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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
BRASIL: Uma revisão de estudos científicos realizada por uma equipe das áreas de neurologia, medicina do sono e nutrição da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) investigou a relação entre o desequilíbrio da microbiota intestinal (chamada de disbiose) e as doenças psiquiátricas e neurológicas.
Segundo Maria Fernanda Naufel, uma das autoras e pós-doutoranda em nutrição, os pesquisadores concluíram que “há uma relação estreita e bidirecional entre a microbiota intestinal e o cérebro” e que o desequilíbrio desses microrganismos tem uma ação importante no desenvolvimento, na função e nos distúrbios do Sistema Nervoso Central (SNC).
A microbiota intestinal é um ecossistema complexo, formado por trilhões de bactérias. Ela é influenciada por diversos fatores, como dieta, metabolismo, idade, estresse, temperatura, sono e uso de medicamentos, entre outros. De acordo com Naufel, embora ainda sejam necessários mais estudos sobre o tema, o trabalho demonstrou que é essencial evitar o desequilíbrio da microbiota intestinal, especialmente durante a gravidez e a primeira infância, para prevenir distúrbios neurológicos.
“Além disso, o uso de probióticos por pacientes com doenças psiquiátricas e neurológicas é seguro na maioria dos casos e pode tratar a disbiose e os desconfortos gastrointestinais, diminuir os sintomas de depressão e ansiedade e aliviar os sintomas e a gravidade de diversos distúrbios neurológicos, como Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla”, afirma a pesquisadora.
Naufel explica que a prevenção e o tratamento do desequilíbrio da flora intestinal podem auxiliar de diversas formas no controle de doenças psiquiátricas e neurológicas. Se houver uma inflamação na microbiota intestinal, por exemplo, é possível que o quadro influencie negativamente o sistema nervoso central. Além disso, como o intestino é responsável pela produção de muitos neurotransmissores, a disbiose pode prejudicar a produção dessas substâncias, gerando alterações em todo o corpo, principalmente no cérebro.
Outro fator destacado no trabalho é que os estudos têm observado que as crianças com disbiose tendem a ter maiores riscos de apresentar distúrbios neurológicos na vida adulta. Por isso, o ideal é prevenir o desequilíbrio desde a primeira infância, fase em que a microbiota será formada, saudável ou não. Segundo o psiquiatra Daniel Oliva, do Hospital Israelita Albert Einstein, trata-se de uma linha de estudo muito interessante e promissora.
“Já existem evidências de que essas bactérias podem influenciar o organismo como um todo e dados que relacionam populações específicas de bactérias com alguns distúrbios e doenças”, diz Oliva. Ele destaca ainda que já se sabe que algumas substâncias liberadas por esses microrganismos conseguem modular o sistema imune, influenciando o funcionamento do sistema nervoso central e do cérebro, o que pode implicar em mudanças de humor e em quadros psiquiátricos e neurológicos.
“Entretanto, essas pesquisas enfrentam algumas dificuldades, pois se trata de uma relação muito complexa, já que são trilhões de microrganismos interagindo com o corpo. Por isso, ainda não temos como determinar exatamente como as alterações na microbiota intestinal influenciam as mudanças neurológicas, ou ao contrário”, complementa ele.