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    porto velho, segunda-feira 31 de março de 2025

“Meu pet reage mal ao beber água com gás”... isso é engraçado?


Por Walterlina Brasil

28/03/2025 20:40:12 - Atualizado

Não há nada de engraçado em situações que causam sofrimento aos animais e risadas aos humanos. Muitas vezes, essas "piadas" de internet mascaram crueldade, e é importante trazer consciência para isso. Escrever sobre o tema pode ser uma forma de contribuir para educar as pessoas e incentivar empatia pelos animais. E quero fazer isto aqui, porque tem circulado nas redes muitas coisas, e muitas bobagens tipo “brain rot” (cérebro podre). A última que “viralizou” foi a reação dos animais “bebendo água com gás” e não gostaram (!). Do mesmo jeito que circularam cães e macacos “bebendo cerveja”, “fumando” ou torcedores de time de futebol comemorando com imagens de matança dos animais que representam os símbolos dos clubes que perderam a partida. Não é engaçado.

Animais tem emoções?

Descobertas científicas reforçam a necessidade de tratar os animais com respeito e empatia. Sim, os animais (não humanos) podem sim experimentar emoções complexas, como ansiedade, medo e até alegria. Embora eles não tenham o mesmo sistema emocional dos humanos, pesquisas científicas confirmam que muitos animais têm sistemas nervosos avançados que lhes permitem sentir e reagir a estímulos emocionais. O “comportamento” animal é lido, entre os humanos, a partir das denominações de damos a estes comportamentos, associando-os a emoções. Por exemplo: Animais sob situações de pressão constante (“estresse”), por conta de ambientes hostis ou maus-tratos, podem apresentar comportamentos “ansiosos”. Cães abandonados ou maltratados, por exemplo, frequentemente mostram sinais de ansiedade, como tremores, latidos excessivos ou até recusa em comer. Também cães e gatos têm demonstrado sinais de “depressão” após a perda de um companheiro ou dono. Eles podem se isolar, perder energia ou apresentar mudanças no apetite. Em alguns casos, esses animais representam apoio emocional aos seus tutores. Alguns tutores, inclusive, sentem-se melhor amparados ou até “amados” a partir dos animais. Animais também demonstram felicidade e vínculo emocional. Um cachorro abanando o rabo ao ver seu dono ou um gato se esfregando para pedir carinho são exemplos claros de demonstrações de prazer.

Animais também sofrem.

São conhecidos os exemplos dos elefantes e dos papagaios. Os primeiros têm uma forte ligação emocional dentro de suas manadas. Eles até realizam "rituais de luto" quando um membro da manada morre. Algumas espécies de papagaios são conhecidas por sofrerem de estresse emocional, a ponto de arrancarem suas próprias penas em ambientes inadequados. Pessoas que trabalham em resgates muitas vezes enfrentam um impacto emocional significativo. Elas podem sentir tristeza, indignação e, ao mesmo tempo, uma profunda conexão com os animais que ajudam. Quando o público toma conhecimento dessas histórias, elas frequentemente provocam um misto de empatia, indignação e um desejo de mudança. Ver a dor de um animal vulnerável pode ser devastador, mas também pode inspirar ação e solidariedade. O sinal de alerta é aceso, quando se transporta para “viralizar” o abuso ao convívio com os animais ou “experimentos” que os constrangem. Não é engraçado.

E quem acolhe?

O impacto emocional dessas histórias é profundo tanto para quem as vivencia quanto para quem as conhece depois. Animais que sofrem maus-tratos frequentemente apresentam sinais (na litura humana) de trauma, como ansiedade, medo extremo e até depressão. Por exemplo, eles podem evitar contato humano, demonstrar agressividade ou simplesmente se tornar apáticos, como resultado da crueldade que experimentaram. No caso de resgates, muitos animais demonstram emoções que vão desde alívio até confusão ou medo inicial. A história de Raju, o elefante que “chorou” ao ser libertado, é um exemplo de como esses momentos podem ser extremamente comoventes. Ele passou 50 anos acorrentado e sendo maltratado, até ser resgatado por uma equipe de especialistas. Quando percebeu que estava livre, ele chorou de alívio. Um gato de rua foi brutalmente atacado por crianças, mas, apesar de ser resgatado e receber tratamento, não sobreviveu aos ferimentos e o cao na porta do Supermercado virou “mote” de luta. No caso de Mama Jade, o pit bull, ele foi usado como isca em lutas de cães, mas foi resgatado e recebeu apoio de milhares de pessoas após sua história ser compartilhada. Estes últimos, são estimulados a serem olhados com preconceito e violência intrínseca pela população ao atacar a escritora. Por outro lado, exagero de colocar os animais ao lado de bebes, como “momentos fofos” de internet a procura de “likes”. O ser humano é tão óbvio, que fica cansativo. E não é engraçado.

