelo neonazista Anders Breivik na Noruega em 2011.
"Tive apenas um breve contato com o Cavaleiro Justiceiro Breivik e recebi uma bênção para minha missão depois de entrar em contato com seus irmãos cavaleiros", escreveu o suspeito. Breivik matou 77 pessoas no dia 22 de julho de 2011 ao explodir uma bomba perto da sede do governo em Oslo e depois abrir fogo contra um acampamento da Juventude Trabalhista na ilha de Utoya.
O Twitter disse que excluiu a conta na qual os links foram publicados e está "trabalhando para remover o vídeo da plataforma", segundo um porta-voz da empresa. O Facebook "removeu rapidamente o vídeo e as contas do atirador do Facebook e do Instagram" assim que a companhia foi alertada pela polícia, afirmou a porta-voz Mia Garlick em um comunicado. "Também estamos removendo qualquer elogio ou apoio ao crime e ao atirador ou atiradores."
Suspeita de vingança
A mãe de uma menina sueca morta em um ataque jihadista em 2017 condenou nesta sexta o atentado às mesquitas na Nova Zelândia. O atirador disse em seu manifesto que pretendia vingar a morte da garota.
A ação "vai contra tudo o que Ebba defendia", afirmou Jeannette Akerlund, à TV pública SVT. "Ela espalhava atenção e amor a seu redor, não o ódio. Estou sofrendo com as famílias afetadas e condeno todas as formas de violência."
Ebba Akerlund, de 11 anos, morreu no dia 7 de abril de 2017, ao ser atropelada por um caminhão em uma rua comercial de Estocolmo por Rakhmat Akilov, um imigrante do Uzbequistão. Ele foi condenado à prisão perpétua em junho de 2018. Antes do ataque, Akilov prometeu fidelidade ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Jacinda Ardern lamentou que seu país vive um dos "dias mais obscuros" de sua história diante das "múltiplas vítimas" nas duas mesquitas. "Fica claro que este é um dos dias mais obscuros da Nova Zelândia. Claramente o que ocorreu aqui foi um ato de violênciaextraordinário e sem precedentes." Segundo ela, "muitas pessoas afetadas diretamente pelo ataque devem ser imigrantes, talvez refugiados, que escolheram a Nova Zelândia para seu lar".
O líder da oposição, Simon Bridges, manifestou publicamente seu "apoio à comunidade islâmica" local. "Ninguém neste país deveria viver com medo, não importa sua etnia ou religião." O premiê Scott Morrison se declarou "horrorizado com as informações" sobre os ataques no país vizinho.
A rainha Elizabeth II da Inglaterra, que também é chefe de Estado da Nova Zelândia, se declarou "profundamente triste com os terríveis acontecimentos em Christchurch hoje". "Neste momento trágico, meus pensamentos e orações estão com todos os neozelandeses", afirmou ela em um comunicado publicado em Londres. "O príncipe Philip e eu enviamos nossas condolências às famílias e amigos das pessoas que perderam a vida."
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, qualificou os ataques como um "horrível massacre". "Minhas mais sinceras condolências e meus melhores desejos ao povo da Nova Zelândia após o horrível massacre nas mesquitas", disse o republicano no Twitter.
A Nova Zelândia é conhecida por ser um país de baixa criminalidade, onde o "uso de armas de fogo em crimes é um evento raro", segundo as orientações do departamento americano de Estado para viajantes dos EUA. Em 2017, houve 35 assassinatos no país e, desde 2007, a taxa de homicídios com armas é de apenas um dígito - com exceção de 2009, quando foram registrados 11 casos.
Contudo, há muitas armas em circulação na Nova Zelândia. De acordo com a Small Arms Survey, uma organização suíça sem fins lucrativos, cerca de 1,2 milhão de armas de fogo foram registradas em 2017 no país de 4,6 milhões de habitantes. Proprietários precisam ter licença, que é obtida a partir de um processo que inclui uma revisão das atividades criminais e de saúde do indivíduo, a participação em um programa de segurança, um curso de como utilizar uma arma, uma visita ao lar do requerente para garantir que ele dispõe de um local seguro para armazenar o objeto, e depoimentos de parentes e amigos.