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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
Setembro é amarelo, outubro é rosa, novembro é azul, dezembro é laranja, mas também vermelho. Sociedades de médicos, pacientes e ONGs se acotovelam na disputa por um espaço no calendário para promover os chamados meses de conscientização de algumas doenças.
Mas nem tudo por trás das campanhas, em sua maioria apoiadas por farmacêuticas, é cor-de-rosa. As ações nem sempre se traduzem em mais saúde e, para especialistas, podem levar a consultas e exames desnecessários.
O mais famoso dos meses coloridos, o Outubro Rosa, foi criado há mais de 20 anos e envolvia a distribuição de laços rosas como forma de alertar sobre o câncer de mama, o mais comum entre as mulheres depois do câncer de pele.
O mesmo mês de outubro é também de conscientização da artrite reumatoide.
Já a cor de setembro, o amarelo, faz referência ao suicídio. Dados do Ministério da Saúde mostram que 11.433 pessoas morreram por suicídio no país em 2016 (dado mais atual) -algo próximo de 31 casos por dia.
O próprio governo admite que o número real pode ser ainda maior por causa da subnotificação nos registros. Em 2016, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi 5,8 casos a cada 100 mil habitantes. Para comparação, em 2007, esse índice era de 4,9 mortes a cada 100 mil habitantes -um aumento de 18%.
Segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), a campanha surgiu para disseminar informações que podem auxiliar a sociedade a desmistificar o tabu sobre o tema e auxiliar profissionais da saúde a identificar os fatores de risco para tratar e instruir melhor os pacientes.
No país, a campanha foi iniciada em conjunto pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), que atua na prevenção ao suicídio, Conselho Federal de Medicina e pela ABP no ano de 2014, em Brasília. De lá para cá só ganhou força.
Para chamar mais atenção, vários monumentos icônicos do país são iluminados com a cor amarela neste mês, como o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
Em 2019, janeiro começará com o verde, para a campanha de conscientização sobre o câncer de colo de útero; em fevereiro, o laranja lembra a leucemia e o roxo, a fibromialgia, o alzheimer e o lúpus. E assim por diante.
No mês de novembro, duas doenças brigam pelo mês e pela cor azul: o câncer de próstata e o diabetes.
Historicamente, o Dia Internacional do Diabetes -celebrado em 14 de novembro- é mais antigo, de 1991, e sua criação contou com o respaldo da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A ideia de alargar o período de conscientização diabetes de um dia para um mês inteiro nasceu em 2009, no ABC paulista, relata Márcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes. Nascia aí um Novembro Azul.
Em 2004, surgiu então o Moustache November (Movember), ou "novembro de bigode", para levantar fundos contra o câncer de próstata na Austrália.
Tentando repetir o sucesso do Outubro Rosa e do Novembro Azul, outros meses coloridos surgiram, como o Setembro Verde, que incentiva a doação de órgãos, o Dezembro Laranja, do câncer de pele, e o Junho Vermelho, da doação de sangue.
Especialistas lembram que muitas dessas campanhas incentivam a realização de exames. Check-ups e exames sem a presença de sintomas ou sem evidências científicas de que funcionem para rastrear doenças em certas faixas etárias são, inclusive, questionados por várias entidades, como a U.S. Preventive Services Task Force, ligada ao governo americano. Isso porque podem indicar falsos-positivos e gerar angústia e procedimentos desnecessários.
"Há uma superinformação, também com viés mercadológico, de que quanto mais exames, melhor. Mas o certo é quanto melhor indicado os exames, melhor", diz Mônica Assis, sanitarista da divisão de detecção precoce do Inca (Instituto Nacional de Câncer).