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porto velho, quinta-feira 25 de dezembro de 2025

BRASIL: A 4ª Delegacia de Polícia investiga outras oito possíveis vítimas do “serial estuprador” Gabriel de Sá Campos (foto em destaque), de 30 anos. O homem é suspeito de ter abusado sexualmente de ao menos quatro adolescentes que frequentavam a Igreja Batista Filadélfia, no Guará 2.
Gabriel utilizava sua posição de liderança no ministério dos adolescentes para ter acesso privilegiado às vítimas, explorando a confiança depositada pelas famílias para cometer os abusos de forma recorrente e premeditada contra jovens do sexo masculino.
A gravidade do caso se amplia com a identificação de, pelo menos, oito outras possíveis vítimas. Os adolescentes ainda estão em processo de oitiva pela equipe de investigação, o que pode elevar o número de crimes apurados.
O ex-líder religioso está preso temporariamente desde a última sexta-feira (19/12) por suspeita de estupro de vulnerável.
Até o momento, a Polícia Civil do DF identificou quatro vítimas do integrante da igreja. Os relatos revelam um padrão de violência precoce: abusos contra vítimas do sexo masculino, iniciados aos 10 e 12 anos em dois casos; um adolescente, alvo dos 13 aos 17 anos; e uma quarta vítima, aos 16.
A operação, coordenada pelo delegado Herbert Léda, revelou um padrão sistemático de crimes que se estendeu por pelo menos seis anos dentro da instituição religiosa.
O modus operandi empregado pelo investigado demonstrou requintes de manipulação psicológica e planejamento meticuloso. Gabriel utilizava sua função como instrutor de um curso de “integridade sexual” oferecido pela igreja para adolescentes e obteve informações íntimas sobre as vulnerabilidades emocionais dos menores.
Um dos abusos sexuais teria acontecido nas dependências da igreja, em uma festa do pijama sob responsabilidade do suspeito.
As denúncias apontam que o então membro da congregação também chamava as vítimas para assistir a filmes na casa dele como pretexto para cometer os crimes sexuais.
De acordo com relatos, ele acariciava as partes íntimas das crianças, que se incomodavam e pediam para parar, porém ele continuava fazendo insistentemente. Para cessar as importunações, alguns rapazes se escondiam no banheiro ou pediam para os pais buscá-los.
As investigações ainda apontam que as vítimas não teriam sido concomitantes. O suspeito criava laços com um dos adolescentes-alvos até cometer os abusos. Depois que o menor se afastava, o ex-líder se aproximava de outro jovem.
Os casos denunciados que estão em investigação teriam ocorrido desde 2019. Uma das vítimas ouvidas, inclusive, já atingiu a maioridade.
A Justiça do Distrito Federal decretou a prisão temporária do investigado por 30 dias, prazo que pode ser prorrogado por igual período.
Além disso, foi determinada busca e apreensão domiciliar, quebra de sigilo telemático, quebra de sigilo telefônico dos últimos cinco anos e medidas protetivas, que incluem proibição de aproximação em um raio de 300 metros das vítimas e afastamento imediato de todas as funções religiosas.
O delegado enfatizou em declaração que “a Polícia Civil do Distrito Federal reafirma seu compromisso com a proteção integral de crianças e adolescentes e assegura que crimes contra a dignidade sexual de vulneráveis serão rigorosamente investigados, independentemente do contexto social, religioso ou familiar em que ocorram”.
Quando tomou conhecimento de um dos casos, em dezembro de 2024, o pai do investigado e presidente da igreja caracterizou os fatos como “brincadeira” e “ato involuntário”, solicitando que a família mantivesse silêncio.
Em reunião de liderança realizada em novembro deste ano, um diácono caracterizou os crimes como “mal-entendidos”, solicitando um “pacto de sigilo” e afirmando que “problemas da igreja se resolvem na igreja, não na polícia”, em clara tentativa de obstrução da Justiça.
Na mesma ocasião, teria sido lida uma carta escrita pelo suspeito dizendo que ele se afastaria do rol de membros da igreja e de suas atividades na congregação.
Todavia, Gabriel continuou frequentando normalmente os cultos e acessando, inclusive, áreas restritas aos membros da igreja.
Relatos apontam ainda para condutas intimidatórias da mãe do investigado, que confrontou menores sem a presença de responsáveis legais, acusando-os de “falso testemunho” e ameaçando processar as famílias.
A investigação prossegue para realizar oitivas das potenciais vítimas ainda não formalizadas, perícia nos dispositivos eletrônicos apreendidos, apuração de possível coação praticada por membros da liderança religiosa e investigação de eventual omissão por parte das autoridades eclesiásticas que tinham conhecimento dos fatos desde dezembro de 2024 mas optaram por não acionar as autoridades policiais.