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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
BRASIL: A leucemia é um dos tipos de câncer mais comuns em homens e em mulheres, com 11 mil novos casos estimados entre 2020 e 2022, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer). O diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento de sucesso e, por isso, conhecer os sinais de alerta dessa doença é muito importante.
Esse é o objetivo por trás da campanha Fevereiro Laranja, que busca conscientizar as pessoas sobre a leucemia e, também, a respeito da importância da doação de medula óssea para o tratamento.
Recentemente, o assunto ganhou ainda mais notoriedade com o diagnóstico de Fabiana Justus, que revelou ter descoberto uma leucemia mieloide aguda, um dos tipos mais graves da doença.
A seguir, entenda o que é leucemia, seus principais sintomas, como é diagnosticada e por que a doação de medula óssea tem um papel fundamental no tratamento.
A leucemia é um tipo de câncer que envolve as células sanguíneas, principalmente os glóbulos brancos, mas podendo afetar também as plaquetas e os glóbulos vermelhos.
“Esse câncer tem origem na ‘fábrica do sangue’, que é a medula óssea. Essa ‘fábrica’ adoece e começa a produzir um tipo de célula tumoral que ocupa espaço na medula, fazendo com que as células normais não sejam produzidas adequadamente”, explica Roberto Magalhães, médico hematologista e responsável técnico pelo serviço de leucemia e transplante de medula óssea do Hospital Icaraí.
Existem diferentes tipos de leucemia, que podem ser classificados em agudos (crescimento rápido) ou crônicos (crescimento lento) e, também, pelo tipo de célula acometida pelo câncer (linfoide ou mieloide). Os principais tipos de leucemia são:
Ainda não existe uma causa definida para a leucemia, mas fatores genéticos e ambientais podem influenciar no desenvolvimento da doença. Assim como outros tipos de câncer, a leucemia surge devido a mutações no DNA, que podem ocorrer de maneira espontânea ou por influencia de fatores externos, como exposição à radiação ou a substâncias cancerígenas.
“O que nós sabemos é que acontecem mutações e alterações genéticas nas células da própria ‘fábrica do sangue’. Quando fazemos uma investigação mais refinada, identificamos que algumas dessas alterações genéticas vêm de origem familiar, enquanto outras são alterações adquiridas ao longo da vida”, explica Roberto.
Entre os principais fatores de risco externos para o desenvolvimento de leucemia estão o tabagismo, a exposição à benzeno (encontrado na gasolina), à radiação ionizante (presente nos raios X e gama), quimioterapia e exposição a agrotóxicos.
Os sintomas da leucemia ocorrem devido às alterações que a doença causa no sangue. “O fato das células doentes ocuparem a medula óssea acaba interferindo na produção das células normais. Então, os glóbulos vermelhos começam a diminuir e isso causa anemia”, explica Phillip Bachour, hematologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A anemia leva a sintomas como:
A leucemia também interfere na produção de plaquetas, o que pode aumentar as chances de sangramentos, já que essas células estão envolvidas no processo de coagulação do sangue. “Quando elas estão muito baixas, é possível notar hematomas frequentes, sangramento na gengiva e aparecimento de pontos roxos na pele”, completa o hematologista.
Por fim, a diminuição na produção de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa imunológica, aumenta o risco de infecções, que podem evoluir rapidamente para um quadro grave. Por isso, pessoas com leucemia podem ter infecções recorrentes.
Quando esses sintomas começam a ser recorrentes ou não possuem uma causa identificável, é preciso buscar ajuda médica. “Quando há uma anemia inexplicável, uma alteração dos glóbulos brancos com infecções graves ou plaquetas baixas no exame de sangue, com sinais de sangramento, não há dúvida que, neste momento, é necessário procurar o médico”, enfatiza Roberto.
O principal exame que ajuda no diagnóstico da leucemia é o hemograma completo. Quando seu resultado está alterado, com baixo número de plaquetas ou com a identificação de blastos (células doentes) no sangue, há a suspeita de leucemia. Nesse caso, o próximo passo é realizar o exame de medula óssea (mielograma), em que é retirado um mililitro do material esponjoso de dentro do osso para examinar as células presentes na região.
Confirmada a leucemia, é realizada a imunofenotipagem, um exame que avalia o fenótipo das células doentes, ou seja, as suas características, para entender qual é o tipo de câncer presente no sangue. “Com ele, somos capazes de dizer qual o tipo de leucemia, se ela é aguda ou crônica e qual é o seu subtipo [linfoide ou mieloide]. Então, a imunofenotipagem do sangue é considerado o padrão ouro para o diagnóstico da leucemia”, afirma Roberto.
O tratamento para leucemia varia de acordo com o tipo do câncer. No geral, o objetivo é destruir as células anormais para que a medula volte a produzir células saudáveis. “O tratamento pode ser feito com quimioterapia isolada ou associada a terapia-alvo, em alguns casos”, explica Phillip. A terapia-alvo é um tratamento que atua diretamente nas células tumorais, causando poucos danos às células normais. As possibilidades de tratamento são:
Vale ressaltar que as leucemias agudas requerem internação hospitalar, já que possuem evolução rápida. “As leucemias agudas representam indiscutivelmente uma emergência médica. É necessário que os pacientes sejam hospitalizados em locais com recursos tanto de diagnóstico, quanto de tratamento, com verdadeiras equipes multidisciplinares preparadas para cuidar dessa doença”, ressalta Roberto.
O transplante de medula óssea também é uma possibilidade de tratamento para alguns casos específicos. “Quando a leucemia tem um prognóstico ruim, ou seja, tem um alto risco de complicações graves, é indicado um transplante de medula óssea, que pode ser halogênico [feito a partir de células da medula de um doador] ou autólogo [células da medula do próprio transplantado], sendo esse último mais raro”, responde Phillip.
Sim, a leucemia tem cura. As chances de sucesso no tratamento são maiores quando o diagnóstico é feito precocemente. Por isso, realizar exames de rotina é importante para identificar a doença em seu estágio inicial. “Boa parte dos pacientes tem uma chance de cura. Melhorando o diagnóstico e podendo receber um tratamento ideal o quanto antes, as chances do paciente realmente aumentam”, afirma o hematologista.