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porto velho, sábado 23 de novembro de 2024
PORTO VELHO, RO: Em menos de 24 horas, o Rio Madeira atingiu um novo recorde negativo, marcando 58 centímetros em Porto Velho na quarta-feira (11), o menor nível registrado em quase seis décadas. O Serviço Geológico do Brasil (SGB), que monitora o rio desde 1967, afirma que essa sequência de níveis críticos é inédita na história da região.
Cerca de 50 comunidades ribeirinhas que dependem do rio para subsistência enfrentam uma realidade devastadora. Raimunda Brasil, moradora da comunidade Bom Será, relata o impacto direto da seca em sua vida: "O peixe sumiu, e sem ele, perdemos nossa principal fonte de renda." A comunidade fica a 80 quilômetros da zona urbana de Porto Velho e, como muitas outras na região, sofre com a falta de água potável e condições básicas de sobrevivência.
Além de enfrentar a escassez de peixes, as famílias agora lidam com poços quase secos e a necessidade de buscar água em locais impróprios, como o próprio leito do rio. “Às vezes, não temos água nem para cozinhar”, conta Raimunda, que há 15 anos vive da pesca. A estiagem forçou sua família a buscar alternativas de trabalho, como a venda de produtos e serviços temporários.
O cenário é desolador: vastos bancos de areia e rochas emergem no lugar do que antes eram águas abundantes, alterando drasticamente o ecossistema local. Segundo especialistas, a baixa do rio cria barreiras naturais que impedem a migração de peixes e, em áreas onde o nível da água ainda persiste, os peixes morrem por falta de oxigênio. Na comunidade Maravilha, o seco de um igarapé resultou na morte de dezenas de peixes, complicando ainda mais a vida dos ribeirinhos.
A Defesa Civil de Porto Velho iniciou a distribuição de água potável para cerca de 700 famílias nas comunidades ao longo do Rio Madeira, incluindo Bom Será. A expectativa é que o fornecimento emergencial se estenda até novembro.
Paralelamente, as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio operam em baixa capacidade, com apenas 20% e 14% de suas turbinas em funcionamento, respectivamente. Embora o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirme que ainda há recursos suficientes para atender a demanda de energia, a situação é alarmante.
A previsão é que o nível das águas continue a cair nos próximos meses, aumentando a pressão sobre as populações que dependem do Rio Madeira para sobreviver.