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Metade dos russos aprovam uso da força militar para manter a Ucrânia fora da Otan

Um em cada dois russos (50%) diz que seria correto, enquanto apenas um quarto (25%) diz que seria errado.


CNN

Publicada em: 23/02/2022 17:27:57 - Atualizado

MUNDO: Enquanto o mundo aguarda para ver se a Rússia invadirá ou não a Ucrânia, uma nova pesquisa em ambos os países concluiu que duas vezes mais russos acreditam que seria correto para o Moscou usar a força militar para impedir Kiev de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) do que aqueles que são contra.

Um em cada dois russos (50%) diz que seria correto, enquanto apenas um quarto (25%) diz que seria errado. O outro quarto de entrevistados (25%) está indeciso, de acordo com a pesquisa.

Entretanto, a enquete também constatou que mais russos pensam que seria errado usar a força militar para “reunir a Rússia e a Ucrânia”, dois países com uma história de ligação longa e complicada.

São números próximos: 43% dos russos disseram que o uso da força militar contra a Ucrânia para aderir à Rússia estaria errado, enquanto 36% disseram que estaria correto. Os restantes disseram que não sabiam.

Talvez sem surpresas, a maioria das pessoas na Ucrânia discordam do uso da força contra elas. Sete em cada 10 entrevistados disseram que seria errado para a Rússia usar a força militar para impedir a Ucrânia de aderir à Otan (70%) ou de reunir os dois países (73%).

A maioria dos ucranianos rejeita a afirmação do presidente russo Vladimir Putin feita no discurso de segunda-feira (21) de que a Ucrânia não tem base histórica e é essencialmente uma criação da União Soviética.

Em todo o país e em todas as idades, a maioria dos ucranianos diz que não são um só povo com os russos e que os dois países não devem ser um.

Aplicada em mais de mil pessoas em cada país, a pesquisa foi feita on-line entre 7 e 15 de fevereiro, antes do discurso de Putin na segunda-feira e do reconhecimento de Moscou de duas repúblicas separatistas na Ucrânia.

Muitos na Rússia acreditam que o seu país estaria fundamentalmente ameaçado por uma maior expansão da Otan para a Ucrânia, de acordo com Vladimir Pozner, veterano jornalista e âncora da televisão russa e soviética.

“Isso demonstra que, caso a Ucrânia se torne membro da Otan e as forças da Otan forem destacadas às portas da Rússia, isso constituiria uma ameaça existencial e, por conseguinte, é algo não pode ser permitido”, afirmou Pozner à CNN.

Orysia Lutsevych, chefe do Fórum da Ucrânia no think tank Chatham House em Londres, pintou uma imagem mais sombria da perspectiva russa.

“A Rússia dos tempos modernos tem uma síndrome de impérios em colapso. A perda dessas terras é apresentada como ‘injustiça histórica’ que deve ser retificada, inclusive pela força. A Ucrânia é vista como uma joia da coroa que está ‘sendo roubada pela Otan’. Ao insistir no antigo alarmismo soviético dos EUA e da Otan, os russos acreditam que é um bloco agressivo que atrapalha a unidade entre a Rússia e a Ucrânia”.

Medo do primeiro ataque

Diferentemente dos avisos ocidentais de que o presidente russo Vladimir Putin está deslocando forças para atacar o país vizinho, apenas 13% dos russos acham que o Kremlin está prestes a iniciar uma ação militar na Ucrânia.

A maioria dos russos também não espera um ataque ucraniano ao seu país: apenas 31% dos russos disseram que isso era provável. Na verdade, dois em cada três (65%) esperam um fim pacífico das tensões entre a Rússia e a Ucrânia.

“A razão pela qual 75% dos russos pensam que a Rússia não invadirá a Ucrânia é simplesmente por causa do que leem nos seus jornais e veem na televisão. Não há, basicamente, histeria, nenhuma batida nos tambores da guerra — há uma mensagem consistente de que não queremos uma guerra e não vamos começar”, contou Pozner.

O jornalista russo afirmou que os russos não são ingênuos nem ignorantes dos avisos dos líderes ocidentais de que Putin considera invadir a Ucrânia.

Ele explicou: “Os russos sabem o que os líderes ocidentais estão dizendo. As declarações deles são amplamente exibidas nos meios de comunicação social. O sentimento geral é de que o Ocidente, na verdade, quer que a Rússia ataque a Ucrânia porque isso seria vantajoso para o Ocidente, que assim pode atacar a Rússia”.

Mas Pozner argumentou que os russos entenderiam uma invasão da Ucrânia seria dispendiosa.

“Eles também acham que, embora a Ucrânia não pudesse resistir a uma invasão russa total, a Rússia perderia muito mais com isso do que ganharia com qualquer vitória militar”, pontuou.






No entanto, de acordo com Lutsevych, a prevalência na Rússia de considerar que o seu país não iria invadir a Ucrânia pode ilustrar “como os meios de comunicação social e a desinformação, ambos controlados pelo estado russo, estão moldando uma realidade alternativa para a população russa”.

“No interior da Rússia, o Ocidente é apresentado como um vilão que está se aproveitando da Ucrânia para minar a grandeza da Rússia. Em caso de agressão militar russa, a Rússia será retratada como uma oponente das forças norte-americanas e da Otan, e não uma assassina de seus irmãos eslavos”, projetou Lutsevych.

Entretanto, menos ucranianos do que os russos acreditam que haverá um fim pacífico às tensões – apenas 43% esperam isso. Já os ucranianos estão divididos sobre a possibilidade de a Rússia iniciar uma guerra – 42% esperam por isso, enquanto 45% pensam que é improvável. Os restantes 13% dizem que não sabem.

Mais de metade dos russos (57%) e três quartos dos ucranianos (77%) consideram que é pouco provável que a Ucrânia inicie uma ação militar na Rússia num futuro próximo, com apenas 31% na Rússia e 13% na Ucrânia a dizer que pensam que é provável que a Ucrânia instigue um conflito militar.

Os russos e os ucranianos nem sequer concordam em saber se existem forças militares russas nas zonas orientais separatistas controladas da Ucrânia, conhecidas como Donbas: três quartos dos ucranianos (73%) acreditam que há tropas russas, em oposição a um em cada cinco russos (19%).

Os russos mais jovens eram mais prováveis do que a população geral (em 28%) em dizer que suas tropas estavam em Donbas. A enquete foi concluída antes do anúncio de Putin de que a Rússia enviaria o que denominava de “forças de manutenção da paz” para as regiões.


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