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porto velho, sexta-feira 29 de novembro de 2024
BRASIL -O coletor de óleo Alexandre Roberto Ribeiro Mello, de 32 anos, disse que os agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que atiraram contra o seu carro durante uma abordagem na Rodovia Washington Luiz, no sábado (17), foram responsáveis pela morte de sua esposa, Anne Caroline Nascimento Silva. Segundo Alexandre, ao contrário do que dizem os policiais, ele estava parando o carro após os agentes ordenarem.
"Foi um assassinato. Ele descarregou o fuzil todo no carro. Os furos estão lá, os tiros estão todos no meu carro. (...) Foi execução", disse Alexandre. "Minha esposa faleceu, ela não volta mais. Eu quero justiça contra ele. Eu vou até o final para ele ter a justiça merecida. Errou tem que pagar, matou tem que ser preso", completou.
O agente Thiago da Silva de Sá chegou a ser preso no domingo (18), mas foi liberado após passar pela audiência de custódia na Justiça Federal. Ele afirma que o carro não parou na abordagem e que fez oito disparos em direção aos pneus.
Alexandre e familiares de Anne negam. Dizem que o carro parou na abordagem, mas que os agentes federais atiraram.
De acordo com o relato do marido da vítima, os agentes da PRF deram a ordem para que ele parasse o carro, mas como ele estava no meio da pista central da BR-040, ligou o alerta e dirigiu na direção de um ponto mais seguro para encostar o veículo.
Ainda segundo Alexandre, os policiais abriram fogo contra o veículo e acabaram atingindo Anne antes mesmo que o carro pudesse parar.
"Eu escutei ele falar (pedindo para parar), imediatamente eu liguei o pisca-alerta. Eu estava no meio da rodovia, procurei um acostamento. Tanto é que eu parei na agulha e minha esposa já estava baleada", disse Alexandre.
O marido de Anne contou ao g1 que os agentes desceram do carro transtornados, quando perceberam que tinham atingido a mulher que estava no banco do carona. Alexandre disse que os policiais afirmaram que a culpa pela morte de Anne era dele.
"Eles desceram e entraram em desespero, todos eles. Eles me culpando como se eu tivesse apertado o gatilho. 'a culpa é sua, a culpa é sua. Seu mer*'. Falando um monte de coisas, me xingando", relatou o motorista.
De acordo com a versão de Alexandre, após perceberem a mulher baleada, os agentes conduziram o carro dele para o hospital. No trajeto, o marido da enfermeira contou que a mulher pediu para não morrer.
"Ela foi baleada e só falou: 'Amor, tomei um tiro, tomei um tiro'. Eu desci e coloquei a mão nela e senti o sangue. Ai eles mesmos levaram para o hospital. Eles tão nervosos, conduziram meu carro para o hospital. Eles viram a besteira que fizeram".
"No caminho do hospital ela ainda disse: 'Amor, não quero morrer, não quero morrer', contou Alexandre.
Na opinião de Alexandre, o policial responsável pelos disparos deveria ser impedido de ser policiais. Ele quer justiça.
"Perdão quem dá é o lá de cima, mas eu só queria que ele não exercesse mais essa função de policial, porque isso não é pra ele. Ainda mais policial federal", disse Alexandre.
O corpo de Anne Caroline foi velado nesta segunda-feira (19), no Cemitério Memorial do Rio, em Cordovil, na Zona Norte do Rio.
Durante a cerimônia de despedida da estudante de enfermagem, houve uma confusão entre parentes de Anne e de Alexandre quando o marido da estudante chegou na capela onde o corpo estava sendo velado.
O irmão da estudante queria impedir que o marido de Anne acompanhasse o velório. Mas, ele foi contido por outros parentes. Segundo o irmão da vítima, Alexandre foi culpado pela morte de Anne.
Disparos na altura dos pneus, diz PRF
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o policial rodoviário federal preso pela morte de Anne Caroline Nascimento Silva — e depois solto na audiência de custódia — disse ter disparado 8 vezes “na altura dos pneus” do carro onde a jovem estava.
O g1 e TV Globo tiveram acesso ao termo de declaração do agente Thiago da Silva de Sá. Ele afirmou que por volta das 22h de sábado (17) sua equipe fazia patrulhamento de rotina na Rodovia Washington Luís (BR0-040) “quando foram avisados por um motorista sobre um veículo Renegade verde que teria desviado da viatura para a pista central”.
O PRF relatou que eles “se posicionaram para uma abordagem” e que, “quando se aproximaram do veículo” e “deram sinal de parada”, o Renegade “acelerou, tentando fugir”. “Logo depois, todos os ocupantes da viatura ouviram alguns disparos de arma de fogo e se prepararam para uma abordagem de risco”, narrou.
O agente não esclareceu de onde vieram esses disparos.
Ainda segundo o depoimento, o policial “avisou aos demais colegas para terem cuidado, pois há menos de um mês participou de uma outra abordagem com troca de tiros que feriu gravemente um colega da equipe”.
“Ao chegar próximo ao veículo, deram mais uma vez ordem de parada, o que não foi obedecido pelo motorista, que tentou jogar o veículo em cima da viatura”, disse no termo.
Naquele momento, segundo o agente, ele “efetuou oito disparos na altura dos pneus”, fazendo o Renegade parar. “O motorista saiu com as mãos para cima, dizendo que era inocente e que sua esposa tinha sido baleada”.
Ele encerrou o termo afirmando que “assumiu a direção do veículo abordado a fim de prestar socorro à vítima e se encaminharam ao Hospital Getúlio Vargas”.
Em uma nota divulgada na tarde de domingo (18), a PRF tinha falado em um “acompanhamento tático a um veículo suspeito em fuga”. Até a última atualização desta reportagem, não se sabia se o carro a que a corporação se referiu era o de Alexandre e Anne Caroline ou se foi outro, que supostamente fugiu.
A nota disse ainda que “uma mulher de 23 anos [Anne Caroline] foi atingida por disparos que teriam sido realizados pela equipe da PRF”.
“A ocorrência foi encaminhada à Polícia Federal, no Centro do Rio, e o policial que efetuou os disparos foi preventivamente afastado das atividades operacionais”, emendou.