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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
BRASIL: Nestes dois anos de pandemia, o caráter sistêmico da Covid-19, isto é, sua capacidade de afetar diferentes órgãos, tem desafiado médicos e cientistas ao redor do mundo para entender a extensão dos seus efeitos no organismo – um deles é a possibilidade de alteração da glicemia mesmo em pessoas saudáveis, que não têm propensão a desenvolver diabetes.
A endocrinologista Mariana Carvalho explica que existem algumas hipóteses que podem esclarecer a evolução do paciente para um quadro diabético, mesmo em casos leves da infecção causada pelo coronavírus.
Uma delas é o impacto direto do Sars-Cov-2 no pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina, que é o hormônio encarregado de transportar a glicose no organismo.
Segundo a especialista, existe um receptor chamado ACE2, no qual o coronavírus se liga para entrar nas células e causar a infecção, mecanismo que está presente no pâncreas, o que explicaria a alteração da glicemia.
“Temos visto pessoas que tinham um exame normal de glicemia antes da Covid e um outro exame alterado pós-Covid. Mas não sabemos se é um paciente que já tinha uma tendência e que o coronavírus precipitou esse aparecimento do diabetes, ou se é uma pessoa sem tendência nenhuma. É difícil avaliar como eram os hábitos de vida dela antes da Covid, porque às vezes a glicemia era normal, mas a pessoa já tinha um fator de risco para desenvolver a doença, como estar acima do peso ou sedentarismo”, explica a médica.
Além disso, Mariana ressalta que cerca de 50% da população não sabe que tem diabetes, já que os sintomas só começam a aparecer quando a glicemia está em um nível muito elevado de alteração. Nestes casos, a Covid-19 acaba evidenciando o problema.
“Às vezes a pessoa interna e durante essa internação acaba descobrindo ocasionalmente que tem diabetes, [porque] qualquer quadro infeccioso pode descompensar a glicemia”, afirma.
Outra questão que pode desencadear o diabetes ou mesmo alterar a glicemia para aqueles que já têm a doença controlada, é o tratamento administrado a pessoas que desenvolvem quadros graves de Covid-19 e precisam ficar internadas. Nestes casos, os pacientes recebem corticoides, um tipo de medicação que causa alteração no metabolismo da glicose.
“Tenho feito alguns acompanhamentos, e observo que algumas pessoas acabam normalizando a glicemia alguns meses depois [da Covid], mas outras acabam ficando com ela alterada, mesmo que leve, porque provavelmente já tinham uma tendência ao desenvolvimento do diabetes e aí o coronavírus foi só um empurrãozinho”, destaca a endocrinologista.
A melhor forma de prevenção para o diabetes é manter uma vida saudável, segundo a endocrinologista, sobretudo aquelas pessoas que já têm histórico da doença na família.
“Entre os fatores mais determinantes que podem piorar ou precipitar o aparecimento do diabetes, está o excesso de peso, o excesso de gordura corporal, o sedentarismo e a má alimentação. Então quando já existe um parente de primeiro grau que tem diabetes, a pessoa precisa se cuidar um pouco mais do que o restante da população”, explica Mariana.
A especialista recomenda a prática regular de atividade física e uma alimentação balanceada, evitando o abuso de doces e carboidratos que podem contribuir para o ganho de peso e para o acúmulo de gordura abdominal, que são fatores de risco para a doença.
“Aquela gordurinha que se acumula na região do abdômen, tende a se acumular dentro dos órgãos, causando gordura no fígado, no pâncreas, que é uma gordura visceral que contribui para o desenvolvimento do diabetes”, ressalta.
Para ser considerada normal, o nível de glicemia precisa estar em 100. Quando passa consideravelmente deste patamar, os sintomas do diabetes começam a aparecer. Os principais são: cansaço, mal-estar, falta de energia, perda de peso, sede, fome, visão embaçada, dor nas pernas e aumento do volume de urina.
“Toda vez que nos alimentamos, a glicose entra no nosso corpo e é distribuída entre os órgãos pela insulina, e o açúcar também é eliminado pela urina. No diabetes, a pessoa tem uma dificuldade nessa distribuição e na eliminação. Então a pessoa começa a ir ao banheiro várias vezes, porque o açúcar que é para estar nos órgãos, está no sangue”, explica Mariana.
A endocrinologista destaca que um leve aumento da glicemia pode passar despercebido, sem a presença de nenhum sintoma, o que explica o alto percentual de pessoas que convivem com a doença e não sabem.
“Entretanto, se não for iniciado um tratamento logo nessa fase que há um leve aumento da glicose, ela vai aumentando [gradualmente] e então aparecem alguns sintomas que o corpo mesmo faz na tentativa de eliminar o açúcar no sangue”, destaca.