Fundado em 11/10/2001
porto velho, sábado 26 de abril de 2025
Os piratas da bandeira vermelha demoraram dois anos e quatro meses, mas voltaram como previsto. Desta vez, foram ao cofre do INSS e saquearam os aposentados impiedosamente. E a instituição que deveria ser um santuário de proteção, virou um covil.
E o pior é que, o apetite deles represado nesse período, veio com a volúpia da fome da onça do pantanal quando destroçou o corpo do pobre caseiro.
Em decorrência, no amanhecer do dia 23, a pátria já não encontrou seus velhos pioneiros de cabeça erguida. Encontrou rostos cansados, olhos sem brilho e almas saqueadas por dentro e por fora. Revelou-se, diante de nós, a verdade que envergonha e sangra: o Estado brasileiro não protegeu seus aposentados. Na verdade, vendeu-os como gado a preço baixo no mercado da corrupção, e ainda fez abatimento.
Senão vejamos: Nesse covil, durante cinco anos — um quinquênio de falta de ,vergonha — os mercadores do erário solaparam seis bilhões e trezentos milhões de reais das mãos frágeis daqueles que, um dia, ergueram com seus calos este chão de promessas não cumpridas. Deus meu! Cada centavo furtado não foi apenas dinheiro mirrado: mas também a esperança triturada de quem carregou o Brasil nos ombros até a exaustão.
Ora, o INSS, instituição que deveria ser muralha de amparo desses velhinhos, converteu-se em moinho de carne humana na velhice. Operado por criminosos de colarinho branco, essa gente sem qualificação, triturou sonhos e reduziu biografias inteiras a estatísticas frias e pó. Assinaturas falsas, descontos ocultos, filiações fantasmas: um labirinto de mentiras construído com o rigor dos canalhas e a paciência dos traidores do suor alheio.
Como resposta, o Estado, cúmplice ou cego por conveniência, lançou um único peão ao sacrifício: exonerou o presidente do INSS, como quem lança um osso à matilha para distrair sua fúria - e a justiça, sequer, falou de prisão.
Não obstante, todos sabem, que as raízes do mal não se arrancam com gestos simbólicos, demagogia e pirotecnia. A podridão é profunda, está espraiada pelos corredores do poder como erva venenosa e vinha sendo conduzida sem dó, por criminosos contumazes e conhecidos mercadores do erário.
Esta fraude, penso, não foi um acidente arquitetado por um dos tripulantes desse barco já furado. Foi um projeto. Um projeto de abandono, de exploração, de assassinato da confiança pública. Não há como dourar a pílula: o Brasil, em sua apatia, permitiu que seus anciãos fossem entregues aos carrascos e apenas um deles pagou com a exoneração. Isso é muito pouco se considerarmos que a moça do batom pegou quatorze anos de cana por pichar a estátua da justiça.
Como visto, caso é sério e dá margem a grandes reflexões até mesmo de qualquer filósofo de mesa de bar, no auge do prazer etílico, perguntar entre umas e outras para o colega de copo: O que é um país que devora os seus velhos senão um cemitério de futuro?
Que civilização é essa que, ao invés de honrar seus construtores, arranca-lhes as vísceras, as últimas moedas, e sua própria dignidade?
Este crime, induvidosamente, é de natureza gravíssima e não se lava com palavras ocas nem com investigações tíbias, pois não é um mero assalto à previdência; é um atentado contra a alma nacional. É a assinatura rasgada do contrato social. É a pátria cuspindo no seu próprio espelho.
Imagino que a maioria da população brasileira que ainda carrega vergonha na face e fogo no peito, não deve aceitar que essa tragédia seja engavetada como mais uma nota de rodapé da infâmia. Cada responsável, cada cúmplice, cada espectador omisso, deve ser chamado à luz e cobrado diante da história com os rigores da lei.
Porque cada idoso lesado é uma pátria mutilada. Cada fraude ignorada é uma vergonha que se eterniza. Cada omissão é uma pá de terra sobre o suor dessa gente que pavimentou os caminhos para chegarmos até aqui.
O Brasil precisa de justiça — com justiça. Portanto, que se devolva até o último centavo roubado. Que se julgue e se puna, exemplarmente, cada lacaio desse sistema abjeto.
Que se reconstrua o INSS como um templo de respeito, e não como um matadouro de esperanças. E que a velhice, enfim, não mais seja tratada como fardo ou estatística, permitindo que os construtores deste país sejam descartados como entulho humano e saqueados à luz do dia -- em pleno descanso do fim da vida.
Que assim seja!
AMÉM!