Fundado em 11/10/2001
porto velho, sexta-feira 10 de outubro de 2025
PORTO VELHO — RO – O cenário político de Rondônia sofreu um abalo calculado. O senador Confúcio Moura (MDB), mestre na arte de dizer “não” até a última hora, parece ter finalmente ensaiado nos bastidores o “sim” que seus aliados tanto aguardavam.
Animado com a saída de Ivo Cassol (PP) da corrida ao CPA, Confúcio prepara-se para, mais uma vez, tirar sua candidatura da cartola — como quem finge surpresa com o que já vinha tramando há meses nas coxias.
Segundo apurou o Rondonoticias, o experiente emedebista vinha avaliando o terreno com a calma de quem observa o jogo do alto da arquibancada. Mas a lacuna deixada por Cassol reacendeu sua disposição de retornar ao comando do Estado. Após cuidadosos cálculos — e uma dose de otimismo eleitoral — Confúcio acredita poder herdar o eleitorado progressista de Rondônia, estimado em 33%, o suficiente, segundo seus fiéis escudeiros, para colocá-lo direto no segundo turno e dali para frente é conversa.
Fiel ao seu estilo quase teatral de negar até o impossível, Moura parecia manter o segredo sob controle — até que o enredo vazou antes do fim do primeiro ato. Durante a Caminhada da Esperança, em Ji-Paraná, no último fim de semana. Empolgado, o senador deixou escapar a amigos e aliados de esquerda que não apenas entrará na disputa, como já escolheu o vice: o ex-vice-governador Airton Gurgacz, indicado pelo ex-senador Acir Gurgacz (PDT).
A movimentação devolve fôlego ao MDB, que andava esfacelado desde a era Mosquini, e recoloca o partido no centro do tabuleiro político. Com Confúcio à frente, a legenda volta a falar grosso, mirando embates diretos com Sérgio Gonçalves, Hildon Chaves e Fernando Máximo, nomes que representam a ala governista e a direita rondoniense.
Mas nem tudo é cálculo. O senador, que apoia Lula em um estado majoritariamente bolsonarista, sabe que precisará de mais do que fórmulas e discursos para limpar a ferrugem da imagem desgastada em Rondônia.
A aposta agora é nacional: se Bolsonaro mantiver o quadro de desgraça judicial, Moura vislumbra um espaço para se reposicionar, disputar o eleitorado do centro e, quem sabe, abocanhar alguns votos órfãos da direita.
O retorno de Confúcio Moura à linha de frente, não surpreende quem conhece seu jogo de cena. Em Rondônia, é tradição: ele nega, nega e, no apagar das luzes, aparece com o crachá de candidato pendurado.
Pelo visto, a eleição de 2026, que já prometia tensão, ganha um toque de ironia — e o sabor conhecido de mais um enredo confuciano: o político que sempre chega atrasado no lançamento de seu nome nas disputas, mas nunca perde o trem do poder.