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porto velho, terça-feira 16 de dezembro de 2025

MUNDO: O presidente Donald Trump exerceu uma enorme pressão tanto sobre o Hamas quanto sobre Israel para que os dois lados aceitassem a primeira fase de um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Mas um fator, em especial, foi essencial para o sucesso do acordo: a decisão de Trump de confrontar diretamente o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de forma inédita.
Até poucas semanas atrás, o republicano vinha dando praticamente carta branca para as ações israelenses em Gaza, argumentando que “Israel tem o direito de se defender”. Essa também foi a postura de Joe Biden quando ocupava a Casa Branca
Mas a situação mudou bruscamente após um episódio que irritou profundamente a Casa Branca: uma operação secreta das forças israelenses para assassinar líderes do Hamas exilados em Doha, capital do Catar — país aliado dos Estados Unidos e mediador central nas conversas de paz.
Segundo fontes diplomáticas em Washington, o ataque, que resultou em seis mortes, incluindo integrantes das forças de segurança do Catar, foi a gota d’água para Trump.
O presidente considerou a ação uma afronta direta à autoridade americana e ao equilíbrio frágil das negociações conduzidas com apoio do Catar e do Egito – especialmente porque os israelenses não informaram os americanos antecipadamente sobre o ataque, como normalmente fazem em casos parecidos.
O isolamento internacional de Israel, cada vez mais evidente, também pesou.
Em apenas duas semanas, vários países europeus — incluindo aliados importantes de Israel, como o Reino Unido e França — reconheceram oficialmente o Estado da Palestina.
E, em um gesto simbólico que repercutiu globalmente, centenas de delegados deixaram o plenário da ONU durante o discurso de Netanyahu na última Assembleia Geral.
Depois de tudo isso, Trump resolveu agir.
Fontes próximas ao governo americano chegaram a dizer que, após uma conversa tensa na Casa Branca, logo depois do discurso na ONU, o presidente americano deixou claro a Netanyahu que o apoio militar e diplomático dos EUA não seria ilimitado.
O recado foi reforçado quando ele exigiu que o premiê israelense telefonasse pessoalmente ao primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, para pedir desculpas pelo ataque em Doha.
Paralelamente, o líder americano aumentou a pressão sobre o Hamas.
O tom, nesse caso, foi público e explosivo: o presidente ameaçou “obliterar completamente” o grupo caso não libertasse imediatamente os reféns israelenses e estrangeiros e não se comprometesse a depor as armas — algo que o Hamas ainda não aceitou fazer.
As pressões deram resultados e a intervenção direta de Trump também restaurou parte da credibilidade dos Estados Unidos como mediador, enfraquecida após anos de alinhamento automático com Israel.
Mas os riscos continuam altos. O Hamas ainda não aceitou depor as armas nem abrir mão de controle político sobre Gaza, e facções mais radicais dos dois lados podem tentar sabotar o acordo – como já aconteceu nos dois acordos de cessar-fogo anteriores.
Pelo lado israelense, o risco principal é representado pelos políticos de ultra-direita e ultra nacionalistas. Esses grupos defendem abertamente a anexação total da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, em desafio à comunidade internacional.
Prometem, inclusive, deixar o governo de Netanyahu caso o Hamas não seja completamente destruído no campo de batalha.
Por enquanto, o cessar-fogo representa apenas uma pausa precária em uma guerra que devastou Gaza e isolou Israel.
Mas a decisão de Trump de mudar o tom e cobrar responsabilidade de ambos os lados criou, pela primeira vez em meses, uma esperança de que a paz possa voltar à região.