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    porto velho, domingo 24 de novembro de 2024

​É sobre estas pessoas que estão nas fotos com você - Por Wilma Suely Batista Pereira


Rondonoticias/Wilma Suely

Publicada em: 13/11/2017 08:44:38 - Atualizado



PORTO VELHO, RONDÔNIA - Tantos são os motivos que estampam as mentes que pensam ou planejam morte autoprovocada (suicídio). Morrer para a tristeza, para a dor da perda, morrer para o relacionamento conturbado, morrer para as dívidas, para o desemprego; morrer para a decepção amorosa; para a violência, para a traição da família, para filho/a ingrato/a...

Todos se resumem em um só: vontade de escapar da dor. A impressão é de que nenhuma dor é igual ou superior à que ele ou ela sente.

Muitos prisioneiros dessa vivência acinzentada estão se sentindo imensamente sós. E nessa solidão planejam o escape pela morte autoprovocada porque não enxergam mais ninguém. O amigo de infância, a amiga do peito, a namorada, o namorado, os colegas da sala de aula, os vizinhos legais, a mãe, o pai, filhos, avós, irmãos, todos parecem transparentes. Aí o perigo se instala: a impressão de que não se tem vínculo com mais ninguém.

Se você está pensando em se matar, hoje escrevo para você. Escrevo sobre as pessoas que estão ligadas a você.

Todo mundo tem alguém (no singular ou no plural) que faz parte de sua vida. Alguém que lhe admira, que se espelha em você, que queria ser como você. Sugiro que pegue um álbum de fotos antigas. Podem ser fotos atuais também. Observe cada foto. Algumas retratam um momento cotidiano, ou um grande momento, como o nascimento de alguém, o aniversário, a festa da turma da escola, da faculdade, o acampamento, a grande pescaria... Observe a você mesmo(a) mas, observe com mais atenção quem está com você nas fotos. Agora imagine que, num passe de mágica a sua presença na foto é apagada. Click! Sumiu. O grupo de rapazes sorridentes tem um vazio bem no lugar onde você estivera. A sacola de compras está suspensa no ar. Sua mãe abraça o vazio. Seu pai (ou a pessoa que cuidou de você) não tem mais nenhum bebê no colo; o boné flutua no ar, junto com a camiseta do time de futebol. A melhor amiga sorri agarradinha ao vazio. O reitor entrega o diploma a ninguém.

É só um exercício, uma analogia. Só mesmo para deixar claro que você tem laços com diversas pessoas. Se você não está vendo agora estes laços, é porque a dor embaça os olhos, embota os sentidos, ocupa espaços antes ocupados por amor. Mas os laços estão lá! Sua marca na vida de cada um, cada uma está lá.

Acha justo sair assim da vida dos outros? Acha que (como na analogia do álbum de fotos) você vai desaparecer da vida de todas as pessoas com quem tem laços e elas não vão sofrer? Mas, vão sim. Vão sofrer e se sentir traídas, agredidas, machucadas sem chance de perguntar o que fizeram para merecer o castigo de ficar sem você. Tem gente que te ama, mesmo que não diga “eu te amo” assim bonitinho. Há outras formas de dizer.

É sobre você que escrevo. É sobre você e sobre o que você causa aos outros enquanto vive. É sobre a dor que você sente e da qual você quer se livrar. É sobre vida e muitas reviravoltas. É sobre as chances que ainda vão acontecer, sem clicks mágicos, quando se menos espera.

É sobre as pessoas que ainda virão, porque já nasceram, seguem vivas, em movimento e em direção a você. E é bom que você esteja lá, firme, maduro(a), de braços abertos para receber tudo de bacana que ainda vai viver.



[1] Doutora em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental, professora Associada III da Universidade Federal de Rondônia, Líder do Observatório de Violência, Saúde e Trabalho da Universidade Federal de Rondônia- OBSAT/UNIR obsat@unir.br e Voluntária do Núcleo de Apoio à Vida de Porto Velho – NAVIPORTO sosnaviporto@gmail.com


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