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porto velho, segunda-feira 6 de janeiro de 2025
A RODOVIÁRIA DE HILDON E O CEMITÉRIO DE ODORICO PARAGUAÇU
*Arimar Souza de Sá
Ah, Porto Velho, nossa querida capital amazônica, onde o calor escaldante é proporcional ao fervor das discussões políticas!
Eis que surge no palco local uma peça tragicômica que poderia muito bem ter sido escrita por Dias Gomes: a novela da inauguração da nova rodoviária pelo prefeito Hildon Chaves.
Como Odorico, Hildon também "encasquetou" que queria inaugurar sua rodoviária, parafraseando o gesto do líder Sucupirense, para entrar os ‘anais e menstruais’ da história da cidade.
Como não traçar paralelos com a lendária Sucupira de O Bem-Amado, um sucesso histórico da teledramaturgia da Rede Globo, usando o palavrório de Odorico Paraguaçu, seu prefeito, que reinava absoluto com sua retórica espalhafatosa e sua obsessão em inaugurar o cemitério municipal?
Substituindo o cemitério por uma rodoviária e Odorico por Hildon, usando o mesmo palavreado deformado do prefeito de Sucupira na novela, o enredo, vejam só, permanece deliciosamente similar.
Vejam só: Odorico passou o mandato de inteiro de prefeito na novela tentando inaugurar um cemitério e ninguém morria em Sucupira.
Por aqui também, durante anos, a construção da nova rodoviária de Porto Velho foi tratada como uma espécie de ‘Santo Graal’ da gestão municipal.
Prometida, postergada, criticada e finalmente, dizem as más línguas, prestes a ser entregue com 95 por cento da edificação pronta, Hildon andava inquieto e nem dormia, queria sair dos ‘entretantos' e partir para os 'finalmentes’ e, para isso, foi logo tomando os 'providenciamentos' necessários.
Mas eis que surge no caminho um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e puxa o tapete do ‘alcaide’ mas, ainda assim, Hildon não caiu. Cambaleante, ex-promotor de justiça, portanto, um homem ‘bem apetrechado’, conseguiu se levantar, mas a justiça novamente deu-lhe um cruzado de direita.
Avariado e com o coração 'bastantemente entristecido e 'afogado na deceptude e no desgosto’, ele continuou sua saga, enfrentando 'acusatório destabocado' de meia dúzia de baiacus, enquanto o assunto virava piada nas rodas e botequins da cidade.
Em casa, Hildon choramingava e fazia com Ieda uma ‘confabulância político sigilista’ e dizia: isso é obra de forças ocultas, da imprensa ‘marronzista e badernenta’ dessa cidade, mas a primeira dama lhe dizia: "Sossega homem"!
Assim como o eterno cemitério de Sucupira, a cidade fictícia da novela, a rodoviária parecia uma obra que 'se recusava a ficar pronta' nas frases de Odorico, e o assunto acabou indo parar na justiça, enquanto Hildon pensava: “Se não for autorizada essa inauguração, "não vão me matar, mas me suicidar apenasmente”, usando as palavras do alcaide Supirense.
Mas quando, finalmente, a justiça liberou o descerramento da fita inaugural, os providenciamentos ‘inauguráticos’ já estavam todos prontos e não teve como impedir o espetáculo.
Discursos inflamados, protocolares, exatamente iguais aos de Sucupira, o 'retratista' correndo de um ano para o outro e, por fim, o inevitável: Hildon, nos braços do povo e com o sorriso largo, no 'pé da zorelha', com a 'alma lavada e enxaguada pela emoção' disse: "Estamos transformando Porto Velho! Eles não queriam, o CREA não queria, o TCE, não queria, mas nós vencemos" - com aplausos ecoando pelos microfones, sendo quase possível ouvir, ao fundo, os acordes da trilha sonora de O Bem-Amado.
E, como a vida imita a arte, a nossa rodoviária foi finalmente inaugurada, linda, moderna, a belezura da Jorge Teixeira com a Carlos Gomes e, Hildon ao contrário de Odorico que não conseguiu inaugurar o cemitério de Sucupira e morreu, está "Vivinho da Silva" para comemorar esse memorável feito com seu povo .
Contudo, o assunto já garantiu seu lugar no folclore da cidade. Talvez ao lado do cemitério de Sucupira, onde repousam as grandes promessas da política nacional e em Porto Velho como parte do folclore que entrou nos 'anais e menstruais' da capital rondoniense.
Agora, o melhor, então, é encerrar essa narrativa 'odorística' e partir para os 'finalmentes', elevando as ‘conjuminâncias e merecendências’ de Hildon, um sujeito 'praticante e juramentado' e parafrasear seu colega prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, pedindo uma salva de palmas ao melhor prefeito que Porto Velho já teve, agora desempregado, mas com sua rodoviária inaugurada, uma figura que se revelou corajosa, ‘trepidante e dinamitosa’.
VIVA PORTO VELHO, VIVA HILDON, VIVA ODORICO!
AMÉM!
O autor é jornalista, advogado e apresentador do Programa A VOZ DO POVO, na Rádio Caiari, FM.
Obs: A deformação das palavras é decorrente daquela usada por Odorico na Novela O Bem Amado, da Rede Globo.