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Em quarto dia de protestos, polícia dispara contra manifestantes no Iraque

Manifestações contra corrupção e desemprego já deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos. Principal autoridade dos xiitas expressou seu apoio à mobilização.


G1

Publicada em: 04/10/2019 16:08:27 - Atualizado

MUNDO: A policiado Iraque atirou nesta sexta-feira (4) contra pessoas que protestavam em Bagdá, neste quarto dia consecutivo de distúrbios pelo país. De acordo com a agência Reuters, as forças policiais pareciam ter como alvo manifestantes individuais. Repórteres da agência viram uma pessoa cair no chão depois de levar um tiro na cabeça. Ele foi declarado morto no hospital.

Em outro lugar da capital, uma equipe de televisão da Reuters viu um homem gravemente ferido por um tiro no pescoço depois que atiradores de elite nos telhados abriram fogo contra uma multidão.

As manifestações no Iraque, que está em toque de recolher, já deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos. A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu uma investigação sobre a repressão policial.

Desde terça-feira (1º), as forças de segurança têm usado gás lacrimogêneo para dispersar os protestos, que estão se intensificando. Porém, nesta sexta, testemunhas disseram que abriram fogo diretamente contra as pessoas, não atiraram para o alto.

O balanço de vítimas nesses dias de protestos em todo o país ainda não está claro. De acordo com a France Presse, 33 pessoas morreram. A Associated Press diz que esse número já chegou a 42, e a Reuters fala em 46.

Na maior parte do país, o acesso à internet está cortado desde quarta-feira – uma medida do governo para tentar acabar com os protestos.

As manifestações contra a corrupção das autoridades, por melhores serviços e por mais emprego para os jovens tiveram início nas redes sociais. Elas não têm liderança única, como representantes de partidos políticos ou líderes religiosos. A maior parte dos atos acontece em Bagdá e nas áreas predominantemente xiitas do sul do país.

Apoio de líder xiita

Nesta sexta, o aiatolá Ali Sistani, principal autoridade dos xiitas do Iraque, expressou seu apoio às manifestações, mas pediu aos manifestantes e às forças de segurança que evitem a violência. Ele também pediu ao governo uma resposta "antes que seja tarde".

"O governo deve cumprir com seu dever e melhorar os serviços públicos, proporcionar empregos aos que não têm, evitar o clientelismo no setor público e acabar com a corrupção, levando os responsáveis à justiça", afirmou Sistani, em um sermão lido por um de seus auxiliares.

"O governo e os políticos não responderam às exigências do povo para que combatam a corrupção nem fizeram nada no país. O Parlamento é o maior responsável pelo que está acontecendo", declarou.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos considerou as manifestações legítimas e pediu ao Iraque uma investigação rápida e transparente sobre as mortes dos últimos dias.

"Pedimos ao governo iraquiano que permita à população exercer seu direito a assembleia pacífica e liberdade de expressão", disse Marta Hurtado, porta-voz do Alto Comissário, em uma entrevista coletiva em Genebra.

"Estamos preocupados com informações que indicam que a polícia usa balas de borracha e munição real em algumas áreas e que jogou gás lacrimogêneo contra os manifestantes. Todos os incidentes em que policiais causaram mortes e feridos devem ser submetidos a uma investigação rápida, independente e transparente", declarou a porta-voz.

'Sem solução mágica'

Mais cedo, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, defendeu seu governo e afirmou que a crise "ameaça destruir todo o Estado".

"Não faremos promessas vazias nem prometeremos o que não podemos alcançar", disse Abdul-Mahdi, em pronunciamento televisionado.

O premiê disse que "não há solução mágica" para os problemas do país, mas prometeu trabalhar nas leis que concedem às famílias pobres uma renda básica, fornecer moradias alternativas aos infratores e combater a corrupção.

“As medidas de segurança que estamos tomando, incluindo toque de recolher temporário, são escolhas difíceis. Mas, como remédios amargos, são inevitáveis. Temos que voltar à vida normal em todas as províncias e respeitar a lei ”, afirmou.

O NetBlocks, grupo que monitora bloqueios à internet, afirmou que a rede, que estava fora do ar no Iraque, foi brevemente restaurada antes do discurso de al-Mahdi. Porém, enquanto o discurso ainda estava sendo transmitido, a conexão voltou a cair logo que apareceram vídeos dos protestos.

Tensão

Os protestos põem em xeque o governo de Adel Abdul-Mahdi, que está perto de completar um ano. Nos atos, jovens formados em universidades iraquianas protestam contra a dificuldade em se encontrar emprego em um país sem dinheiro, mas que é rico em petróleo.

A onda de violência e de revolta contra o governo coloca o Iraque em mais um capítulo de crise política desde a deposição do regime de Saddam Hussein pelos Estados Unidos, em 2003. Até por isso, a situação preocupa a Casa Branca, já que há ainda milhares de militares norte-americanos em território iraquiano.

Outro fator de preocupação é a crise ocorrer em meio à tensão entre os EUA e o Irã – país vizinho ao Iraque –, sobretudo após os recentes ataques a petroleiras na Arábia Saudita, aliada dos norte-americanos.













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