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Crônica de Fim de Semana: PETIÇÃO PROSAICA - por Arimar Souza de Sá


Publicada em: 06/10/2018 18:19:42 - Atualizado

Crônica de Fim de Semana

PETIÇÃO PROSAICA

-  Arimar Souza de Sá

EXCELENTÍSSIMOS SENHORES CANDIDATOS AO GOVERNO DE RONDÔNIA,


Nós, os sem nome, os sem cara, filhos natos ou adotivos de Rondônia, e que hoje fazemos parte do CONESC - Conselho Nacional dos Esquecidos - vimos à presença de V. Exªs expor, para ao final requerer, o que adiante se segue:

DOS FATOS:

Com a devida vênia e fazendo a justa ressalva ao conhecimento da realidade estadual de que todas Vossas Excelências são (ou devem) ser conhecedores, Rondônia, quiçá uma das partes mais esquecidas do país em questões relacionadas a políticas públicas, submeteu-se, ontem e hoje, ao sistema predatório selvagem...

Aqui, senhores, derrubaram, em nome do “progresso”, árvores seculares, como o mogno, o cedro, a castanheira, a seringueira, a maracatiara... Mataram as garças e os mutuns de várzea e a ira foi tão grande que, até hoje, em certos meses do ano, mata-se até a luz do sol, escurecendo o mundo rondoniense de tanta fumaça, nesse brutal compartilhamento da vida.

Permissa vênia, é justo lembrar, digníssimos, que as primeiras manifestações econômicas de Rondônia foram a extração de borracha nativa, a cata da castanha, da poaia e do caucho.

O homem rude do nordeste veio em eito, sem jeito, só com peito e raça, alguns até sem razão e outros sem destino, e cravaram indelevelmente seus registros na história dessas plagas, transformando-se, mais tarde, em soldados da borracha.

Com a faca na mão, poronga na cabeça, espingarda atravessada no peito, saco às costas para o transporte de leite nos ínvios caminhos das matas, eles incursionaram os primeiros lampejos de uma tragédia anunciada. Dessangrando as árvores com cortes profundos, não as deixavam nem gemer de dor, posto que, parindo a seiva, pensavam estar dando amor, em troca dos golpes lancinantes.

Depois, os do sul, sem piedade, retiraram-nas do solo, para dar vez ao capim na formação de pastos. Pobres seringueiras, nossas mães primeiras, que sangraram para os louvores de uma guerra alhures encetada. Mãe seringueira nossa, nós te saudamos na contemplação do tempo...

Com a instalação do Estado, senhores candidatos, a predação das madeireiras devastou o nosso reino selvático. Os reis do garimpo, por sua vez, deram também sua nefasta contribuição, contaminando os rios com a cata do ouro de aluvião. Extraíram do subsolo a cassiterita e, enfim, como os corsários do mar, levaram, num período curtíssimo de 40 anos, as nossas riquezas naturais, extraídas do ventre da terra, arrastando, no vendaval do tempo, os emblemas do ambiente selvático, como as sucuris, cobras-papagaias, surucucú-pico-de-jaca, o macaco gogó-de-sola, a onça pintada, a preta, a vermelha, o macaco sauim, o macaco prego...

E o pior, excelências, como aqui se pensa sermos terra de ninguém, ainda implantaram duas usinas hidrelétricas no rio Madeira, deixando como prêmio os estragos no meio ambiente e a deterioração na vida urbana de Porto Velho, a mudança do regime de chuvas, o inchaço nos hospitais e na criminalidade – e de quebra, pasmem, senhores, a energia mais cara do Brasil!

Mas, senhores, respectavenia, com as graças a Deus, por força de sobrevivência estamos inaugurando um novo ciclo. Cursos superiores proliferam na capital e em todo o Estado, sendo a única coisa positiva no universo da Educação, porque o IDEB por aqui parece que deu adeus e foi residir em Sobral, no Ceará.

A saúde, o ensino básico e a violência, senhores candidatos, são fenômenos dos aglomerados urbanos, e estão aí a nos afligir. A capital não tem esgoto, áreas de lazer, tratamento de lixo, uma rodoviária e um porto de atracação decentes, bem como um Centro de Eventos. Os cemitérios são verdadeiras lástimas e morrem mais,  e a violência banalizou a vida.

DO DIREITO

Concessa Venia, inobstante as mazelas e malezas existentes, nesse momento crucial para a sociedade rondoniense, muitos se perguntam:  "aonde estão nossos governantes, que não veem tudo isso?".

Inegável que, enquanto candidato, o futuro governante vê tudo isso sim. E temos a certeza que tem boa intenção quando registra sua candidatura, quando visita cada um dos lares, quando participa de cada debate e quando cobre de tapinhas cada ombro eleitor; porém, a problemática costuma surgir a posteriori, fazendo, destarte, surgir entidades como o ora Requerente, o CONESC, para incitá-los ao cumprimento do dever governamental.

