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porto velho, sexta-feira 25 de julho de 2025
Neyson Freire é um experiente jornalista que mergulhou na área da saúde através de seus estudos acadêmicos e que hoje é editor das revistas Enfermagem em Foco e Ciência & Saúde Coletiva. Em um encontro afortunado com a editora Jaguatirica, o novo autor se lançou na escrita de não ficção com No Reino da Mentira - A (des)informação na linha de frente da saúde, uma obra que reúne textos seus e relatos de outros profissionais da saúde, como Maria Helena Machado, Flávio Liffeman, Isabel Cunha e Luciano Lourenção.
Esta é uma leitura indispensável para quem deseja compreender como as fake news influenciam a percepção pública sobre a saúde e quais as alternativas disponíveis para combater o problema. Neyson Freire revela o seu comprometimento incansável com o tema, aprofundando os estudos da sua tese de mestrado. A importância da Enfermagem, a valorização dos profissionais de saúde e os desafios da comunicação em saúde pública são assuntos que permeiam a escrita do autor.
A Jaguatirica orgulha-se de receber em seu catálogo mais um título de importância vital na categoria de não-ficção para a contemporaneidade. A editora entrevistou Neyson Freire para melhor apresentar o seu trabalho aos nossos leitores. A data de lançamento da obra será divulgada em breve!
Neyson Freire (1980) é jornalista e pesquisador, doutorando em Ciências pela UNIFESP e Assessor Técnico da Presidência do COFEN, onde atua há 18 anos em funções estratégicas de comunicação, gestão e articulação. Natural do Seringal Repouso (AC), estudou em escolas públicas e iniciou sua trajetória no COREN-RO, em 2005. Sua pesquisa acadêmica foca em representatividade digital da Enfermagem e comunicação em saúde pública. Apresentou trabalhos em conferências internacionais e colabora com comissões científicas e editoriais nacionais. É editor das revistas Enfermagem em Foco e Ciência & Saúde Coletiva e coordenou documentários premiados sobre a Enfermagem brasileira. Seus temas de atuação incluem infodemia, valorização profissional, visibilidade da Enfermagem e regulação de práticas avançadas.
Como é que um jornalista e pesquisador como você se interessou e adentrou a área da saúde?
Minha entrada na área da saúde foi resultado de uma convergência entre vocação social, trajetória pessoal e oportunidades que abracei com profundo senso de responsabilidade pública. Sou jornalista, pesquisador por convicção e alguém que sempre acreditou no poder da comunicação como ferramenta de transformação social — especialmente no campo da saúde pública.
Nasci no seringal Repouso, no Acre, e percorri toda minha formação básica em escolas públicas. Essa origem me fez enxergar, desde cedo, a comunicação não apenas como profissão, mas como compromisso com o desenvolvimento social. Em 2005, ao assumir a assessoria de comunicação do Conselho Regional de Enfermagem de Rondônia (Coren-RO), fui apresentado à realidade da Enfermagem brasileira — e essa vivência transformou radicalmente o meu olhar sobre o papel da comunicação na construção de políticas públicas eficazes, inclusivas e humanizadas.
Dois anos depois, iniciei minha trajetória no Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), onde atuo há 18 anos em diversas frentes — comunicação institucional, assessoria técnica, articulação política, pesquisa científica e formulação de estratégias para o fortalecimento do SUS e valorização da Enfermagem. Nesse percurso, compreendi que comunicar bem, com responsabilidade social, é também uma forma de cuidar.
A pesquisa e recolha de relatos para o livro "No Reino da Mentira" surgiu como e porquê?
Quando decidi escrever este livro, minha intenção inicial era acadêmica. Desde o início da minha jornada no mestrado e doutorado, eu buscava compreender e compartilhar as histórias que moldaram minha pesquisa. Meu foco inicial de pesquisa de mestrado era a construção e validação de uma matriz de competências para conselheiros federais e regionais de enfermagem. Mas então veio a pandemia e, com ela, um chamado mais urgente. Mudei de assunto e resolvi abordar mais a fundo o fenômeno das fake news. A partir da tese de mestrado, estruturei alguns temas que valia a pena investigar, para dar uma abrangência maior – como o caso do Enfermeiro Anthony, símbolo de fake news na pandemia, que acabou falecendo ao contrair o coronavírus – e também o boom da IA, que tem trazido novos desafios no combate a desinformação.
A ideia de compartilhar e registrar minha experiência na linha de frente da comunicação do Cofen, durante o surto sanitário, foi o que me moveu. Tive que lidar com avalanche de informação e desinformação, seguir trabalhando no isolamento, longe da minha família, e conviver também com perdas pessoais. Havia noites em que eu mal conseguia dormir, ouvindo as sirenes das ambulâncias, sabendo que a situação estava cada vez mais crítica. Tudo isso me marcou profundamente e acredito que é o fio condutor do livro. Além disso, convidei colegas da área com atuação relevante para contribuir com artigos, trazendo suas visões e reflexões sob diversos ângulos da desinformação na área da saúde, o que tornou o conteúdo da obra ainda mais rico e diverso.
Podemos dizer que com "No Reino da Mentira" nasce também um jornalista escritor?
Acredito que sim, como tantos outros colegas que se lançam na categoria de não-ficção. No jornalismo, sempre estive próximo da escrita. Com este primeiro livro, realizo o antigo desejo de contribuir com minha experiência nessa área tão desafiadora do combate às fake news na saúde. Porque a desinformação é nociva em qualquer campo, mas na área da saúde, é capaz de matar.
Os leitores da Jaguatirica podem esperar futuras obras dedicadas à área da saúde?
Sim, já tenho um tema em mente para um novo livro. Hoje, além de Assessor Técnico da Presidência do Cofen, sou doutorando em Ciências na UNIFESP, pesquisando temas como infodemia, desinformação, mídias sociais e influência digital. Coordeno projetos de comunicação científica, números temáticos, e integro grupos de pesquisa em instituições como a Fiocruz, UNIFESP, ENSP e CAPES. Certamente o tema da desinformação, com a IA cada vez mais presente, vai gerar desdobramentos que pedem novas reflexões.
A comunicação na saúde deixou de ser apenas uma área de atuação para se tornar a minha missão. Acredito firmemente que é nesse ponto de encontro entre comunicação e ciência que podemos produzir conhecimento, gerar impacto positivo e contribuir, de fato, para a transformação da sociedade.