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    porto velho, quarta-feira 18 de setembro de 2024

Remédio contra obesidade se mostrou eficaz para crianças em novo estudo

A liraglutida, vendido sob os nomes comerciais Saxenda e Victoza, reduziu significativamente o peso de crianças entre 6 e 12 anos com IMC alto


CNN

Publicada em: 13/09/2024 08:03:15 - Atualizado

BRASIL: Crianças que usaram o medicamento para perda de peso liraglutida em um estudo de fase avançada perderam significativamente mais peso do que as crianças que receberam placebo, de acordo com um novo estudo publicado na terça-feira (10), no New England Journal of Medicine e apresentado na conferência anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes.

Médicos dizem que pode ser extremamente difícil para qualquer pessoa com obesidade perder peso, independentemente da idade. A maioria dos adultos e crianças a partir dos 12 anos tem acesso a medicamentos altamente eficazes chamados agonistas do receptor GLP-1, mas crianças mais novas precisam contar apenas com mudanças de estilo de vida, como dieta, exercícios e aconselhamento para perder peso. Mesmo com intervenções mais agressivas, os pequenos geralmente têm apenas resultados modestos, segundo os médicos.

O primeiro estudo sobre os efeitos do medicamento GLP-1 liraglutida, que é vendido sob os nomes comerciais Saxenda e Victoza, em crianças mais novas descobriu que o medicamento poderia ter um impacto significativo no índice de massa corporal (IMC), a medida que os profissionais utilizam para determinar se uma pessoa tem obesidade.

A liraglutida foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, em 2014 para ajudar adultos a perder peso. Em 2020, essa aprovação foi estendida para crianças de 12 a 17 anos.

O estudo foi apresentado na conferência anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes pela coautora principal, Claudia Fox, pediatra que trabalha no Centro de Medicina da Obesidade Pediátrica da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota, em Minneapolis.

Os pesquisadores analisaram os efeitos do medicamento em crianças entre 6 e 12 anos que apresentavam o que é considerado um IMC alto. A média de peso de uma criança de 10 anos no estudo, segundo Fox, era de cerca de 70 kg.

O ensaio incluiu 82 crianças, das quais 56 receberam uma injeção de liraglutida uma vez ao dia. O restante recebeu um placebo. Todas as crianças também receberam aconselhamento para incentivar uma dieta mais saudável e exercícios de intensidade moderada a alta por pelo menos uma hora por dia.

Os grupos tiveram resultados significativamente diferentes. Em pouco mais de um ano, os IMCs das crianças que receberam o medicamento caíram 7,4 pontos percentuais a mais do que os do grupo placebo. As crianças do grupo liraglutida tiveram uma queda de 5,8% no IMC, enquanto as do grupo placebo tiveram um aumento de 1,6%. O estudo foi financiado pela farmacêutica Novo Nordisk.

Os resultados estavam alinhados com outros estudos realizados em adolescentes, segundo Fox, mas as crianças mais novas tiveram resultados mais fortes. “Isso, para mim, foi o mais surpreendente, e me faz pensar que talvez devêssemos intervir em idades mais jovens”, afirma.

O estudo não compara diretamente a perda de peso entre grupos etários, então mais pesquisas seriam necessárias para determinar se a teoria dela poderia estar correta.

A liraglutida foi considerada segura para as crianças pequenas no estudo, mas os participantes tanto do grupo placebo quanto do grupo do medicamento tiveram alguns eventos adversos.

Problemas estomacais como náusea, diarreia e vômito foram mais comuns no grupo que recebeu o medicamento, mas Fox explica que muito poucas pessoas abandonaram o estudo por causa dos efeitos colaterais. Os problemas estomacais tenderam a aparecer no início do estudo e diminuíram ao longo do tempo, segundo a pediatra.

