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porto velho, sábado 23 de novembro de 2024
A Fragilidade da Memória Rondoniense por Arimar Souza de Sá
Os povos da chamada era moderna avançaram no desenvolvimento intelectual e econômico, mas não desprezarem as suas memórias.
Desprezá-las, creio, é cultuar a síndrome das areias das praias que, no fluxo e refluxo dos ventos que motivam as marés, são levadas todos os dias para bem longe, não deixando sequer saudades às pegadas de quem nelas caminhou.
Respeitada a metáfora, guardar a memória, em Porto Velho, é um imperativo da vida cultural da cidade, mas infelizmente não é o que se vê, porque os gestores optaram por crestar os assentos históricos de seus pioneiros, ou seja, baniram-nos, como o mar faz com as pegadas que se deixa nas praias.
E, quando não se tem memória a preservar, o presente é apenas uma nuvem instalada no horizonte no debrum do infinito, não serve para nada, absolutamente nada.
Ora, os construtores do universo não podem tão somente assemelhar-se ao espelho das águas refletindo o clarão do sol no amanhecer. Há que registrar seus feitos nas lápides dos sepulcros, nas avenidas, nas ruas, nos edifícios, nas inaugurações – senão, quem somos?
Na história do ensino, por exemplo, dona Marise Castiel, a nossa grande professora, não pode morrer na memória de Rondônia. Os governadores Jorge Teixeira, Humberto Guedes, Jerônimo, Wadih Darwich; os Tourinho, os doutores Fouad, Abílio Nascimento; os Shockness, os Johnsons, os Maloney e o Dr. César Montenegro, Vinicius Danin, Antônio Serpa do Amaral, dentre tantos outros, são exemplos do fantástico mosaico da memória rondoniense. Esquecê-los é desfalcar o nosso patrimônio cultural, pela indignidade do próprio gesto, com quem doou seu sangue e vida.
Jerônimo, em plena revolução de março, fez-se ouvir em três legislaturas no congresso nacional. Teixeirão implantou o Estado. Dona Marise gerenciou os primeiros movimentos culturais de Rondônia. Os Tourinho mantiveram o jornal Alto Madeira vivo, por cem anos, registrando toda essa história. Os Barbadianos precisam ser lembrados, os gregos, os americanos como Farquar, os construtores da estrada de ferro Madeira Mamoré...
Sem este acervo de memórias fantásticas não há como nos revelarmos como um povo, senão como hordas que vão-e-que-vem nos solavancos primitivos da extração da seringa, da castanha, da cassiterita, do ouro e da madeira, ... e só...
Não vamos, por exemplo, dar o nome ao novo edifício da Casa Legislativa, de Castanheira, embora as castanheiras sejam lindas e úteis, e nos deem o sagrado fruto da castanha, mas precisamos homenagear os que dessangraram suas vidas, com suas têmperas no sol deste torrão, porque apesar de mortos, são exemplos vivos e, também, porque fincaram os primeiros tijolos neste chão, incluindo nossos seringueiros ou soldados da borracha, como quis a clarinada de Getúlio Vargas, quando deles necessitou para o esforço de guerra.
Sinceramente? A moldura do nosso estado, refletida no espelho desse sol tropical, que é só nosso e de nossos antepassados, não pode e nem deve limitar-se a ser apenas um espaço de aventuras e oportunismos, como a elite o consagrou.
Deve, sim, transformar-se, também, num sítio de memórias no contemplar do tempo dos que construíram, com suor e sangue, esta terra que hoje desfrutamos, sem maiores sacrifícios, com o confortável aparato da vida moderna.
Salvemos, pois, a Memória de Rondônia, que virou lixão no prédio da Estrada de Ferro Madeira Mamoré – antes, é claro, que as aves de rapina solapem de vez o que resta da memória de nossos antepassados, sem sequer um único registro de protesto.
Este, é o meu!
AMÉM.