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    porto velho, sábado 22 de fevereiro de 2025

Mesmo com denúncia da PGR, Bolsonaro e a direita não perdem força para 2026, dizem analistas

Especialistas entrevistados pelo R7 avaliam que o caso pode fortalecer outros candidatos conservadores


R7

Publicada em: 20/02/2025 10:17:41 - Atualizado

BRASIL: Com mais de um ano até as eleições de 2026, a denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode influenciar o cenário político brasileiro e a corrida pelos votos. Especialistas entrevistados pelo R7 avaliam que o caso pode retirar Bolsonaro do jogo, mas fortalecer outros candidatos conservadores e reacender o discurso da base de apoio do ex-presidente, que ainda tem grande peso eleitoral.

Segundo o cientista político André César, a direita pode até “perder Bolsonaro como candidato, mas a ideologia e a mobilização continuam”.

A denúncia, apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na terça-feira (18), aponta o ex-presidente como peça central em uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

O documento de 272 páginas, que será analisado pela Primeira Turma do STF, descreve como o suposto plano teria sido arquitetado, detalha o envolvimento de Bolsonaro e outros 33 aliados e apresenta evidências, como o discurso que teria sido preparado caso o golpe tivesse sido concretizado.

Para o cientista político Daniel Pinheiro, professor da Udesc Esag, o momento lembra a crise vivida pelo lulismo no passado. Ele ressalta que, quando figuras políticas polarizadoras enfrentam processos judiciais, isso pode gerar um efeito de comoção e fortalecer sua base de apoio, independentemente do desfecho jurídico.

“Essas lideranças não representam apenas uma pessoa, mas sim uma ideia. E essa ideia pode ser maior do que a própria figura política. No caso de Bolsonaro, o que estamos vendo desde a denúncia da PGR é uma reação intensa de seus apoiadores nas redes sociais. Esse fenômeno cria um movimento de defesa, no qual a figura do líder é vista como alguém que está se sacrificando por seus seguidores”, analisa Pinheiro.

Segundo ele, a base bolsonarista continua fiel e pode se reorganizar em torno da narrativa de perseguição política. “Ao mesmo tempo que Bolsonaro pode ficar fora da disputa, sua ausência pode fortalecer novas candidaturas dentro da direita, pois o discurso pode se transformar em ‘quem vai protegê-lo?’ e ‘quem pode continuar seu legado?’”, explica.

A influência de Bolsonaro

Para Pinheiro, a denúncia contra Bolsonaro pode levar a direita a dois caminhos distintos: buscar uma candidatura mais moderada para ampliar o eleitorado ou radicalizar ainda mais o discurso, tentando manter a base mais fiel engajada.

“A direita continuará empunhando suas bandeiras, como a defesa da pauta de costumes, a educação cívico-militar e questões ligadas à segurança pública. Mas a questão agora é saber se isso será feito de forma mais pragmática e estratégica ou se haverá um aprofundamento da radicalização”, avalia.

Ele observa que a cultura política brasileira favorece o surgimento de nomes populares, e isso pode ser explorado por líderes da direita que tentam ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. “Não se pode descartar a ascensão de figuras externas à política tradicional, como empresários, influenciadores ou até celebridades que adotem esse discurso conservador”, comenta.

Para o professor, o Brasil vive um momento de reconfiguração política que ainda não está definido. “A ausência de Bolsonaro como candidato pode levar a uma disputa interna dentro da direita, mas uma coisa é certa: esse campo político continuará relevante e disputando espaço. O nome que surgirá como principal liderança ainda não está totalmente definido, mas com certeza alguém ocupará esse espaço”, conclui.

O cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, aponta que nomes como Tarcísio de Freitas (Republicanos), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) começam a se movimentar para ocupar o espaço de Bolsonaro.

Ele também destaca que a denúncia pode ter um efeito de unificação entre os apoiadores do ex-presidente. “Nas redes sociais, apoiadores já começaram a reagir, pedindo união. Já há uma manifestação convocada para o dia 16 de março. Mesmo sem poder disputar, Bolsonaro pode seguir sendo um fator de mobilização e manter sua influência política”, explica.

Segundo André César, o campo conservador pode até radicalizar ainda mais o discurso, mantendo as pautas defendidas pelo ex-presidente.

“A direita vai continuar empunhando suas bandeiras, como a pauta de costumes, educação cívico-militar, segurança pública e temas relacionados à liberdade de expressão e religião”, ressalta.

A direita pode buscar um candidato mais moderado?

A busca por um nome moderado, que consiga dialogar com eleitores conservadores sem adotar uma postura tão radical, é uma possibilidade discutida há anos, mas que ainda não se concretizou nas urnas. André César lembra que, nas últimas eleições, candidaturas mais ao centro, como Simone Tebet (MDB) em 2022, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) em 2018, e Marina Silva (Rede) em 2014, não tiveram sucesso.

“Sempre se fala na necessidade de um candidato moderado, mas a realidade mostra que esses nomes não conseguem se firmar. O histórico das últimas eleições é ruim para essa vertente da política brasileira”, observa.




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