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Com dólar mais barato, mercado clandestino prolifera na Argentina

Com dólar mais barato, mercado clandestino prolifera na Argentina


Notícias ao Minuto

Publicada em: 30/10/2019 13:29:42 - Atualizado


As medidas tomadas pelo Banco Central argentino após confirmada a vitória do kirchnerista Alberto Fernández nas eleições presidenciais conseguiram baixar o dólar oficial, que fechou na segunda-feira (28) em 63,45 pesos e, na terça-feira (29), em 63,50 pesos.

 Na última sexta-feira (25), pré-eleição, havia subido a 65 pesos e causado uma correria dos argentinos aos bancos para sacar de suas contas em dólares.

O que não se pôde segurar nem com a nova regra -a de que não se pode comprar mais de US$ 200 por mês- e nem com as injeções de reservas no mercado foi o chamado "dólar blue", que se encontra agora na casa dos 80 pesos.

Na Argentina, é assim que se denomina o mercado paralelo de dólar clandestino, trocado em locais chamados de "cuevas" -casas de câmbio que operam fora da lei-, ou pelos "arbolitos" -vendedores que ficam nas ruas ou que podem ser chamados por telefone, conhecidos como "arbolitos delivery".

Durante os anos da gestão de Mauricio Macri, em que a diferença do oficial para o "blue" foi, em geral, pequena, eles tiveram uma baixa na procura, mas não muita.

"Quem troca comigo confia, e o faz porque não quer realizar operações que fiquem registradas, que vão parar na Afip (receita federal). Além disso, trocar no 'blue' sempre dá uma diferença a mais se a quantidade for grande", diz o cambista Andrés (nome fictício), cuja "cueva" funciona numa loja de pacotes turísticos no bairro da Recoleta, em Buenos Aires.

Em tempos em que a diferença entre o dólar oficial e o "blue" é muito alta, como durante a gestão de Cristina Kirchner (2007-2015), as "cuevas" e os "arbolitos" se multiplicam. Muita gente vira cambista porque é um bom negócio. Estão em todos os lados: são donos de mercearias, motoristas de táxi. E quem não tem o seu logo consegue um contato de um conhecido.

Os cambistas clandestinos acordaram felizes na segunda, dia em que o valor do dólar "blue" ultrapassou os 80 pesos. Gabriela (nome fictício), 59, que tem cinco apartamentos num condomínio do bairro de Colegiales, disse que vai trocar os dólares do aluguel de um deles por pesos assim que receber, em novembro.

Na Argentina, a quase totalidade das transações imobiliárias, de aluguéis temporários a compra de imóveis, é feita em dólar, em espécie. É praticamente impossível encontrar quem aceite uma transferência bancária. Até porque, mesmo em tempos de certa calmaria econômica, que são raros, os argentinos preferem armar suas poupanças em casa mesmo, em dólar, em cofres ou fundos de gaveta. É o chamado "colchón bank", ou "banco do colchão".

"Vou correndo trocar no 'blue', antes que baixe. É a chance de ter mais lucro neste mês. Em tempos de tanta inflação, faz muita diferença trocar por 80 pesos do que por 63,50 pesos", disse Gabriela.

Martín, 22, um "arbolito delivery", trabalha numa "cueva" na Plaza San Martín e é o responsável por fazer as entregas nas casas dos clientes mais fiéis da casa.

Chega em moto, toca a campainha e sobe. Veste-se de modo simples, e, nesses dias de início de primavera, anda de bermuda e camiseta. Sem mochila, sem bolsas, nada que possa fazer desconfiar que leve algo de valor.

Quando entra na casa do cliente, apenas pede que se confirme o valor acertado. Abaixa-se, tira um maço grande de pesos de cada uma das meias que veste e conta o dinheiro na frente do cliente. Recebe os dólares, e volta a amarrar nas pernas com elástico, antes de subir a meia.

"Volto sempre por um caminho diferente do que vim, e lá no escritório revezamos as motos. Mais do que isso, não tomamos outras precauções, vamos na sorte mesmo", ri.

Porém, a facilidade de ter acesso aos pesos trocados no dólar "blue" não ajudam a baixar a inflação; ao contrário. Em pouco tempo, em situações passadas, os preços nos supermercados costumam aumentar porque se sabe que ninguém está trocando seus dólares no mercado oficial, e sim no paralelo.

"Vamos remarcar os preços ainda nesta semana. Tudo o que não estiver no Precios Cuidados (plano do governo que congela preços) vai ter de subir, porque não podemos desvalorizar a mercadoria. Já está difícil manter o comércio aberto com os custos que gera", diz Samuel, o dono de um açougue no bairro da Chacarita.


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