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porto velho, quinta-feira 31 de julho de 2025
A entrada em vigor, no próximo dia 1º de agosto, de novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros acendeu o sinal vermelho no setor empresarial do Brasil. Mas, enquanto empresários pressionam por diálogo diplomático para evitar perdas bilionárias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido uma postura firme — e silenciosa — diante do governo americano. Segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, Lula não pretende fazer qualquer contato com o presidente Donald Trump, “por orgulho”.
A declaração informal, feita nos bastidores por interlocutores de Lula, caiu como uma bomba entre líderes do setor produtivo. A avaliação no meio empresarial é de que o orgulho presidencial está custando caro ao Brasil, justamente num momento em que seria essencial abrir canais de diálogo para frear as medidas protecionistas dos EUA, que afetam diretamente as exportações brasileiras de aço, alumínio, produtos agrícolas e até setores industriais de alto valor agregado.
Empresariado vê risco de prejuízo bilionário
Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) alertam que o impacto das tarifas pode gerar perdas que ultrapassam os R$ 10 bilhões anuais. “O presidente tem todo o direito de manter sua posição política, mas ignorar o cenário global por orgulho pessoal é irresponsável. Os empregos e a competitividade da indústria brasileira estão em jogo”, declarou um empresário do setor de exportação de minério, sob condição de anonimato.
Há também uma preocupação generalizada com a possível deterioração da relação comercial com os Estados Unidos, que seguem como o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Orgulho ou soberania?
Para aliados do governo, a decisão de Lula tem mais a ver com vaidade e menos com uma questão de soberania nacional. “O presidente não aceitará ser pressionado”, comentou um assessor do Planalto. Lula tem reiterado que pretende fortalecer relações com outros blocos econômicos, como União Europeia, China e Mercosul, minimizando a dependência dos Estados Unidos.
No entanto, críticos apontam que a postura diplomática do presidente está isolando o Brasil de negociações importantes. A maioria dos países afetados pelas medidas de taxação norte-americanas já iniciou diálogos com o governo de Trump ou mantém canais abertos com o entorno, buscando acordos de isenção ou redução tarifária.
Clima de tensão entre Planalto e setor privado
O impasse tem alimentado um clima de tensão entre o governo federal e os empresários, que cobram uma postura mais pragmática e menos ideológica. “Se não houver uma sinalização rápida de reaproximação com os EUA, vamos começar a ver demissões, fechamento de fábricas e retração nos investimentos”, afirmou um executivo da indústria automobilística.
Enquanto isso, a diplomacia brasileira segue em compasso de espera. Sem previsão de qualquer aceno direto a Trump — ou mesmo do governo norte-americano —, o Planalto se arrisca a enfrentar uma crise comercial sem precedentes recentes.
A escolha de Lula em não estabelecer diálogo com Donald Trump, mesmo diante de um cenário comercial desfavorável, acirra o debate entre orgulho político e responsabilidade econômica. Para o empresariado, o preço da postura do presidente pode ser alto demais — e pago em empregos, investimentos e competitividade. A partir de 1º de agosto, quando as tarifas entram em vigor, o Brasil sentirá os primeiros impactos práticos dessa queda de braço silenciosa entre orgulho pessoal e interesses nacionais.