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porto velho, domingo 10 de novembro de 2024
Tite sabia da briga que estava comprando. Principalmente com a imprensa, ao nomear Matheus Bacchi seu auxiliar na seleção brasileira. Lógico que a palavra que mais ouviu foi "nepotismo".
A definição mais simples é alguém em cargo de chefia privilegiar um parente, em detrimento de outros profissionais que poderiam estar ocupando o cargo.
A CBF teve de alterar seu código de ética, que não permitia a contratação de parentes de nenhum funcionário.
Mas Tite já empregava Matheus no Corinthians e o chamou para auxiliá-lo em setembro de 2014. Seu filho é formado em ciência do exercício nos Estados Unidos. Antes de chegar ao Parque São Jorge, trabalhou como auxiliar do Caxias, clube que fica na cidade onde Tite nasceu. Além disso, foi jogador e treinador e tem importantes amigos na direção da equipe.
É inegável a influência de Tite na carreira do filho.
Para o bem, levando-o para o Corinthians, para a seleção e para o Flamengo.
Mas também para o mal. Quando fracassou, na segunda Copa do Mundo seguida, Tite "matou" o sonho de Matheus, que era assumir uma equipe, depois do Catar. O convite não surgiu.
Ele teve de seguir o período sabático do pai, até o convite do Flamengo.
Tite, como todo pai, valoriza o filho o mais que pode.
Vivido, o técnico sabia que tinha a atenção das câmeras de transmissão do jogo de ontem, quando o Flamengo ganhou do Bragantino e se credenciou na briga pelo título brasileiro. Ainda mais na hora do gol decisivo, de Arrascaeta.
Foi quando o treinador virou as costas para os jogadores que celebravam o importantíssimo tento.
E apontou para Matheus, gritando: "Foi tu!".
Ou seja, creditou o gol do Flamengo à orientação do filho nas substituições. No deslocamento de Bruno Henrique para a direita. Na coragem de Pulgar de invadir a área e servir o uruguaio para marcar.
O gol que faz o Flamengo brigar pelo título do Brasileiro, ficando a apenas dois pontos do líder, Palmeiras.
Não é a primeira vez que Tite arrasta os holofotes para o filho.
No gol de Casemiro, que deu a vitória ao Brasil contra a Suíça, na Copa do Mundo do Catar, ele fez questão de dar um beijo e um abraço no filho. Outra vez repassou a responsabilidade de um lance vitorioso a Matheus.
Pressionado por essa relação, Tite já disse que sua referência como treinador, Carlo Ancelotti, trabalha com Davide, seu filho, como auxiliar, no Real Madrid. Assim como Dorival Jr. com Lucas Silvestre, no São Paulo. Como Cuca fazia questão de ter Avlamir Dirceo Stival, o Cuquinha, seu irmão, nos clubes por onde passou.
Tite se permitiu falar à vontade sobre Matheus com a revista Placar antes do Mundial do Catar.
"Será que o Matheus aparece pouco por minha causa ou porque não é procurado devidamente para mostrar a formação profissional e universitária que teve, as experiências que ele teve? Talvez as pessoas o procurem. Qual é a função dele dentro da comissão [na Copa]? Precisei explicar qual era. [É o responsável] das bolas paradas, quem didaticamente te mostra com fotos ou num tablet os posicionamentos", questionava o técnico.
Quanto à qualidade de Matheus como seu auxiliar, não deixava dúvidas.
“É inevitável. Eu e ele temos uma situação muito tranquila. Ele vai carregar com ele o peso do pai que tem e eu, o do filho.
"É impossível médico ter filho médico bom? E o músico ter filho músico bom?
"O Matheus é bom pra cara...!"
"Não é pouco bom, não, ele é muito bom."
Durante a Copa do Catar, Matheus orientava jogadores que iriam entrar durante os jogos. Tite fazia questão de deixá-lo explicar a função tática que exerceria.
Ter Matheus ao seu lado foi uma das imposições de Tite para trabalhar no Flamengo.
Aos 34 anos, ele tem cada vez mais espaço nos treinamentos do clube.
O "foi tu" foi uma reação generosa de Tite ao filho.
Que ele sabia que não passaria em vão pela imprensa.
O técnico fez todos se lembrarem da importância do trabalho de Matheus.
Algo essencial e que virou destaque em todos os órgãos de comunicação.
Fez sua parte como técnico.
Mas também seria hipocrisia não ressaltar que também fez a de pai.
O valor verdadeiro de Matheus como auxiliar é impossível a imprensa avaliar.
Por um simples motivo.
Os treinamentos no Flamengo, como eram na seleção, são fechados.
Nenhum jornalista sabe com precisão o que Matheus faz.
Tudo fica por conta das declarações de Tite...