Reflexões éticas.

A internet está banalizando a crueldade animal deles ou contra eles. No segundo caso, distorcendo respostas violentas a ameaça humana. No segundo caso – que interessa aqui - boas histórias em contrário a crueldade, normalmente histórias que conseguem desestabilizar e desafiar valores e crenças. Muitos começam a reconsiderar práticas culturais, políticas e até hábitos pessoais, como consumo de produtos que envolvem sofrimento animal. Essas narrativas revelam não apenas certa resiliência dos animais, mas também como a humanidade pode se unir em momentos de compaixão. Mas tornar os animais astros pop ou colocá-los em evidências para ridicularizar suas reações a condições de vida “humanos” é inaceitável.

Eu nunca fui “educada” para ver os animais como portadores de direitos. Foram os trabalhos de educação, vivência e participação social em diversos contextos que me trouxe isso. Quando criança tive o Nico (meu macaco prego) que foi grande companheiro enquanto meus Soinhos (nome que dávamos os macaquinhos Sagui) morriam por causa do DDT (isso foi triste pra mim, na infância) ou mesmo os papagaios. Mas ambos eram “livres” no meu quintal. Nico chegava a bagunçar os batons e perfumes da prateleira da minha mãe, a ponto de ser exilado comigo para o Acre. Lá, graças a eles, toda vizinhança ficou sabendo que eu tinha me dado mal com a panela de carne cozinhando que caiu sobre mim (eu estava sozinha e somente o Nico viu). Já naquela oportunidade, eu sentia que algo estava errado ao ver os outros macacos, cães ou gatos presos na vizinhança, em locais molhados, sujos ou inóspitos. Mas não sentia o suficiente para me envolver. Assim, sei que convivência pode ajudar. O que a internet faz com esses exemplos ruins deveriam ser denunciados, portanto. Em outro lado, campanhas, mobilizações e ações práticas também são essenciais para combater essa “gracinha” de mal gosto.

Contexto local.

Em 2015, na Universidade Federal de Rondônia, um grupo de estudantes do Curso de Filosofia fez surgir um grupo organizado denominado “Peludos da UNIR” no Campus José Ribeiro Filho, em Porto Velho. Esse grupo se dedicou a considerar que os animais no campus mereciam atenção de modo a produzir um ambiente saudável com a convivência humana. A presença de animais era negligenciada até aquele momento. E o Campus foi instalado bem numa floresta que tem carapanãs, piuns, anófeles, serpentes entre outros insetos (especialmente mosquitos) e animais silvestres que sofrem a partir da invasão humana no local. Na prática os animais “abandonados” comumente avançavam e reviravam lixos, recebiam comida humana que os faziam passar mal, eram envenenados (alguns ainda são), os índices de atropelamentos eram consideráveis. Outro fator perceptível era que algumas pessoas entendiam o Campus de Porto Velho como um local para o abandono dos animais domésticos. O cenário tem mudado bastante desde aí. Com organização, coleta de doações, campanhas e aproximação das gestões da Universidade espera-se que sejam alteradas as circunstâncias de vida animal e convivência humana. O Campus não é um lugar para que os animais sejam “depositados” e o combate tem se mostrado eficiente, mas incipiente e ainda desafiador porque não há controle suficiente de possíveis zoonoses e a presença do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres - criado por conta das Usinas) não foi bem explicada ou útil no apoio a essas ações de conscientização.

Algumas atividades estão sendo articuladas. Os cães e gatos que estão lá, como uma ação coordenada com o Curso de Veterinária do Campus de Rolim de Moura, serão castrados. Mas isso é uma gota no oceano e não pode ser entendida como uma “obrigação” pura e simples. O que constrói uma sociedade humanizada é compreender as diversas interações. Assim, não é engraçado circular violência e atos “humanos” aos animais nas mídias sociais ou entender como algo voluntarista, mas lidar com a interação e bem estar de todos e todas é o mote para políticas efetivas, com recursos, tempo e reconhecimento social.

Fontes: Dá uma olhadinha?

História muito conhecidas de maus-tratos animais.

https://www.fatosdesconhecidos...

Peludos da UNIR.

Mídias Sociais - Peludos da UNIR. @peludosunir e @peludosunir_bazar


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