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porto velho, terça-feira 26 de novembro de 2024
BRASIL -Carrapatos são artrópodes da classe Arachnida, como as aranhas e escorpiões, que têm como hospedeiros diversas espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos. São conhecidas cerca de 900 espécies no mundo divididas em três famílias: Ixodidae, Argasidae e Nuttallielidae. No Brasil, são descritas
cerca de 70 espécies, divididas nas famílias Argasidae e Ixodidae.
Os carrapatos são capazes de transmitir agentes causadores de doenças, como vírus, protozoários e bactérias. Um exemplo é a febre maculosa, doença causada por bactérias do gênero Rickettsia, transmitidas por meio da picada principalmente do carrapato-estrela.
No Brasil, os principais vetores e reservatórios são os carrapatos do gênero Amblyomma, tais como A. sculptum (ou A. cajennense), A. aureolatum e A. ovale. Entretanto, potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode ser reservatório das riquétsias, agente causador da febre maculosa, de acordo com o Ministério da Saúde.
Os equídeos, roedores como a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), e marsupiais como o gambá (Didelphis sp) têm importante participação no ciclo de transmissão da febre maculosa.
“Há estudos recentes sobre o envolvimento destes animais como amplificadores de riquétsias, assim como transportadores de carrapatos potencialmente infectados”, diz Fernando Gatti de Menezes, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
Quando se trata de uma doença transmitida por carrapatos, uma das preocupações mais comuns diz respeito à possibilidade de transmissão pela espécie que afeta os cachorros.
A espécie de carrapato que parasita cães é chamada Rhipicephalus sanguineus, que abriga um complexo de espécies de ampla distribuição pelo mundo. Duas espécies desse grupo são encontradas no Brasil, uma mais restrita ao Rio Grande do Sul e outra de ampla distribuição pelo restante do país. As espécies foram introduzidas no continente com a colonização e se expandiram a partir de modificações ambientais causadas pela ação humana.
Nesse contexto, o R. sanguineus é um carrapato associado ao cão e principalmente ao ambiente domiciliar. O ciclo de vida acontece no ambiente de descanso do hospedeiro, o que dificulta a presença da espécie em ambientes verdes, como matas, campos ou gramados. As infestações ambientais ocorrem em áreas mais secas como abrigo de cães, canis, pet shops, garagens, alpendres ou camas, no caso de animais que dormem com os tutores.
Em publicação que descreve os aspectos epidemiológicos, clínicos e ambientais da febre maculosa, o Ministério da Saúde destaca que nunca foi relatada a transmissão de agentes da doença por R. sanguineus no Brasil. No entanto, a participação do carrapato do cachorro na epidemiologia da infecção deve ser monitorada.
No México, por exemplo, essa espécie de carrapato está associada a epidemias de febra maculosa em humanos. Além disso, ela já foi relatada como vetor da Rickettsia rickettsii nos Estados Unidos e no Panamá.
“De forma muito relevante é o carrapato que vive em maior contato com o ser humano e, experimentalmente, é capaz de transmitir a bactéria. No Brasil, a infecção por riquetsias de R. sanguineus de uma população domiciliar ou ainda de um canil poderia ocorrer pela alimentação em cães com riquetsemia, ou coalimentação com carrapato do gênero Amblyomma infectados. Em ambos os casos o cão terá que ter tido acesso às matas em área endêmica”, destaca trecho da publicação do ministério.
A transmissão de doenças para seres humanos ocorre pelo acesso a ambientes adequados ao carrapato vetor. O que pode acontecer de forma direta – como a presença do ser humano no ambiente específico – ou indireta – quando o carrapato é levado ao domicílio por animais como cães ou, ainda, em roupas e objetos.
“Potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode ser reservatório de riquétsias. Os equídeos, roedores como a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), e marsupiais como o gambá (Didelphis sp) têm importante participação no ciclo de transmissão da febre maculosa e há estudos recentes sobre o envolvimento destes animais como amplificadores de riquétsias, assim como transportadores de carrapatos potencialmente infectados.
O ministério destaca que os carrapatos da maioria das espécies morrem nas áreas domésticas bem mais rápido do que no ambiente de origem, em torno de horas a dias diante do potencial de meses. No entanto, nesse período de vida, mesmo que mais curto, podem picar os humanos.
O controle do carrapato pode ser feito por manejo ambiental, desejável em áreas com acesso público. O cuidado pode ser feito pela eliminação de ambientes adequados ao carrapato ou, ainda, pelo controle ou impedimento de acesso das populações de hospedeiros que os alimentam. Em ambos casos, a sobrevida de populações de carrapatos no ambiente é atingida, mas em um processo lento que pode demorar meses antes de se perceber um declínio gradativo.
Em áreas endêmicas em que o controle dos carrapatos vetores não é possível, o acesso humano deve ser restrito e os perigos e forma de proteção contra carrapatos alertados.
Animais como capivaras e cavalos são considerados sentinelas em áreas de risco para a febre maculosa. O cão também pode ser um animal de extrema importância para compreensão da epidemiologia, bem como na prevenção de zoonoses transmitidas por carrapatos.
O ministério destaca que o exame dos animais em áreas sob avaliação indicará muitas das espécies de carrapatos prevalentes na região, assim como a exposição a riquétsias por meio da sorologia.