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porto velho, quinta-feira 5 de junho de 2025
Muito antes de ser Costa Marques, cujo 38º aniversário de instalação do município é lembrado em 1º de fevereiro, a prata boliviana era a moeda corrente na fronteira brasileira com a Bolívia. A data faz parte do calendário de feriados municipais da Casa Civil do Governo do Estado de Rondônia. Só se falava português no barracão de Balbino Antunes Maciel, ou melhor, em sua própria família, porque os próprios empregados só se entendiam em castelhano.
Barracas ou barracões – alguns assobradados – eram moradias dos seringalistas da época. Salas de visitas tinham paredes forradas de chita e eram regularmente mobiliadas, não faltando retratos, grandes espelhos e relógios.
O município instalado em 1983 tem atualmente cinco mil habitantes, fica distante 708 quilômetros de Porto Velho, e homenageia o lendário político Manoel Esperidão da Costa Marques. Nascido em Poconé (Pantanal mato-grossense), ele era um homem estudioso do Vale do Guaporé, onde identificou rios, córregos, ilhas e população nos lados brasileiro e boliviano.
Diversos aspectos da história desse município e da região fronteiriça no Guaporé estariam perdidos nos escaninhos da história, não fosse o estudo (incluindo diários de viagens) que já faz parte do Acervo Digital da Câmara dos Deputados, em Brasília, cujo original a Superintendência Estadual de Comunicação (Secom) acessou esta semana.
O trabalho de Costa Marques tem 123 anos e se denomina: Região occidental de Matto Grosso – Viagem e estudos sobre o Valle do Baixo Guaporé: da cidade de Matto Grosso ao Forte Príncipe da Beira.
[No final desta matéria publicamos parte dos levantamentos, com a atual ortografia da língua portuguesa].
Era o tempo do ouro, disperso pelos afluentes do Rio Guaporé; da baunilha, copaíba, erva mate, poaia, salsaparilha, tocary, e sobretudo da seringueira, chamada de l’arbol del oro pelos bolivianos.
No início dos anos 1900, Manoel da Costa Marques constavava “120 almas” no Barracão de Militão Fernandes Leite, denominado Ilha das Flores;
80 no Barracão de Felippe Nery da Trindade e seus vizinhos, nos Morrinhos;
110 no Barracão do boliviano Agápito Añes, nas Pedras Negras, e de Manoel Bento;
30 no Barracão Dois Irmãos e Quebra-Bote;
120 no Barracão de Balbino Maciel e seus abonados;
80 no Barracão Bella Vista, de Frey y Landivar;
80 no Barracão Mateo-há, do Dr. Emílio Pena;
20 no Barracão de Eugenio Gomes de Santana;
150 nas diversas barracas na ilha de São Simão;
400 no Barracão de Versalhes de Cueller & Mansilla; e
80 em pequenas barracas dispersas, somando “890 almas”, mais “500 que aparecem na época da safra”, totalizando 1.850.
Na região só liam os jornais La Ley, de Santa Cruz de La Sierra, La Democracia, de Trinidad (capital do Departamento do Beni), La Voz de Itenez e El 10 de Abril, de Magdalena (capital da Província de Itenez), e La Gazeta del Norte (de Riberalta). Este último, segundo relato de Costa Marques, chamava o Brasil de “China da América do Sul”.
Em síntese: bolivianos eram bem superiores aos brasileiros do velho “Matto Grosso” (Vila Bela da Santíssima Trindade), que se estendia até a barranca do Rio Madeira, na antiga cidade de Santo Antônio. Foi em 20 de janeiro de 1906 que o coletor de impostos e expedicionário mato-grossense se hospedou, com malária, na casa do desbravador Francisco Chianca. Costa Marques resistiu mais de 40 dias e morreu em 18 de abril de 1906.
Consta que as conversas de Costa Marques tanto impressionaram Chianca que ele mudou o nome de Porto São Domingos para Porto Costa Marques. Outro lendário personagem regional, o bispo francês de Guajará-Mirim, então Monsenhor Francisco Xavier Rey, escolheu 20 de janeiro como dia do padroeiro de Costa Marques, São Sebastião.
Conforme o estudo guardado no Acervo Digital da Câmara dos Deputados, no século XVII havia na foz do Rio São Domingos, no Guaporé, uma povoação chamada Palmella, onde se instalara a Missão São José. O nome fora escolhido por um comerciante de Cuiabá, devido aos índios que habitavam a região. Os Palmella viviam aldeados no centro, a quatro léguas do ponto do antigo destacamento das Pedras Negras.