Na sociedade rondoniense de hoje, é absurdo prometer, e não cumprir. Não à toa, conforme narração fática acima descrita, ela foi vilipendiada e quedou submissa às promessas vistosas, porém vagas e vãs no quesito implementação.

Nesse interim, desnecessário invocar o texto constitucional e tampouco a legislação local, posto que as normas estaduais de regência devem estar imbricadas na conduta de cada um dos postulantes, visto que, como se sabe, ninguém pode governar desconhecendo e tampouco negando vigência às normas legais; nem mesmo invocar doutrina ou jurisprudência convergente ao cargo honrado que Vossas Excelências postulam.

E nesse quesito, data máxima vênia, dispensável demonstrar que em Rondônia, a sociedade atual é composta de povo ordeiro e trabalhador e possui o desejo sincero de contribuir para que as promessas de campanha possam se concretizar, sem olvidar, no entanto, que, a fiscalização popular tem se elevado, mutatis mutantis, à verdadeira co-participação, cânone que doravante deve ser entendido em seu sentido latu, pois as redes sociais e o acesso à informação em geral, têm cada vez mais transformado os governados de meros espectadores à diligentes inspetores, vigias da res pública.

Impende relembrar aos ilustres postulantes da cadeira do Palácio, que os governadores aqui instalados, após o Teixeirão, governaram sem planejamento, e registramos, para infelicidade nossa, muitos dos representantes nas câmaras legislativas presos e, o pior, contumazes, isto é, não arrependidos.

DOS PEDIDOS

Ex positis, considerando toda a argumentação fática e de direito acima exposto, é a presente para requerer:

a) Faz-se mister que os senhores venham para governar Rondônia com a consciência de que já basta! Deem um ponto final à tortura das queimadas, sabendo que, aqui, o valor econômico está nas florestas em pé que ainda nos restam;

b) Troque, o que for eleito para governar Rondônia, as palavras matar, destruir, pilhar e roubar, pelos verbos criar, planejar, construir, fincar raízes, apontando para um futuro de  pleno e sustentável desenvolvimento;

c) Que vossas excelências, data máxima vênia, tenham bem mais vergonha na cara que os atuais e, se eleitos, coloquem no frontispício de seus gabinetes a seguinte frase: sejam bem vindos: estamos aqui para servi-los!;

d) Que se projete e prepare Rondônia para os próximos vinte anos, e com suas ações façam impregnar o Estado do contagiante entusiasmo pelo desenvolvimento agroindustrial, com exportação de nossos produtos para os 150 milhões de consumidores dos países andinos, produzindo uma verdadeira revolução comercial, numa espiral crescente de emprego e renda;

e) Que o Estado não mais assista passivamente os bancos destinarem os recursos públicos apenas para a construção de postos de gasolina e farmácias, e que a diversificação seja o lema: em economia diz-se que é autofagia esta forma do Estado gerar concorrentes num mesmo lugar com os recursos públicos.

f) Que se dê vigor às forças de segurança, com treinamento em estratégia de inteligência, melhorias nas condições salariais de policiais civis e militares, aquisição de equipamentos e armamentos modernos e viaturas para controlar e combater com a devida firmeza o crime que incomoda e oprime as famílias;

g) Que se fortaleça a escola pública, capacitando de forma continuada os professores, restabelecendo entre o alunado o valor do respeito humano a todos – sem priorizar o homossexualismo e sua nuances, como impôs o PT com a sua “ideologia de gênero”;

h) Que se restaure os sentimentos de ordem, zelo, disciplina e patriotismo, eliminando, ainda, com o vigor necessário, os pontos de venda de drogas nas portas das escolas e incutindo na mente paterna  a obrigatória vigilância sobre o rendimento escolar de seus filhos;

i) Ao derradeiro, que cuidem do nosso querido Estado de Rondônia, tal como gostariam que sua própria família fosse cuidada: com carinho, respeito e dignidade.

REQUERIMENTOS FINAIS

Diante do exposto e, por ser de interesse público, nós, do Conselho Nacional dos Esquecidos, rogamos a atenção de vossa excelências que, uma vez eleitos, assumam o seu dever cívico de gerir a construção de uma sociedade mais organizada, mais justa e fraterna, onde o Estado e seus gestores não busquem o  poder, pelo poder, no afã de se locupletar à custa da dor e do suor do povo rondoniense, mas ao contrário, resgatem o bem comum, produzindo, com inteligência, competência  e honestidade, reais oportunidades de uma vida digna, plena,  para todos....

Termos em que,

Respeitosamente,

Pedimos deferimento

ITA SPERATUR JUSTITIA !  (*)

(*) Assim se Espera Justiça

Porto Velho, sábado, 06 de outubro de 2018

ARIMAR SOUZA DE SÁ

Advogado OAB-RO 1515/CONESC


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