Fundado em 11/10/2001
porto velho, sexta-feira 29 de março de 2024
BRASIL: Na manhã da última terça-feira (20), um arquiteto de 28 anos, chegava para fazer o orçamento da obra de uma casa na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, quando dois homens o obrigaram a voltar para dentro do carro. Com uma arma apontada para sua cabeça, o jovem dirigiu por cerca de dez minutos, foi comunicado de que se tratava de um sequestro relâmpago e, por ordem dos bandidos, teve R$ 1.200 transferidos de sua conta bancária, por meio do PIX. Não foi um episódio isolado: a tecnologia criada para facilitar a vida de correntistas está sendo usada por criminosos para exigir o pagamento de resgates. Em dois meses, pelo menos seis casos foram registrados na Região Metropolitana do Rio.
Em depoimento na 37ª DP (Ilha do Governador), o arquiteto relatou que os bandidos tentaram fazer um empréstimo por meio do aplicativo da instituição financeira instalado em seu celular. Sem sucesso, apelaram para o PIX do valor total disponível em sua conta-corrente. O rapaz foi forçado ainda a ligar para o pai, que é marceneiro, e para a mãe, uma técnica de enfermagem, para que eles também realizassem esse tipo de transferência. Mas o casal não tinha dinheiro.
Também no bairro, uma moradora foi abordada perto de casa, e teve que pedir ao marido para fazer uma transferência de R$ 2.500.
— Foi tão agressivo que estou em pânico de sair à rua depois disso — resumiu.
À frente da Delegacia Antissequestro (DAS), o delegado Claudio Góis admite que a facilidade do PIX beneficia a atuação das quadrilhas. Mas ele ressalta: as transferências deixam rastros. É possível identificar o destinatário que recebe os valores, e ele pode ser acusado pelo crime.
— Mesmo que uma pessoa tenha aceitado receber de boa-fé a transferência, ela poderá indicar quem pediu para usar a conta dela — diz o delegado.
Nem esse possível rastreamento tem inibido os bandidos. No último dia 14 de junho, um vendedor de uma loja de carros de Botafogo, na Zona Sul, recebeu a ligação de um suposto comprador interessado em quatro veículos. Ele marcou de assinar o contrato no escritório do “cliente”, em Irajá. Ao chegar, foi obrigado a entrar em um carro, levado para a Favela Jorge Turco, em Coelho Neto, e acabou tendo R$ 80 mil transferidos de sua conta-corrente, em seis transações via PIX.
Em uma delas, o gerente do banco ligou para seu celular, ao estranhar a movimentação. Mas, ameaçado por dois homens armados, ele respondeu que as operações eram válidas. O caso foi registrado na 40ª DP (Honório Gurgel).
Diferentes abordagens
Já no último dia 8, quatro bandidos que exigiam resgate usando PIX foram presos pela DAS, em São Gonçalo. O bando entrava em contato com empresários e comerciantes, pedindo orçamentos de serviços. Ao encontrar as vítimas, eles as obrigavam a fazer transferências e a contratar altos empréstimos. No caminho, ainda roubavam seus pertences e telefonavam para parentes, exigindo resgate. Um quinto suspeito, Ricardo Patrick Vieira dos Santos, foi preso nesta terça-feira.