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    porto velho, quinta-feira 17 de abril de 2025

CIA revisa autorização para usar força letal contra cartéis de drogas no México

Agência americana analisa implicações legais e riscos de possíveis operações em meio a pressões do governo Trump...


CNN

Publicada em: 08/04/2025 10:59:13 - Atualizado

MUNDO: A CIA está revisando autorizações para usar força letal contra cartéis de drogas no México e além, enquanto o governo Trump busca tornar o combate aos cartéis uma prioridade importante para a agência de inteligência, segundo com um funcionário dos EUA e três pessoas informadas sobre o assunto.

A revisão não indica que o Presidente Donald Trump tenha ordenado à CIA que tome ação direta contra os cartéis.

Mas ela foi projetada para auxiliar a agência a entender quais tipos de atividades poderia legalmente realizar e quais seriam os riscos potenciais em todas as opções, disseram as fontes — ressaltando o quão seriamente o governo Trump está considerando a possibilidade.

Isso também destaca as preocupações de alguns funcionários americanos de que usar ferramentas tradicionais de contraterrorismo contra cartéis — como o governo Trump disse que pretende fazer — carrega um risco muito maior de danos colaterais a cidadãos americanos do que operações similares conduzidas no Oriente Médio, longe do solo americano.

Entre as questões que os advogados da agência estão examinando está a responsabilidade da CIA e de seus oficiais se um americano for acidentalmente morto em qualquer operação, segundo uma das pessoas informadas.

Os funcionários da agência estão “cautelosos” sobre usar “recursos tradicionalmente direcionados ao que eram vistos como alvos militares, sendo agora empregados contra alvos de cartéis”, relatou um deles.

Guerra contra os cartéis

O governo Trump designou no início deste ano vários cartéis como organizações terroristas estrangeiras — uma manobra que alguns funcionários atuais e ex-funcionários americanos acreditam ser projetada para construir um precedente para ação letal — e a CIA já está voando drones de vigilância que podem ser armados sobre o México.

A CNN não conseguiu determinar se o esforço foi ordenado pela Casa Branca ou pelo Diretor da CIA John Ratcliffe, ou se foi realizado como uma medida prudente de planejamento pela equipe da agência em resposta a sinais claros do governo Trump de que quer que as agências de segurança nacional aumentem a pressão sobre os cartéis.

“Se qualquer administração está nos pressionando a fazer algo que tem potenciais ramificações adversas significativas para a agência, [a CIA] vai querer verificar duas e três vezes: ‘É legal?’” e “Temos uma direção política extraordinariamente clara para fazer o que vamos fazer?”, falou um ex-funcionário da CIA com experiência em construir esse tipo de revisão.

“Só porque algo é legal sob [a lei do conflito armado] não significa que é algo que você deva fazer”, continuou, referindo-se aos protocolos que regulam a conduta dos estados durante a guerra. “Há um componente ético. Há um componente prático. Há um componente pragmático.”

A CIA tem a autoridade legal para conduzir ataques letais por conta própria ou fornecer informações de alvos, ou outro suporte para que outra nação realize um ataque letal, desde que seja devidamente autorizado pelo presidente e siga a constelação interligada de leis e regulamentos dos EUA que governam conflitos armados.

Mas fazer isso contra atores de cartéis em uma área onde há, comparativamente, muito mais cidadãos nascidos nos EUA e portadores de green card — pessoas que podem ter legitimidade para processar o governo dos EUA se forem prejudicadas — é algo novo para a agência.

“Não é uma questão de se eles podem ou não usar força letal. Eles podem”, pontuou uma das pessoas informadas sobre a revisão. “É mais sobre as implicações de americanos serem potencialmente feridos ou mortos com base em sua presença mais ampla no espaço.”

Possíveis consequências de ações com drones

Danos colaterais também poderiam ter repercussões em qualquer nação parceira que permita que a CIA conduza ação direta dentro de suas fronteiras ou que aceite suporte de inteligência da agência para conduzir suas próprias operações letais, observou o funcionário americano.

Se o suporte da CIA criar um problema político para a nação parceira — o México, por exemplo — seu governo poderia se recusar a permitir que a agência opere lá no futuro.

Ex-funcionários também alertaram sobre os riscos de retaliação por parte dos cartéis, alguns dos quais mantêm presença dentro dos Estados Unidos.

“Os cartéis mexicanos não são meramente organizações criminosas; eles operam como entidades paramilitares com profundos recursos financeiros, cadeias de suprimentos globais e redes logísticas sofisticadas que se estendem aos Estados Unidos”, escreveu Doug Livermore, um especialista em guerra irregular e ex-funcionário do Departamento de Defesa, em um estudo recente para o Atlantic Council, um think tank de assuntos internacionais.

“Eles são altamente propensos a retaliar” e “possuem uma capacidade substancial para terrorismo que, quando combinada com sua presença estabelecida dentro dos Estados Unidos, poderia escalar o conflito.”

Uma das pessoas informadas sobre a revisão disse que ela refletia uma profunda memória institucional do programa de “interrogatório aprimorado” do governo George W. Bush, que legisladores e o governo Obama posteriormente consideraram como tortura.

Nesse caso, segundo ex-funcionários, a agência levou suas operações ao limite do que acreditavam que a lei poderia suportar. Críticos, naturalmente, afirmam que a agência e a administração foram além do que era legal, e nos anos seguintes, a CIA e seus oficiais passaram por uma série de investigações públicas e de alto perfil sobre a adequação de suas ações.

Este tipo de revisão, segundo pessoas informadas sobre o assunto, reflete um entendimento de que a agência pode ser chamada a prestar contas por qualquer ação que tome contra cartéis — especialmente se houver retaliação.

E principalmente se a agência conduzir operações que sejam consideradas desproporcionais à ameaça dos cartéis — critérios fundamentais que a ação letal deve atender sob a lei dos conflitos armados.

A avaliação anual de ameaças da comunidade de inteligência dos EUA, publicada no mês passado, começou com a ameaça dos cartéis de drogas, aparentemente pela primeira vez nos quase 20 anos de história do relatório.

No entanto, muitos funcionários atuais e antigos da segurança nacional argumentaram repetidamente que, embora os cartéis sejam um problema sério, eles não representam uma ameaça existencial ao país.


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