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porto velho, sábado 19 de abril de 2025
Os dias atuais têm sido pesados, tenebrosos à beça, nublados por polarizações, ruídos ideológicos ridículos e sentenças desumanas, em cujo ambiente o diálogo se esfarela e os afetos parecem adormecidos nos corações dos homens, sobretudo os detentores de poder.
Alheio a esse vendaval de intolerância e aos desertos emocionais da convivência moderna, um personagem improvável de quatro patas, de pelo cor de pôr do sol, profeta das calçadas do país, caminha entre os homens como quem distribui silêncio e paz: O CÃO CARAMELO, que tornou-se ícone nacional.
Com seu jeito simples e sorriso no olhar, ele é a flor que brota no asfalto quente da indiferença humana; ele é o abraço que não julgamos e por vezes nem aceitamos, o silêncio com seu abanar de rabo que consola...
Mais do que um simples animal de rua ou mascote popular, o vira-lata caramelo tornou-se um símbolo vivo do afeto desarmado desse país do faz-de-contas. Ele é, por assim dizer, o poema que caminha sobre patas, espalhando gentileza por onde passa, onde falta empatia.
Em um país tensionado por disputas e falta de Deus no coração humano, surge cão como um ponto de união — um abraço sem braços, uma prece sem palavras.
Fagueiro, essa figura improvável recentemente protagonizou uma cena inesperada durante uma cerimônia oficial em São Paulo.
Sem convite, sem protocolo, ele entrou no evento e, com o rabo abanando como seu apelo de ternura, recebeu o carinho do próprio governador Tarciso de Freitas em pleno desenrolar do evento. A imagem viralizou nas redes sociais, como se fosse um sopro de humanidade em meio ao concreto institucional e a falta de amor nos corações muitos, comum nos dias que correm.
Esses cães, frequentemente vítimas do abandono e do ‘sai pra lá’, carregam uma história de resiliência que ecoa com a de tantos brasileiros. Ainda assim, mesmo com cicatrizes na alma e no corpo, oferecem amor sem cobranças — como se a dor não os tivesse endurecido, mas amolecido o coração, a ponto de entraram de ‘bicão’ no evento governamental e ainda roubarem a cena.
Induvidosamente, hoje eles são faróis de ternura mesmo na dureza das ruas, nos lares e nos hospitais. Em escolas e casas de repouso, são terapeutas espontâneos, que curam com a presença e ensinam com o silêncio. São como guardiões invisíveis da alegria, devolvendo cor a ambientes acinzentados e desprovidos de afeto.
E não estão sozinhos! Os gatos também ‘aprontam’ das suas. Com seus passos leves e olhos de luar, também entregam carinho com a precisão de quem sabe o valor da espera. Um toque de cauda, um miado suave, um olhar demorado: tudo isso é declaração de amor sem alarde. São artistas da delicadeza, mestres do afeto escondido, ‘malandros’ esparramados no sofá de casa.
E quando falamos dos cães-guia, falamos de anjos disfarçados de bichos, que emprestam seus olhos, seus instintos e sua coragem para conduzir vidas. Cada passo ao lado de seu dono é um pacto silencioso, uma dança entre confiança e amor. Eles são, literalmente, a luz que caminha diante da escuridão dos olhos de seus tutores.
O cão caramelo é isso: uma lembrança viva de que o amor ainda habita o mundo — mesmo quando o mundo insiste em esquecê-lo.
Ele é o amigo que não julga, o consolo que não fala, o afeto que não pede nada em troca, nem quando adentra a eventos quando não foi convidado.
Quiçá, se escutássemos mais os latidos do coração, e menos os gritos das vaidades, perceberíamos: a salvação começa onde mora o amor descomplicado, rodeado de simplicidade.
E esse amor, hoje, tem quatro patas, um olhar doce e o pelo cor de esperança: é o cão caramelo com o qual cruzamos frequentemente pelas ruas de Porto Velho, sem nos darmos conta de multiplicar a lição e o gesto dados pelo governador.
É TEMPO DE REFLEXÃO!
AMÉM!