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porto velho, segunda-feira 10 de fevereiro de 2025
MUNDO: O assassinato do candidato à eleição presidencial do Equador, Fernando Villavicencio, da aliança política Construir, tornou ainda mais difícil a leitura do cenário eleitoral do país. O crime mudou o cenário político, tornou descartável os resultados das últimas pesquisas de intenção de votos realizadas anteriormente e pode gerar uma reviravolta no 1° turno, previsto para o próximo dia 20.
“No momento, não é claro que algum dos candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de votos captem os eleitores de Villacencio e tenham probabilidade claras de vencer já no primeiro turno”, aponta a analista de risco para o Equador, Laura Lizarazo, da Control Risks. “Outro fator é que o candidato que substituirá Villavicencio ainda não foi nomeado”.
O candidato estava em segundo lugar em uma das principais pesquisas de intenção de votos e era conhecido por fazer oposição ao ex-presidente Rafael Correa, atualmente asilado na Bélgica, e captava votos sobretudo entre os detratores do Correísmo.
“A aliança de Villavicencio terá, obrigatoriamente, que nomear um candidato, o que pode gerar uma reviravolta nas eleições, contrariando as pesquisas que apontam González [candidata do Correísmo] como líder nas intenções de votos”, diz.
A leitura da analista é que se antes havia falta de informação sobre os candidatos, suas propostas e, até mesmo, sobre as datas das eleições, hoje não há mais. A expectativa é que, com a cobertura massiva do assassinato de Villavicencio, os equatorianos compareçam em peso à votação, como uma clara resposta à onda de violência que vive o país.
Conforme revelou Lizarazo, cerca de 65% dos cidadãos sequer sabiam quando seria realizado o primeiro turno das eleições, e seguiam indecisos.
“É uma situação de reversão de cenário, o que pode fazer com que a população – preocupada com os altos números de desemprego, informalidade e violência – compareçam em peso na votação, já com um candidato em mente”, explica.
Para ser eleito(a) já no primeiro turno, o candidato ou a candidata à Presidência precisa de mais 50% de todos os votos válidos no primeiro turno, ou 40% dos votos válidos com uma diferença de 10% em relação ao segundo mais bem colocado na corrida presidencial. Caso ocorra um 2° turno (15 de Outubro), vence as eleições o candidato que obtiver mais votos (maioria simples).
As últimas pesquisas apontavam Fernando Villavicencio entre os quatro mais bem colocados, ao lado de Luisa González (Revolução Cidadã e candidata do Correísmo), Otto Sonnenholzner pela aliança Vamos Agir e Yaku Pérez, pela coligação Claro que é Possível.
Em 20 de julho, a Cedatos, empresa de pesquisa aprovada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador, apontou que a candidata do Correísmo continuava a liderar as pesquisas de intenção de votos, com 26,6%, seguida por Villavicencio (13,2%), Pérez (12,5%) e Sonnenholzner (7,5%).
Na mesma pesquisa, disseram que votariam nulo 16,1% dos entrevistados, não souberam ou não quiseram responder 7,6% dos entrevistados e votariam em branco 2,6%. A pesquisa foi realizada com 1.300 pessoas em 34 localidades desde urbanas, rurais, de serra, costeira e amazônica. Atualmente, o Equador tem uma população estimada em 17,8 milhões de pessoas.
No entanto, em uma pesquisa realizada pelo Centro de Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag), Villavicencio estava na quarta posição, após a média de três pesquisas apontar que ele tinha 8% das intenções de votos, enquanto González seguia na liderança, com média de 30% da intenção de votos, seguida por Sonnenholzner (13%), segunda posição, e Pérez (11%), terceira posição.
Os números, conforme explicou o professor do Instituto de Altos Estudos Nacionais (IAEN) do Equador e cientista político, Diego Pérez Enríquez, eram uma mostra do quão indecisos e desesperançosos seguiam os eleitores equatorianos com a política do país, sobretudo, após o período de Rafael Correa na presidência, de 2007 até 2017.
“Não podemos nos esquecer que Correa teve a seu favor um bom momento, com o preço do barril do petróleo elevado, uma boa relação com o legislativo, com 100 aliados dos 137 deputados na câmara”, diz o cientista político, ao acrescentar que os governos do ex-presidente Lenín Moreno e do atual mandatário, Guillermo Lasso, são similares no que concerne a um estado com pouca capacidade de gestão e com alto nível de endividamento público.
Outro desafio determinante que se coloca diante dos candidatos à presidência e, especialmente, à Luisa González, é a profunda divisão existente no país entre os detratores de Rafael Correa e aqueles que o apoiam (comportamento muito similar à polarização em torno da imagem do presidente Lula, no Brasil). Com o assassinato de Villavicencio, há dúvidas sobre como se comportarão os eleitores, especialmente, os detratores de Correa.
Enríquez relembra que a leitura era que esse grupo votaria no candidato que tivesse mais chances de evitar a volta do Correísmo, atualmente encabeçado por González. “A prova disso foi a vitória de Lasso que foi eleito em torno da sua imagem pessoal, sem uma plataforma tradicional de eleitores e sem uma longa carreira política, com o intuito de impedir o regresso do Correísmo”.
O atual mandatário não está participando dessas eleições e ainda não declarou apoio a nenhum candidato.
Atualmente, o país ao oeste da América do Sul vive um processo político turbulento, somado a uma crise econômica e onda de violência, agravadas após o presidente em exercício, Guillermo Lasso (Movimento Acredito), decretar a dissolução da Assembleia Nacional e, assim, antecipar as eleições para o Legislativo e Executivo do país.
O dispositivo é previsto no artigo 148° da constituição equatoriana e denominado por especialistas como “morte cruzada”, já que tanto os deputados federais e o presidente perdem os seus cargos, com a diferença que os parlamentares perdem o posto imediatamente, enquanto o chefe do executivo se mantém no poder, governando por decretos leis até a realização de novas eleições.
Entretanto, apesar de previsto em lei, o uso do mecanismo gerou polêmica entre os equatorianos, uma vez que o ex-banqueiro e conservador enfrenta acusações de corrupção e, no congresso do país, já aconteciam reuniões sobre um possível pedido de impeachment do presidente.