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porto velho, segunda-feira 25 de novembro de 2024
Paulistano de nascimento mas brasiliense de coração, Ivan de Araujo já estudou filosofia, matemática, ciência da computação e inteligência artificial. Hoje, neurocientista disputado entre universidades estrangeiras, estuda a comunicação entre cérebro e corpo -ou, grosso modo, como nós mamíferos funcionamos.
Suas pesquisas já apareceram nas principais revistas científicas. Uma delas mostrou, por exemplo, que a estimulação do estômago dá é prazer direto no cérebro, além da pura e simples saciedade. Agora ele se envereda pela relação entre obesidade e depressão e quer melhorar o tratamento da doença mental.
O trabalho é tocado em uma nova casa desde agosto: o laboratório no departamento de Neurociência da Icahn Escola de Medicina da rede hospitalar Mount Sinai, em Nova York. Antes, Araujo ficou durante 11 anos no departamento de Psiquiatria na Universidade Yale.
O brasileiro chegou aos EUA em 2004, quando foi fazer um pós-doutorado na Universidade Duke, na Carolina do Norte. Foi lá que ouviu falar de camundongos geneticamente modificados que não sentiam determinados gostos. "Quis testar se, mesmo assim, os animais iriam gostar de açúcar. No começo, ignoravam o ingrediente completamente, mas, ao longo do tempo, começaram a buscar cada vez mais o açúcar", diz.
Em um certo ponto, os bichos consumiam tanto açúcar quanto um animal que sentia o sabor adocicado. Mas a fissura não tem a ver com sabor, já que testes com adoçante não surtiram o mesmo efeito. Era a caloria que motivava a escolha pelo alimento açucarado.
Ao observar a atividade de neurônios de recompensa no cérebro desses animais, Araujo percebeu que eles liberavam dopamina na mesma quantidade dos animais normais.
"Esse neurotransmissor é fundamental para qualquer comportamento motivado: corrida, abuso de drogas, comida, sexo. Quando você elimina essas células, o animal fica completamente indiferente a praticamente tudo. Eles morrem de inanição."
Outra pesquisa mostra que, se você der um sabor novo para o animal e, ao mesmo tempo, injetar comida diretamente no estômago, o bicho vai começar a gostar daquele sabor mais do que dos outros. De alguma forma, diz, o cérebro aprendeu a associar o sabor ao estímulo que vem do sistema gastrointestinal. Assim, talvez seja possível reprogramar o cérebro para a escolha de alimentos menos calóricos.
A depressão também faz parte de outra área de estudo do neurocientista que envolve obesidade. Segundo suas pesquisas, mesmo em animais a indução de um estado obeso provoca comportamentos depressivos, afirma.
Já que a preocupação com a autoimagem não se aplica aos animais, Araujo tenta identificar a relação entre os dois problemas.
O pesquisador analisa ainda se os sistemas de recompensa que são alterados na obesidade e no abuso de drogas são responsáveis pela depressão.
"Há algum tipo de alteração sistêmica no corpo que conecta o estado metabólico com o funcionamento cerebral das áreas que protegem o estado emocional."
Araujo se dedica também a entender como a diferença entre a distribuição dos nervos no Sistema Nervoso Central pode ser explorada para melhorar a eficácia do tratamento da depressão, identificada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um dos principais males da atualidade.
"A gente estuda como esses nervos penetram no cérebro, qual o caminho que eles fazem, e quais são as partes periféricas do nervo que são relevantes para estimular essas áreas centrais e emocionais", afirma.
Ao identificar quais mecanismos permitem que o estímulo do nervo vago modifique o estado emocional da pessoa, seria possível melhorar a resposta de pacientes à terapia, diz.
"E isso tem uma relevância grande porque, na depressão, os pacientes que não respondem a medicamentos são submetidos a esse tipo de estímulo", explica.