Fundado em 11/10/2001
porto velho, domingo 15 de junho de 2025
CLEBER VIANA, O AMIGO DO AFETO E DA BONDADAE, PARTE PARA O SILÊNCIO DAS ESTRELAS
Arimar Souza de Sá
Na noite de quinta-feira (12), a luz de uma estrela generosa se apagou no céu de Porto Velho. Faleceu, vítima de complicações pulmonares, o major da reserva da Polícia Militar e advogado José Cleber Martins Viana — o Doutor Cleber, meu colega da turma de direito D-19 da Faro. Um homem que andava entre nós com o coração nas mãos e a alma vestida de serviço ao próximo.
De origem maranhense, mas de alma enraizada no solo rondoniense, Cleber Viana foi muito mais que um militar e advogado: foi um amigo leal, uma ponte entre a necessidade e a esperança, um abraço vivo entre o povo e a justiça.
Sua trajetória começou nos quartéis de Pimenta Bueno e Porto Velho, onde, como policial, vestiu a farda com dignidade, deixando em cada missão a marca de um servo público que jamais se escondeu da responsabilidade.
Mais tarde, pendurou a farda e vestiu o pijama, mas logo trocou pela beca. Formado pela FARO – Faculdade de Ciências e Letras de Rondônia, tornou-se advogado. Mas não daqueles de toga distante e fala fria. Não! Era um guerreiro de trincheira, que defendia os servidores públicos com a espada do conhecimento e o escudo da empatia. Foi patrono da luta pela transposição dos servidores do ex-território de Rondônia aos quadros da União, causa à qual entregou seu talento e seu tempo com a fé de um missionário e se tornou um vencedor nos embates que travou na capital federal.
Na Aspometron (Associação dos Policiais Militares de Rondônia), não era apenas advogado: era farol, era escudo, era voz. Era a figura do amigo que ouve, do defensor que acredita, do homem que nunca fechava a porta — nem da sala sem dar notícia do processo do cliente, nem do coração.
Mas talvez a parte mais luminosa de sua história não esteja nas sentenças ou nas fileiras da PM. Estava nas esquinas da vida. No ‘Bar do Biriba’, no Conjunto Marechal Rondon, ele fazia mais do que consumir: repartia. Era como uma fonte que, mesmo ferida pela doença que o levou, continuava jorrando água fresca para quem passasse com sede. Cansou de "fazer rancho" para desconhecidos, como quem planta pão entre os amigos da confraria do Biriba, esperando que cresça e floresça a esperança e a humanidade.
Durante o velório, que desde as primeiras horas da manhã reuniu centenas de amigos, colegas e admiradores, uma cena singela resumiu a grandiosidade de sua alma. Duas senhoras, de semblante humilde e olhos marejados, aproximaram-se do caixão com emoção profunda. Relembraram que ambas haviam assinado contrato para que ele as defendesse. Quando a causa foi vitoriosa e elas voltaram para combinar o pagamento, Cleber simplesmente sorriu, abriu os braços e disse: “Fiquem tranquilas, vão pra casa. Rezem por mim.” — dispensando integralmente os honorários.
"Ele não nos cobrou nada, nos tratou como filhas", confidenciou uma delas, com a voz embargada.
Era esse o Cleber Viana que a todos encantava. Extrovertido, brincalhão, sempre com o sorriso estampado no rosto, como criança em campo de terra batida, gentil, alegre como festa de São João, ele era aquele tipo raro de homem que fazia a vida parecer mais leve mesmo quando tudo pesava.
Em sinal de profundo respeito e carinho, seus colegas da turma D-19 da FARO — Cleonice Araújo, Socorro Pinheiro, Arimar de Sá, Gilberto Baptista, Pedro Alexandre e Wilson Dias, Vera Queiroz, entre outros — compareceram ao velório para prestar suas últimas homenagens, todos reverenciando o espírito alegre, acolhedor e profundamente compreensivo do amigo de tantas jornadas. Entre memórias, lágrimas e abraços apertados, celebraram não a morte, mas a eternidade de um vínculo construído na D-19, com afeto, risos e lealdade para a vida toda.
E em meio à dor da despedida, uma reverência especial se faz necessária à mulher que caminhou ao seu lado por toda uma vida — Rosângela Viana, sua companheira de todas as horas, por quatro décadas, rocha firme nos dias difíceis, sorriso nos dias bons e porto seguro até o último suspiro. Junto com as filhas Alexandra e Carol, Rosângela esteve ao lado de Cleber até o fim, segurando-lhe as mãos, oferecendo conforto, fé e amor no momento em que a vida dele se despedia do tempo para entrar na eternidade.
Três mulheres que representam o que há de mais belo e forte no amor familiar — o tipo de amor que não se dissolve nem diante da morte.
Quando o féretro descia à sepultura, seus amigos de farda, capitaneados pelo coronel Abimael Araújo, prestaram-lhe continência, diante daquele corpo inerte, sem vida, ausente daquela chispa de alegria, indo para sua última morada.
Cleber morreu, mas seu nome e seu sorriso alegre, ecoarão nos corredores da memória dos que o conheceram e nas histórias que ele semeou da sua infância e adolescência no Maranhão e das passagens de vida hauridas nos batalhões da PM, com gestos simples e profundos. O Cleber, para mim, foi um homem que virou saudade antes mesmo de partir.
Descanse, amigo Cleber. A capital de Rondônia te guarda no peito com a gratidão que fizeste por merecer.
Fica aqui minha homenagem!