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porto velho, domingo 24 de novembro de 2024
CRÔNICA DE FIM DE SEMANA
-Professor Matias, um escultor de ideias, um contador de histórias da vida de Rondônia. Saudades!
-Arimar Souza de Sá
Faleceu, quinta-feira, 25, em Porto Velho, o maior arquivo da história sócio-política de Rondônia, além de ser um dos ícones da comunicação deste Estado, o professor Francisco Matias dos Santos, aos 67 anos.
Matias era um escultor de ideias. Professor, comunicador, historiador, analista político, “cantor, jogador de futebol”, como eu próprio costumava dizer em tom de brincadeira no programa a Voz do Povo, por ocasião de suas entrevistas.
A despeito da grandeza de seu talento e intelecto, era um homem simples. Na sua passagem por estes prados imensos, deixou um legado histórico excepcional e honrou-nos com sua presença.
Com olhos de “lince”, percorreu os nossos municípios desde sua criação, para recolher informações a fim de nos brindar com a profundidade de seu conhecimento com os livros: Pioneiros, Ocupação humana e política de Rondônia, Formação Histórica de Rondônia, Síntese da Formação Histórica de Rondônia e a Trajetória da Advocacia em Rondônia.
Que pena que Matias foi embora tão cedo, tinha muitos sonhos ainda a realizar, e agora, os seus 67 anos vividos, são apenas portos que ficaram para trás. Foi um homem de coração gigante e de nobres atitudes.
Dir-se-ia: Foi também um singularíssimo poeta amazônico, que chamava as castanheiras de irmãs e as seringueiras de mãe, essas árvores fantásticas que, parindo leite, sustentaram por décadas o povo desta terra e serviram de mote e reforço às histórias que contava.
Era meu grande parceiro na comunicação. Convidei-o várias vezes para os programas que apresento, porque sua presença me enchia de alegria e as entrevistas eram sempre joviais e rendiam grandes audiências. Foi o convidado com quem melhor me entendi na condição de entrevistador.
Quando provocado, sabia cada detalhe dos políticos, dos nomes de ruas do Estado, bairros e a história da sanha dos heróis que permitiram cada homenagem.
Eu até tentei várias vezes fazer pegadinhas ao vivo, mas perdia todas, ele matava a charada antes mesmo de que eu concluísse minha pretensão.
Jamais senti nele o espírito de revanche, de ódio, de divergências religiosas ou políticas, em essência foi um conciliador.
Sempre me fazia confidências quando contava suas lindas histórias e enumerava as cercas de arame farpado que transpôs e o triunfo de suas conquistas, todas patrocinadas pela sua inteligência.
Como dizia Victor Hugo, “A vida não é a vida que vivemos se não a honra e a glória construída”, e nesse quesito, nosso querido mestre Matias cumpriu com fidedignidade o papel que lhe coube no concerto social rondoniense.
O professor Matias, homem do meu tempo, na verdade não morreu, estará sempre entre nós pelo exemplo que deixou cristalizado em suas obras.
Seu último livro, por essas ironias do destino, ficou no prelo, “O Tratado de Petrópolis”, uma espécie de resgate histórico da sanha de Plácido de Castro, no Acre, e a intervenção pacificadora do Visconde de Rio Branco, com a República da Bolívia, na anexação da seara do território na Federação brasileira.
Tudo para dizer da grandeza e da sabedoria desse espírito de luz que nos deixou precocemente vitimado pela Covid 19.
Desde a década de 90 ele me substituía na apresentação dos Programas: A Hora do Povo na Rádio Rondônia, Ponto de Exclamação da Rede TV e a A voz do Povo nas Rádios Cultura e Caiari.
Quando se apresentava aos ouvintes dizia bem humorado: “Eu sou o professor Francisco Matias e hoje estou substituindo o titular do programa Arimar Souza de Sá”. E num misto de cultivo à nossa amizade e orgulho para nós, (eu e ele), completava: “Sou seu estepe de luxo” e os ouvintes adoravam.
Homens como o professor Matias merecem na lápide do seu túmulo palavras assim:
Aqui jaz um construtor de esperanças. Um homem simples que fez de seu ofício um sacerdócio e, com grandeza e sabedoria, contou as histórias de Rondônia e deixou o seu legado para as gerações vindouras.
Fica na paz de Deus professor, sua presença por aqui foi como a chuva molhando a terra e preparando-a para um novo renascer.
Amém!