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porto velho, quinta-feira 23 de janeiro de 2025
O ano de 2022 começou com uma forte tensão na política internacional, em torno da possibilidade de a Rússia invadir a Ucrânia, e a possível resposta dos Estados Unidos e seus aliados, em especial os países europeus, nesse cenário.
Diplomaticamente, a situação na região ainda parece distante de uma resolução, apesar de tentativas de negociação por parte dos diversos atores envolvidos.
Isso ocorre porque, na avaliação dos analistas, existem hoje ameaças econômicas mais relevantes: o movimento de alta de juros nos Estados Unidos que deve começar em março, a aparente desaceleração da economia da China e, em menor grau, a possibilidade do surgimento de novas variantes e piora na pandemia.
Comparado a esses elementos, apenas uma elevação significativa na situação ucraniana, como uma invasão efetiva teria um impacto maior, o que, para Paulo Feldmann, professor da FEA-USP, é “improvável” atualmente.
Feldmann afirma que, até o momento, a crise não teve um impacto significativo na economia mundial, contribuindo muito mais para um cenário de “apreensão, um temor, mas de fato ainda não ocorreu nada”.
O professor avalia que a paralisação da situação, com uma via diplomática travada e a Europa ainda receosa de apoiar mais enfaticamente os Estados Unidos contra a Rússia, limita os efeitos da crise.
Para Livio Ribeiro, pesquisador do Ibre-FGV, o receio europeu está ligado a um cenário de risco maior no continente caso a situação na Ucrânia piore. Ele afirma que a Europa teria mais o que perder do que outras regiões, e que para a região, a tensão atual é um risco menor apenas do que a alta de juros nos Estados Unidos.
“A Rússia tem utilizado o suprimento de gás na Europa como uma arma nesse cenário, o que impacta diretamente os preços de energia e inflação na Europa”, diz. O país fornece cerca de 40% de todo o gás natural consumido no continente, o que dá um poder de impacto grande caso esse suprimento seja interrompido.
Ribeiro afirma que “é uma questão particularmente ruim para a Europa, e impacta um setor da economia europeia, o de energia, que tem sido muito afetado recentemente e influencia na inflação, em especial de curto prazo, e na atuação do BCE [Banco Central Europeu]”, podendo pressionar as autoridades em relação a altas de juros.
Indo além da situação na Europa, Ribeiro afirma que o cenário de tensão gera uma aversão a investimentos de risco, o que por consequência afeta preços de ativos vistos como voláteis ou menos seguros.
Mesmo assim, ele avalia que, a nível global, a situação na Ucrânia ainda fica atrás da alta de juros nos Estados Unidos e da situação chinesa e da pandemia, pensando em efeitos na economia.
Ian Cao, CIO da Gama Investimentos, diz que a tensão atual ocorre em um momento em que a maioria das grandes economias lida com níveis altos de inflação. A Ucrânia é um país importante no setor de commodities, sendo um grande produtor de trigo e milho e um canal de transporte para óleo e gás.
Os preços desses produtos já têm subido devido à possibilidade de conflito, mas de forma modesta. Se as altas piorarem, porém, os países “devem sofrer. Mas é difícil se antecipar a esses eventos”.
Além disso, ele afirma que a diversidade de fatores que influenciam os preços de ativos torna difícil isolar a contribuição específica de cada elemento, “principalmente em um cenário com coisas estruturalmente mais importantes para o dólar.”
“O pano de fundo é um ciclo positivo de commodities, que ajuda o Brasil, mas talvez o desenvolvimento mais importante é que depois de quase uma década de política de impulso fiscal, estamos em uma reversão nos Estados Unidos”, diz, citando a posição do Federal Reserve, banco central norte-americano, de elevar os juros em 2022 para combater a inflação.
Para Feldmann, o impacto econômico seria significativo apenas em caso de conflito. O mercado também parece ter temores reduzidos com o cenário atual, como aponta o índice VIX, que tenta medir a volatilidade nos investimentos, bem afastado de níveis de crises atingidos em 2008 ou no início da pandemia, acima de 80 pontos. Na terça-feira (1º), ele fechou e 21,96 pontos.