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porto velho, terça-feira 1 de abril de 2025
BRASIL: A Páscoa de 2025 deve ficar mais cara após o preço do cacau quase triplicar nos últimos anos, reflexo da redução da oferta global em meio impactos climáticos nos campos de produção.
O preço referência do fruto negociado em Nova York disparou cerca de 180% desde março de 2023, saindo de aproximadamente US$ 2,9 mil a tonelada para mais de US$ 8 mil no fim da semana passada.
A valorização do cacau ocorre pelos desafios enfrentados por Gana e Costa do Marfim — responsáveis por 70% da colheita mundial —, com perdas de safra devido às mudanças no clima.
Segundo Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), o Brasil é um dos países diretamente afetados com esse movimento porque a produção nacional não atende a demanda, precisando importar, principalmente, dos países localizados no continente africano.
“O Brasil produz em média 190 mil a 200 mil toneladas ano. Só que a indústria moageira — que compra o cacau, faz os derivados e vende para a indústria chocolateira — processa em média 230 mil a 240 mil toneladas, explica.
E esse cenário pode não mudar em 2025 em meio ao clima seco na região. Losi destaca que a cultura do cacau é muito sensível e os países africanos não conseguem investir para renovar suas plantas, ficando mais suscetíveis a pragas.
O déficit na produção não é novidade, mas foi acentuado em 2024.
A cotação atingiu pico de US$ 12.565 em dezembro passado, justamente a época que fabricantes chocolateiros compram os insumos de produção dos seus itens para os próximos meses.
Dados da AIPC mostram que o recebimento das amêndoas de cacau recuou 18,5% no ano passado, de 220.303 toneladas em 2023 para 179.431 toneladas em 2024. A moagem também apresentou retração de 9,5%, puxado pelos resultados do último trimestre.
“Nos últimos dois trimestres [de 2024], temos verificado uma queda relevante na moagem de cacau no Brasil, sinalizando uma queda na demanda dos derivados, o que possivelmente é reflexo dos aumentos dos custos de produção, em razão das altas expressivas do preço da matéria-prima no último ano”, diz a associação.
Assim, a oferta de alguns produtos que dependem inteiramente do chocolate para sua produção, como os ovos de Páscoa, deve ser afetada.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), serão 45 milhões de unidades de ovos de chocolate no mercado nesta Páscoa, queda de 22,4% em relação ao mesmo período do ano passado.
E com uma oferta menor, somado às altas no cacau, os diversos itens de chocolate tradicionalmente comercializados neste feriado devem aumentar de preço.
Já os bombons têm um aumento de 13,5% e os ovos de páscoa avançaram 9,5%.
Segundo Anna Paula Losi, o setor chocolateiro tem evitado repassar o aumento dos custos para não afetar a demanda pelos itens de chocolate.
Buscar outras alternativas com novas matérias-primas ou inovar em novos produtos tem sido uma opção. Assim, em 2024, as exportações de derivados de cacau cresceram 6,2%, totalizando 50.257 toneladas, de acordo com a AIPC.
Além disso, estima-se que a indústria tenha produzido 803 itens diversos — sem contar ovos de Páscoa — nesses primeiros três meses do ano. No mesmo período de 2024, foram 611 unidades.
Contudo, esse movimento tem levantado questionamentos acerca da qualidade do chocolate vendido nos mercados e lojas.
Segundo Valter Palmieri Júnior, doutor em economia e professor da Strong Business School, a diminuição da oferta do cacau faz com que a indústria utilize outros ingredientes para fazer os produtos.
“O aumento do custo do cacau não significa que ele é repassado totalmente para o preço do chocolate. Os chocolates, lidos como de pior qualidade, tem 75% da fórmula que não é cacau. Talvez a gente sinta um aumento menor nos custos, mas a qualidade vai ficando pior”, diz Júnior.
Porém, os especialistas consultados pela CNN afirmam que o Brasil pode criar uma boa oportunidade a partir desse cenário global desafiador.
“Está existindo um esforço maior de produção nacional, porque as mudanças climáticas estão desfavorecendo a produção de cacau nos principais países produtores. Então, isso cria uma oportunidade para o produtor, mas acredito que haverá uma maior exportação”, diz Júnior.
Anna Paula Losi, da AIPC, espera que o país tenha uma produção maior este ano, indo de 170 mil toneladas em 2024 para 200 mil toneladas em 2025, mais ainda com um déficit na oferta — que não supre a demanda.