A pesquisa também não foi projetada para abordar por quanto tempo as crianças teriam que continuar com os medicamentos. Quando o período do ensaio terminou e as crianças pararam de usar o medicamento ou de receber aconselhamento, o IMC voltou a subir. No entanto, o aumento não foi tão significativo para esse grupo mais jovem quanto foi para os adolescentes em estudos anteriores, e isso poderia significar que os medicamentos têm um resultado mais robusto a longo prazo se usados mais cedo.

“Nós sabemos que a obesidade é uma doença crônica”, afirma Fox. “Assim que a intervenção termina, a doença pode voltar, e isso é verdade para qualquer outra doença crônica, seja diabetes, asma, hipertensão – qualquer doença crônica que exija tratamento crônico.”

Qualquer medicamento que possa ajudar crianças com obesidade poderia ter um grande impacto na saúde pública. A obesidade é considerada o problema de saúde crônico mais comum para crianças nos Estados Unidos, com quase 20% de todas as crianças apresentando um IMC elevado. E o número tem crescido, com a prevalência mais que triplicando desde a década de 1970, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

A obesidade não é apenas um problema a curto prazo, pois crianças com obesidade geralmente se tornam adultos com obesidade e podem enfrentar uma vida inteira de problemas de saúde relacionados, conforme explica Simon Cork, professor sênior de fisiologia da Universidade Anglia Ruskin, ao Science Media Centre.

“As evidências de que a liraglutida é segura e eficaz em crianças são positivas”, afirma Cork, que não participou da pesquisa.

Desenvolver medicamentos antiobesidade para crianças é complicado porque as crianças ainda estão crescendo, segundo o professor. Mais estudos que monitoram crianças por períodos mais longos serão necessários para garantir que a supressão do apetite não tenha consequências mais tarde no desenvolvimento. Não houve indicações no novo estudo de que a liraglutida fosse prejudicial para as mudanças de altura ou puberdade infantil, mas os cientistas precisarão garantir que os medicamentos não retardem o crescimento.

A puberdade precoce pode ser um problema para crianças com obesidade, assim como o diabetes tipo 2, e, com o tempo, elas podem desenvolver problemas cardíacos, doenças hepáticas e renais e cânceres. Mas um medicamento para perda de peso que se mostre eficaz a longo prazo poderia fazer muito mais pela saúde do que apenas ajudar a perder peso. Crianças com obesidade também podem enfrentar preconceito e estigma significativos, mostram estudos.

“Como o tratamento de crianças e adolescentes com obesidade tem o potencial de trazer benefícios à saúde a longo prazo, embora esses medicamentos sejam atualmente caros, seu valor para reduzir o risco de condições associadas à obesidade e melhorar a saúde a longo prazo deve ser considerado”, diz Nerys Astbury, professora associada de dieta e obesidade no Departamento de Ciências de Atenção Primária da Saúde da Universidade de Oxford, ao Science Media Centre. Astbury não participou do novo estudo.

Em dezembro, diretrizes preliminares do Grupo de Trabalho de Serviços Preventivos dos EUA – que influenciam se o seguro cobrirá cuidados médicos – recomendaram que os médicos fornecessem intervenções comportamentais intensivas para ajudar as crianças a perder peso excessivo, mas não recomendaram medicamentos para perda de peso ou cirurgia.

A Academia Americana de Pediatria, que atualizou suas próprias diretrizes sobre o manejo de pacientes com obesidade em 2023, recomendou ambas as opções para algumas pessoas.

Embora médicos – e até pais – nem sempre concordem, Fox acredita que medicamentos para perda de peso e procedimentos cirúrgicos, como o bypass gástrico ou gastrectomia vertical, devem ser uma opção para as crianças.

“Há um sentimento entre as famílias dos pacientes de que eles só precisam se esforçar mais para perder peso, mas ir mais ao parque e comer alimentos melhores nem sempre é suficiente”, afirma Astbury. “Não podemos contar apenas com intervenções comportamentais para uma doença biológica e obter melhorias significativas.”





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